terça-feira, 30 de dezembro de 2008

In The New Year



Ainda tô devendo listas sobre os melhores filmes do ano, mas logo após voltar da minha viagem (curtinha) pretendo atualizar esse blog aqui. As da melhores músicas e discos também, mas certamente vão ser prejudicadas porque tem muitas coisas que eu ainda quero ouvir (e só não fiz isso até agora porque meu mp3 quebrou - tem uma pilha acumulada aqui).

Enfim, até lá, fiquem aí com um clipezinho da melhor musica do ano, que ainda não decidi se é realmente esperançosa ou é um simplesmente um delírio bêbado. E Feliz Ano Novo pra vocês, é claro!

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Dois Filmes de Jim Jarmusch

Primeiramente, vão me desculpando a falta de atualizações (apesar de eu achar que realmente ninguém se importa), e o pior de tudo é que dessa vez é por descaso mesmo, já que atualmente tenho tempo livre de sobra. Tô vendo muitos filmes e vou tentar deixar de preguiça e escrever sobre o que eu tenho (re)visto dos Irmãos Coen e do Billy Wilder. Enquanto isso, coloco aqui dois textos que havia feito já há algum tempo, mas só agora passei a limpo.

Dead Man (1995)


É um típico filme do Jim Jarmusch, com a diferença de vir transvertido de western, o que certamente só melhora a experiência de vê-lo. O ritmo lento e pausado que caracterizam a obra do cineasta se encaixa muito bem dentro desse gênero, mas os seus elementos são reconstruídos de modo que possam adentrar melhor no universo jarmuschiniano: o protagonista vivido por Johnny Depp, assim como o John Lurie de Estranhos no Paraíso ou o Bill Murray de Flores Partidas, se encontra completamente desorientado, uma pessoa ainda à procura de um lugar, perdidos em um ambiente desconhecido. Com o passar do tempo, Dead Man também ganha uma conotação mística, especialmente devido ao personagem do índio, cuja construção passa longe do convencional (é um homem solitário e que ajuda o protagonista a ganhar um maior conhecimento espiritual). É uma espécie de jornada existencial e também um trabalho bastante atemporal: não parece de modo algum ter sido feito em 1995, mas também passa longe de ser um faroeste dos anos 40/50. Deve estar perdido em um lugar qualquer, assim como todos os heróis de Jim Jarmusch.

Down By Law (1986)

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Down by Law confirma qual é o verdadeiro foco e principal obsessão do cinema de Jim Jarmusch: contar estórias sobre desajustados. Por isso mesmo se aproxima bem mais de um Estranhos no Paraíso (um belo filme, mas um tanto decepcionante - e acabou não ganhando foco nesse texto porque já o vi há bem mais tempo que esses outros dois) do que de um Dead Man, que, como disse acima, vem embalado de filme de faroeste. Por outro lado, são dois trabalhos que se aproximam bastante devido àquela atmosfera meio lírica (não sei se esta é a palvra correta, mas enfim...). Os personagens mais uma vez se encontram perdidos em uma América desolada, homens solitários buscando o "lugar certo"; são autênticos "rain dogs", "outsiders" por excêlencia (talvez por isso mesmo que a escolha do genial - tanto como músico quanto como ator - Tom Waits para viver um dos protagonistas é mais do que acertada).

Possui certas irregularidades no ritmo, mas nada de imperdoável: a primeira meia hora é toda muito boa (assim como a linda sequencia de abertura com Jockey Full of Bourbon, uma das minhas canções favoritas de Waits), mas o filme cai um pouco na parte seguinte, nas primeiras cenas na prisão, recuperando-se de vez com a entrada de Roberto Benigni, ator que geralmente acho insuportável, mas que aqui possui uma performance genial, memorável (pode não ser a alma de Down By Law, mas certamente é o coração). E é mais ou menos a partir da famosa cena do "We All Scream for Ice-Cream" (que devidamente recebeu um post só dela), quando a química entre os atores já parece consolidada e quando a relação entre filme-espectador já é completa, Down by Law se torna pra mim um daqueles filmes que te deixam totalmente absorvidos em todo aquele universo criado, uma sensação de bem-estar muito rara de se sentir (especialmente na vida real, é claro).

Para completar, temos ainda uma bela trilha sonora composta por John Lurie, também interpretando um dos papéis principais, fotografia lindona de Robby Muller, colaborador de Jarmusch em outros filmes como Estranhos no Paraíso, e um plano final que é realmente perfeito.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Cláudio Assis

Amarelo Manga (2002)
Baixio das Bestas (2007)



É muito provavelmente o mais polêmico cineasta brasileiro em atividade, seja pelo forte conteúdo de seus filmes ou pelas suas declarações (algumas estúpidas, outras hilárias – talvez justamente por serem estúpidas) em público. Somente isso já seria suficiente para coloca-lo na lista de cineastas mais interessantes (o que não significa que ele seja necessariamente bom) do atual cenário brasileiro, independentemente da qualidade de seus filmes (ou da falta dela). Amarelo Manga e Baixio das Bestas tem tantos detratores como defensores, mas é bom observar que existe uma linha tênue que os separam. Ambos podem até pertencer a um tipo de cinemas extremo, que buscam “ultrapassar os limites”, mas a abordagem dos fatos não é tão parecida assim.


Amarelo, sua estréia, funciona como uma alegoria, com alguns personagens que parecem saídos de algum sonho maluco (ou de Trópico de Câncer, do Henry Miller – especialmente naquela parte sensacional em que dois personagens chegam na “casa de loucos”), assumidamente caricatos. Retira o humor (por vezes doentio) do grotesco, criando um retrato realmente singular do brasileiro médio, com uma representação extremamente viva e pulsante do cotidiano. Talvez seja justamente essa irreverência que o distancie do Baixio das Bestas, que entra mais no território da denúncia barata. As caricaturas, agora, parecem ser levadas a sério, como se esta fosse o relato mais fiel da “realidade” (até personagens falsamente ambíguos, como o avô – que reclama da falta de moral do mundo ao mesmo tempo em que explora sua filha (e neta, diga-se de passagem) – acabam se revelando apenas extremamente rasos). Todo o discurso soa apenas reducionista, simplificado e limitado, especialmente ao retratar a classe média. O choque é fácil e toda a sua linguagem me parece mais infantil do que “revoltada”.

Agora, o meu maior interesse é saber qual e como será o próximo passo de Assis. Mas há também a grande possibilidade dele morrer de cirrose antes que esse dia chegue.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Oscar 2010

Se tudo ocorrer como o esperado, alguém mais duvida que o Oscar de 2010 será disputado por estes dois filmes? Dois gigantes (Spielberg mais pelo nome, na verdade) filmando dramas biográficos sobre dois importantíssimos presidentes norte-americanos (podendo dar o primeiro Oscar do Di Caprio, aliás - assim como o do Neeson).

Mas, em compensação, toda a corrida para o prêmio seria bem menos emocionante que a desse ano ou a do ano anterior...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Sobre as Indicações do Globo de Ouro



Pois é, hoje pela manhã foram anunciados os indicados ao Globo de Ouro, e, mesmo que o prêmio já não seja mais um grande termômetro para o Oscar, o completo fracasso de Milk aqui, que ficou apenas com uma indicação para o Sean Penn em Ator-Drama (aliás, os cinco concorrentes dessa categoria tem grandes chances de serem os mesmos do Oscar - talvez saindo Di Caprio para a entrada de Clint), pode de certo modo influenciar negativamente, apesar de que não se pode de modo algum descartá-lo. Talvez seja o filme de Van Sant o Na Natureza Selvagem desse ano, ao contrário do que disse no post abaixo, já que Slumdog Millionarie (que ficou mesmo entre os indicados de Filme-Drama e não os de Comédia/Musical, como eu pensava - o mesmo aconteceu com O Casamento de Rachel, o que muito provavelmente o prejudicou) confirma seu favoritismo (assim como Benjamin Button - com Revolutionary Road e Frost/Nixon demonstrando serem também fortes concorrentes). Gran Torino (indicado apenas em Canção), The Wrestler (que, suspeito, não entrará na categoria principal do Oscar) e Doubt também foram excluídos, sendo que esse último entrou em outras 5 categorias (emplacando inclusive duas atrizes coadjuvantes); nenhum deles, no entanto, pode ser deixado de lado. Outra surpresa foi a inclusão do novo filme do Stephen Daldry, The Reader, do qual eu nem sabia da existência, crescendo também para o Oscar.

Agora, fiquei muito feliz em ver que não só o Robert Downey Jr. como também o Tom Cruise foram lembrados pelo Trovão Tropical, e a sua exclusão na categoria principal de Comédia-Musical e a entrada de Mamma Mia! me deixa um pouco perplexo. Aliás, nessa categoria me surpreendeu também a ausência de Wall-E, com In Bruges também concorrendo (assim como Collin Farrel e Brendan Glesson em Melhor Ator, a categoria mais louca desse ano), sendo que o favorito me parece ser mesmo o filme de Mike Leigh, Happy Go-Lucky, que possivelmente levará também para casa o prêmio de Melhor Atriz para Sally Hawkins.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Globo de Ouro 2008



Ao que tudo indica, a corrida para o Oscar desse ano será tão emocionante e divertida de se acompanhar como a do ano passado. Já começam a ser divulgados os prêmios que são os principais termômetros pra a premiação, como o National Board of Review, e nesta quinta saem os indicados para o Globo de Ouro. Pensei em fazer uma lista de apostas para todas as categorias, mas é um prêmio tão abrangente que realmente fica difícil prever os indicados em cada umas das categorias.

Pra filme-drama tenho quase toda a certeza de que o número de indicados excederá (e muito, talvez) o número convencional, de cinco filmes, algo que acontece com bastante freqüência na premiação, ainda mais em um ano como esse, com inúmeros filmes disputando a vaga na categoria. Temos Milk, do Gus Van Sant (com Sean Penn e Josh Brolin com grandes chances de ganhar indicação, The Wrestler, de Darren Aronofski, O Curioso Caso de Benjamin Button, do David Fincher, Gran Torino, do Clint (esse, pode ter certeza, ainda vai crescer muito), além de outros muito cotados, como Revolutionary Road, novo do Sam Mendes, Batman (acho que todo mundo já viu pelo menos o trailer, né?), o maior engodo do ano, Doubt, baseada em peça vencedora do Pulitzer, Frost/Nixon, do Ron Howard (que deve ganhar pelo menos uma indicação para Frank Langella). Com isso, diminuem quase que completamente as chances (que para mim nunca existiram) de Austrália ganhar uma vaga, visto o seu fracasso de crítica e, principalmente, de público.

Outros dois fortíssimos concorrentes acho que poderão ser enquadrados na categoria de comédia-musical, até para que suas chances aumentam: O Casamento de Rachel, do Jonathan Demme, e Slumdog Millionare, do Danny Boyle, que fica cada vez mais forte com o passar do tempo, especialmente após vencer o NBR (mas tenho que admitir que ele me cheira a Na Natureza Selvagem). Wall-E muito provavelmente ganhará sua vaga, sendo também um concorrente de peso, além de outros que ao meu ver possuem bastante chances, como Vicky Cristina Barcelona (Penélope Cruz ao menos é nome certo – talvez a grande favorita a atriz coadjuvante no momento), Queime Depois de Ler (adoraria ver pelo menos o nome de Pitt entre os indicados), The Visitor, do mesmo diretor de O Agente da Estação e torço para que Trovão Tropical e Robert Downey Jr. concorram.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Filmes de Novembro

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Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992, Paul Verhoeven) - * * * *
Snow Angels (2007, David Gordon Green) - * * *1/2
Amarelo Manga (2002, Cláudio Assis) - * * *1/2
Prazeres Desconhecidos (Ren Xiao Yao, 2002, Jia Zhang-Ke) - * * *1/2
Uma Garota Dividida em Dois (La Fille Coupée en Deux, 2007, Claude Chabrol) - * * *1/2
Quantum of Solace (2008, Marc Forster) - * *
007 Contra o Satânico Dr No (Dr. No, 1962, Terence Young) - * * *
Vicky Cristina Barcelona (2008, Woody Allen) - * * *1/2
Arca Russa (Russkiy Kovcheg, 2002, Aleksandr Sokurov) – * *1/2
À Meia Noite Levarei sua Alma (1964, José Mojica Marins) – * * * *
Guerra Conjugal (1975, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *1/2
Os Inconfidentes (1972, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *
La Belle Personne (2008, Christophe Honoré) – * * * *
Beijo na Boca, Não (Pas Sur la Bouche, 2003, Alain Resnais) – * * *
Elogio ao Amor (Éloge de L'amour, 2001, Jean-Luc Godard) – * * * *1/2
Ei, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan in Real Life,2007, Peter Hedges) – * * *1/2
O Conformista (Il Conformista, 1970, Bernardo Bertolucci) - * * * *

sábado, 29 de novembro de 2008

Para Fábio Assunção

Deu meia noite, a lua abre um claro
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
A aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, viu?
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, tá?
Muita gente desconhece
A lua é clara, o sol tem rastro vermelho
É o lago um grande espelho onde os dois vão se mirar
Rosa amarela quando murcha perde o cheiro
O amor é bandoleiro, pode inté custar dinheiro
É fulô que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, viu?
Todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, tá?
Todo mundo quer cheirar

Na Asa do Vento,
de Caetano Veloso (escrita por João do Vale e Luiz Vieira). Dedicada também a Maradona e a todos os políticos desse nosso Brasil.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

La Belle Personne

(2008, Christophe Honoré)

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Se comparado aos seus dois trabalhos anteriores, La Belle Persone, novo filme do Christophe Honoré, exibido no Festival Varilux de Cinema, pode até parecer impessoal (algo que não é, de modo algum), mas talvez seja não apenas o seu melhor filme até agora como também é o seu trabalho mais sóbrio, maduro, conciso e regular (pra calar a boca de quem acreditava que ele é um diretor de meros pastiches). Curiosamente, o que me vem a cabeça quando penso no filme não é mais Truffaut ou Rohmer, ou qualquer outro cineasta da nouvelle vague, como acontecia com o Canções de Amor e Em Paris, e sim o cinema do Valério Zurlini. Não saberia explicar exatamente o por quê dessa lembrança, mas talvez seja o fato de que La Belle Personne é um filme totalmente centrado em uma observação de gestos e olhares, retirando seus mais belos momentos de cenas muito simples (Junie lendo a tradução de um texto em italiano ou a cena em que ela descobre a carta). Honoré parece observar e estudar todos os jovens em cena (aliás, é o seu trabalho que mais se aproxima do universo adolescente), criando uma cumplicidade enorme que já é muito comum de encontrar em seus trabalhos. Segue a linha de uma história de amor clássica e trágica (não à toa inspirado em um livro escrito no século XVII), que usa e abusa de Nick Drake, o que, aliás, é um golpe baixo (meio difícil não gostar de um filme que se encerra Way to Blue, maravilhosamente utilizada em uma das cenas finais mais bonitas do ano). Tem também um Louis Garrel menos irritante do que o de costume, no seu papel mais corajoso e adulto até o momento, e uma atriz principal que justifica totalmente o título.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Dois Filmes de Albert Lamorisse

O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956)
O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953)

AVISO: Alguns spoilers no parágrafo sobre O Balão Vermelho.

Desconhecia completamente o nome de Albert Lamorisse antes de que começasse a ser exibido pelo Brasil as cópias de dois famosos médias-metragens, ambos premiados em Cannes e que funcionam muito bem como sessão dupla (o modo como tem sido exibidos, aliás), especialmente devido a proximidade entre seus temas, com ambos tecendo um retrato muito delicado do universo infantil.

Em O Balão Vermelho, palma de ouro em 1957 (e que serviu de inspiração para o novo filme do Hou Hsiao-Hsien, A Viagem do Balão Vermelho), acompanhamos a rotina de um garoto com o objeto-título, incitando a inveja de seus colegas de classe e a ira de certos adultos. Impressionante como Lamourisse consegue retirar tanto lirismo e poesia do cotidiano, dando ao balão quase vida própria. A herança direta do cinema mudo aqui é bem evidente, visto que é um trabalho que guarda toda a sua força no poder visual, sendo nesse sentido ainda assim muito sóbrio, simples, sem firulas ou exageros. No modo como trabalha o humor, lembra demais o cinema do Jacques Tati, com um lado cômico baseado em tiradas clássicas, chaplinianas. Além disso, tem pelo menos umas três cenas brilhantes, que muito filme com o triplo da duração não consegue produzir: o encontro com o garoto do balão azul; a “morte” do balão vermelho; e o final, com a viagem de todos os balões da cidade, um momento que parece retirado do imaginário infantil.

Já O Cavalo Branco, ganhador do Grande Prêmio do Júri de Cannes em 53, não conseguiu me envolver ou me emocionar tanto quanto o do balão, talvez por se esgotar mais rapidamente e por não possuir tantos grandes momentos como o seu sucessor. Resta, de qualquer modo, um trabalho de interesse, criando uma espécie de elogio à liberdade, algo que tanto os dois personagens principais pretendem alcançar (algo que também é representado pela cena final do “Balão Vermelho”). Aqui, vemos um cavalo que, sempre que é caçado pelos homens da região, acaba conseguindo fugir, despertando a atenção e o fascínio de um garoto, que consegue domá-lo e que vira seu companheiro. Novamente, há a força estética (um cenário quase que completamente branco), também com poucos diálogos, mas dessa vez há uma narração em off, que dá um tom fabuláico à obra, mas que também me parece desnecessária. Se beneficia por também se encerrar de uma maneira linda.

sábado, 15 de novembro de 2008

Novo Mundo

(Nuovomondo, 2006, Emanuele Crialese)



Respiro já era um belo filme, mas, mesmo que Emanuele Crialese já demonstransse ser um talento promissor, não espearia que seu filme seguinte fosse tão maravilhoso como esse Novo Mundo. Há uma evidente compaixão e afeto por todos aqueles personagens ao mesmo tempo confusos e fascinados por todas as aparentes oportunidades que o tal mundo novo permite. É um projeto bastante pessoal e sempre muito delicado, feito sob as perspectivas dos imigrantes. A maturidade do cineasta é algo que realmente surpreende, não apenas no lado dramaturgico como também do técnico: poderia cair muito bem no mero exibicionismo, como ocorre com diversos trabalhos de estrutura parecida (tipo Flanders, do Bruno Dumont), mais lentos e conteplativos, mas o que Criasele demonstra é ao mesmo tempo virtuosismo e segurança, nos apresentando imagens puras, cristalinas. Dois belos exemplos de seu talento nessa área: o plano em que mostra a partida do navio, um dos momentos mais embláticos do filme, quando os viajantes rompem de vez (ao menos fisicamente) os laços com suas raízes; a outra é aquela espécie de visão geral do "hospital", ao som de "I'm Feeling Good", uma parte muito curta, mas que chama bastante a atenção. Interessante também notar que Novo Mundo se distancia muito do melodrama convencional, especialmente em umas passagens surreais, como as do legumes gigantes ou o banho de leite (algo que me lembrou, aliás, de Em Busca da Vida, do Jia Zhang-Ke, outro grande filme). Cena final também é de uma beleza
extraordinária.

sábado, 8 de novembro de 2008

A Promessa

(La Promesse, 1996, Jean-Pierre & Luc Dardenne)



Jean Pierre & Luc Dardenne parecem fazer cinema com um principal (único?) objetivo: a de nos apresentar pequenas estórias sobre pessoas comuns vivendo situações extremas, fazendo um estudo detalhista e objetivo sobre seus personagens, e sempre com uma câmera que faz questão de estar próxima a eles, de não perder um gesto ou um olhar. Alguns, no entanto, podem afirmar que a dupla se repete, que se entrega a fórmulas; sim, talvez eles estejam certos, já que as semelhanças existentes entre "A Promessa", "A Criança" e "O Filho" (os que vi deles; falta apenas Rosetta - e não gostei desse último da primeira vez que o vi, e obviamente tenho que revê-lo) estão longe de ser poucas: além de atenderem à "regra" que citei no início, todos estes três nos apresentam conflitos que se relacionam a pai e filho: em "A Criança", o pai adolescente precisa amadurecer para cuidar do filho recém-nascido; em "O Filho", um pai se confrontava com o assassino de seu filho. Mas o que torna cada filme especial é como e sobre qual prisma eles decidem explorar a situação.

Em "A Promessa" (e agora paro com as comparações e falarei mais sobre o filme em questão, prometo), filho (Jérémie Renier, protagonista de "A Criança") e pai (Olivier Gourmet, de O Filho) trabalham com o negócio de imigrantes ilegais, até que um dos "empregados" morre acidentalmente, e é nessa hora que o filme "explode" (essa introdução seguida de algo que mudará a vida dos personagens é bem típica deles também). O que sempre é explorado, desde o início, é a cumplicidade existente entre o pai e o filho; a todo momento os Irmãos Dardenne se interessam por construir um panorama geral desta relação (o trabalho em conjunto, as brigas, mas também os momentos de amizade, etc.) e, após o tal acontecimento, nos mostra a decomposição dessa cumplicidade, devido especialmente ao choque de interesses. E é aí que "A Promessa" se aproxima muito do principal tema de "A Criança" (foi mal, voltei às comparações): o amadurecimento. O personagem do filho, para tentar cumprir a promessa feita ao empregado pouco antes deste morrer, precisa assumir responsabilidades e contrariar ordens do pai para cumprir esse objetivo (e até abre mão das brincadeiras com seu kart). Essa trajetória é contada sempre de modo cru e sufocante pelos irmãos, sem se utilizar de nenhum tipo de trilha sonora, e extraindo atuações bastante naturais de todo o elenco, provando que às vezes uma câmera na mão e uma idéia na cabeça pode ser suficiente. E o modo como decidem finalizar esta pequena grande estória traz uma mensagem implícita: a de que, mesmo que tenham parado de acompanhar a vida daqueles personagens, a vida deles continua.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Filmes de Outubro

Vão me desculpando pela ausência de quase duas semanas (apesar de que não tenho uma desculpa considerável a dar - é só descaso mesmo). Acho totalmente normal que um blog vá perdendo a força com o tempo, ainda mais quando o seu dono é uma pessoa inconstante e indisciplinada (como, err... eu). Escrevi muito pouco nesses dias, mas é uma atividade que quero manter como uma das minhas prioridades (não por obrigação, mas sim porque é algo que me faz bem mesmo). Os filmes também foram poucos, mas isso está sendo comum ultimamente, infelizmente (se bem que, ao que tudo indica, Novembro pode ser diferente, já que assisti a três - o por quê de não escrever sobre eles é algo que eu também me pergunto). Enfim, vou parar de frescura, segue a lista:

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Os Anjos Exterminadores (Les Anges Exterminateurs, 2006, Jean-Claude Brisseau) - ****
Cleópatra (2008, Julio Bressane) - ***1/2
c. O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956, Albert Lamorisse) - ****
c. O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953, Albert Lamorisse) - ***
c. A Propósito de Nice (À Propos de Nice (1930, Jean Vigo) - ****
c. Taris ou a Natação (Taris, Roi de L'eau, 1931, Jean Vigo) - ***1/2
c. Zero em Comportamento (Zéro de Conduite: Jeunes Diables au Collège, 1933, Jean Vigo) - ****
Stroszeck (1977, Werner Herzog) - ****
Canções de Amor (Les Chansons D'Amour, 2007, Christophe Honoré) - ****
O Segredo do Grão (La Graine et le Mulet, 2007, Abdel Kechiche) - ***
Rebecca (1940, Alfred Hitchcock) - ***1/2
As Luzes de um Verão (Mua he Chieu Thang Dung, 2000, Anh Hung Tran) – ***1/2
Rebobine, Por Favor (Be Kind Rewind, 2008, Michel Gondry) – **1/2
Baixio das Bestas (2007, Cláudio Assis) - **

sábado, 25 de outubro de 2008

Rebobine, Por Favor

(Be Kind, Rewind, 2008, Michel Gondry)

Jack Black and Melonie Diaz in New Line Cinema's Be Kind Rewind

No total é um filme extremamente irregular e até inócuo, mas é meio difícil não se divertir. É um trabalho de uma piada só que parece ir se esgotando com o tempo, além de que às vezes parece que é mero veículo para Gondry exercitar suas obssessões, que em momentos parece mais com tiques do que qualquer outra coisa. Não há exatamente uma base sólida (como acontecia com Brilho Eterno, por exemplo), e talvez isso o torne limitado. No entanto, há certos pontos que faz com que eu me esqueça (peo menos por um tempo) dessas fragilidades.

Uma delas talvez seja uma certa semelhança com o Trovão Tropical. Não apenas porque satiriza determinados cinemas de gênero (se bem que o brilhante filme do Stiller é bem mais abrangente nesse sentido), mas porque em determinados momentos "Rebobine, Por Favor" parece se encaixar no perfil dos buddy movies de um Judd Apatow ou do Frat Pack. Não duvido que o filme foi feito quase todo a partir de improvisos, com um elenco perfeito extremamente livre (cenas como aquela em que o Jack Black vestido de Robocop dá autógrafos na locadora são bons exemplos disso). Outro grande mérito é uma certa nostalgia que impregna no filme, que às vezes acaba funcionando como uma versão do cinema feito nos anos 80, captando também as transformações ocorridas na indústria cinematográfica atual (na verdade, dialoga mais mesmo com a decadência das videolocadoras - a do filme meio que se recusa a se modernizar, tendo em seu acervo apenas fitas VHS). Acaba funcionando também porque é sempre legal ver Black interpretando a si mesmo e porque Mos Def não está tão irritante quanto em 16 Quadras.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Canções de Amor

(Les Chansons D'Amour, 2007, Christophe Honoré)



Assim como Em Paris, Canções de Amor faz uma espécie de retorno ao cinema da nouvelle vague francesa, e talvez por isso o filme possa ser considerado como mera reciclagem, um tipo de cinema superficial e forçado. De fato, são grandes essas armadilhas que Canções de Amor pode cair, mas sorte que estamos diante de um projeto de um cineasta que parece ter um talento único de conduzir uma narrativa, fazendo com que a experiência flua naturalmente, com uma liberdade muito grande. É um filme que não se prende a um gênero (no caso, o musical), assim como o seu retrato do amor é universal (felizmente, porque aí podemos ter Clotilde Hesme - mulher mais bonita do mundo? - e Ludivine Sagnier - infelizmente muito vestida - dividindo uma mesma cama e trocando carícias - espero mesmo que nenhuma feminista leia esse blog). O melhor de tudo é que Honoré faz tudo parecer muito despretensioso, sem fazer alarde com nada, um cinema sincero, completamente apaixonado (novamente, temos aqui mais uma vez o filme evidentemente por um cinéfilo).

Dessa vez, temos uma história dividida em três partes: na primeira, "A Partida", temos um trabalho deliciosamente leve, agradável de se assistir, mas tal sensação é quebrada depois de uma reviravolta inesperada na trama. A partir daí as partes que se seguem ("A Ausência" e "O Recomeço") ganham um tom mais melancólico, às vezes até bastante amargo, comprovando que Honoré sabe balancear perfeitamente temas mais densos com outros muitas vezes cômicos. É algo já presente em "Em Paris", mas aqui a narrativa é mais redonda e enxuta. E as canções também são tão boas que nem o mala do Louis Garrel consegue estragar.

Quer baixar a trilha? Clica aqui, bicho.

sábado, 11 de outubro de 2008

A Vida é Dura

(Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007, Jake Kasdan)


É um tanto decepcionante em sua primeira meia hora (talvez porque qualquer coisa que tenha o nome do Judd Apatow envolvido já me faz criar altas expectativas – e aqui ele não só produz como roteiriza), com uma idéia muito interessante sendo abordada de modo previsível e até mesmo limitada. Tal irregularidade desaparece (ao menos em parte) justamente em sua segunda parte, quando decide expandir seus territórios: o alvo da sátira não passa a ser apenas os clichês das cine biografias (Ray e Johnny e June são os mais focalizados), como também às tendências do mundo musical em cada época. Então alguns momentos fracos de seu início podem muito bem serem compensados por uma tiração de sarro genial com o Bob Dylan, ou então pela viagem em LSD do protagonista com os Beatles, além da menção indireta a Brian Wilson e seu Pet Sounds. É bom também deixar claro que Walk Hard (foi mal, mas o título em português não me desse bem) poderia não ser nem metade do que é caso não tivesse um grande ator como o John C. Reilly, que parece ter ganho o devido reconhecimento que merece há tanto tempo.

É um filme com problemas, mas ainda assim merece entrar na lista dos bons lançamentos que infelizmente foram lançados diretamente nas locadoras.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Filmes de Setembro

Outro mês bem fraquinho, com maior destaque para filmões como os dois do Landis, Trovão Tropical e O Nevoeiro. Acho que faltou escrever sobre esses, mas agora vou tentar ser menos relapso. O vídeo é uma homenagem aos dois Johns: o já citado Landis, e o Belushi, gênios totais.



O Nevoeiro
(The Mist, 2007, Frank Darabont) - * * * *
Zoolander (2001, Ben Stiller) - * * *1/2
Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008, Fernando Meirelles) - * *1/2
Trovão Tropical (Tropic Thunder, 2008, Ben Stiller) – * * * *1/2 (ou seriam * * * *?)
Mamma Mia (2008, Phyllida Lloyd) – *
Hellboy 2: O Exército Dourado (Hellboy 2: The Golden Army, 2008, Guillermo Del Toro) – * * *1/2
O Amor Não tem Regras (Leatherheads, 2008, George Clooney) - * * *
Três Vezes Amor (Definitely Maybe, 2008, Adam Brooks) - * *1/2
Linha de Passe (2008, Walter Salles e Daniela Thomas) - * * *1/2
Clube dos Cafajestes (Animal House, 1978, John Landis) - * * * *
/Mal dos Trópicos/ (Sud Pralad, 2004, Apichatpong Weerasethakul) - N/A
Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980, John Landis) - * * * *
A Vida é Dura (Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007, Jake Kasdan) - * * *

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Em Paris

(Dans Paris, 2006, Christophe Honoré)


A primeira impressão que o filme passa é a de que foi feito sob encomenda para virar mais um “queridinho cult”, idolatrado pelas meninas francesinhas que usam all star, oclinhos de borda grossa, e camisas que orgulhosamente estampam a cara da Amélie Poulain. A introdução aqui é feita por meio de um Louis Garrel falando diretamente com o espectador (ou melhor, para a câmera), em um tom meio blasé que me soa muito forçado. Parecia que o que viria a seguir é um trabalho um tanto calculado, uma colcha de retalhos que não convence.

É uma impressão apressada que se desfaz especialmente a partir do momento em que o filme passa a focar mais o relacionamento dos dois irmão (um deles interpretado pelo já citado Garrel, que pra mim não fede nem cheira, e o outro, pelo Romain Duris, excelente, talvez a melhor interpretação de sua carreira – e olha que eu tenho uma implicância meio besta com ele). Nesse ponto, acho que é um dos trabalhos mais honestos e carinhosos ao retratar o amor fraternal (aliás, todo o filme faz um retrato de uma família que me soa extremamente verdadeiro). Honoré parece sentir um prazer imenso ao filmar essas pequenas coisas, banalidades mesmo (90% das cenas com o Garrel fazem esse estilo, mas são bobagens deliciosas de se ver), mas também possui sensibilidade e talento suficiente para trabalhar com temas maiores, mais dolorosos (te faz rir e chorar ao mesmo tempo, por exemplo).

Talvez seja realmente um pastiche em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tem tanta leveza e densidade (aquele monólogo feito pelo Duris para uma das namoradas do Garrel é sensacional) que muitos outros filmes por aí. Honoré é evidentemente influenciado por toda essa turma da nouvelle vague francesa (François Truffaut e Eric Rohmer me vieram à cabeça em muitos momentos), mas não é algo que pesa contra o filme. É cinema feito por um cinéfilo, e creio que por isso que Em Paris consiga estabelecer uma relação tão boa com o espectador minimamente interessado por cinema.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mais ou menos Mal dos Trópicos



Finalmente tive a oportunidade de rever um dos filmes que mais me deixaram intrigados, dessa vez no cinema (com uma cópia muito vagabunda, mas não vou reclamar muito, pois só a iniciativa exibir um filme desses por aqui já é boa o suficiente para que eu fique de bico fechado), mas não do jeito que eu queria, por certas razões: a primeira foi o exaustivo caminho percorrido entre minha casa e o cinema, com um tráfego monstruoso, demorando no total uns 50 minutos para completar o percurso (e me fez perder uns 10 minutos de filme, o que me deixa realmente puto); no fim das contas, ainda tive que aturar o cheiro de cigarro da mulher ao lado e as pessoas mais mal-educadas que eu já vi numa sala de cinema (logo atrás de mim, conversando sem parar e rindo muito alto em determinados momentos - entre eles o do vídeo acima, o que me deixou arrasado).

No mais, ainda foi possível extrair alguma coisa, entre elas a sensação única que esse filme provoca em mim. O discurso que vou fazer pode parecer um clichê enorme ou simplesmente exagero, mas a experiência que esse filme te proporciona é sem igual. Você pode odiar ou amar (e tenho certeza que as reações ao filme vão se limitar a ficar nesses dois extremos), mas dificilmente vai se esquecer do que viu. Eu não sei se é um trabalho perfeitamente redondo, mas toda aquela segunda parte é de outro mundo, facilmente um dos momentos mais brilhantes do cinema nessa década (e putaquepariu, ainda tem aquela árvore iluminada por vagalumes)

Pretendo, então, rever mais uma vez o filme, em DivX, sim, mas sem pessoas incovenientes e cheiros de nicotina, no conforto de meu quarto.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Three Times

(Zui Hao de Shi Guang, 2005, Hou Hsiao-Shien)



Daqueles filmes que se expressam melhor através das imagens que de palavras (e os diálogos são realmente curtíssimos). Hou explora profundamente os olhares e gestos dos personagens, com uma câmera agindo perfeitamente como observadora. A história é dividida em três: a primeira, passada nos anos 60, é a mais leve e otimista, e também minha favorita, disparada (com momentos que aproximam demais o filme de ser uma obra-prima); a que segue, agora em 1911, segue uma linha mais a linha de um melodrama trágico, mas o que se nota mesmo é a ousadia com que Hou decide narra-la, se apropriendo de características do cinema mudo; a última parte, nos dias atuais, talvez seja a mais introspectiva e melancólica (a que menos gostei - ou seria a que eu tive mais dificuldade?); em comum está, obviamente, o tema (o amor), e a sua atemporalidade. O que também impressiona é como Hou consegue unir estas três tramas de modo muito enxuto, homogêneo, o que falta a muitos daqueles filminhos divididos em episódios.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Alguns Trailers

Pra não deixar esse blog jogado às moscas e pra desculpar a ausência de uma semana, coloco aqui alguns trailers de filmes interessantes dessa temporada, que certamente estão sendo aguardados ansiosamente por qualquer cinéfilo que se preze.

O primeiro é o de Milk, novo do Gus Van Sant, e que promete muito (e aquela ópera no começo, ein?), apesar de eu ter um pouco de medo em relação à alguns aspectos (mas, ok, confio no Gus, que já nos entregou belíssimos filmes mais comerciais). Em seguida temos Miracle at Sant'Anna, novo do Spike Lee, grande cineasta (especialmente quando fica de boca fechada - caso contrário, pelo menos temos o Clint pra calá-lo, né?), e foi o trailer que me deixou mais animado. O outro é The Curious Case of Benjamin Button, do David Fincher, que nos entregou ano passado um filmão, Zodíaco (top 10 de 2007 fácil, fácil), e que, espero, vai continuar em boa fase (o belo trailer promete isso, ao menos). Por fim, temos o novo Sam Mendes, Revolutionary Road, que conta com Kate Winslet (será que por esse ela finalmente ganha um Oscar?) e Leonardo DiCaprio contracenando pela primeira vez depois de Titanic. Não é bem um trailer, na verdade, e sim um teaser retirado da televisão, com uma qualidade meio ruim, mas vale a pena pra matar a curiosidade. Pro Mendes, é a chance de se redimir do horroroso Soldado Anônimo.


Milk


Miracle at Sant'Anna


The Curious Case of Benjamin Button


Revolutionary Road

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Hellboy II: O Exército Dourado

(Hellboy II: The Golden Army, 2008, Guillermo Del Toro)

Ron Perlman as Hellboy in Universal Pictures' Hellboy II: The Golden Army

Essa é a comprovação de que Guillermo Del Toro talvez seja o cineasta ideal para filmar histórias em quadrinhos. Ele demonstra a cada momento compreender demais esse universo fantástico, se identificar profundamente cada um daqueles freaks colocados em cena. Ao contrário de um Christopher Nolan, que entope um filme de gorduras para parecer importante ou “real”, Del Toro não se esquece do tom fantasioso de sua obra e sabe como poucos explorar tais terrenos. Hellboy II talvez tenha seus excessos, com seus grandiosos monstros e efeitos especiais, mas surpreende por ser sempre uma experiência leve, descompromissada (talvez devido ao humor presente, cheio de tiradas geniais).

Os heróis aqui ganham uma faceta mais sentimental, às vezes melancólica (a cena em que o protagonista e seu parceiro, Abe, afogam as mágoas interpretando uma canção é uma das melhores do ano), sendo um dos blockbusters recentes que melhor exploram aqueles “pequenos momentos” (talvez até mais que Iron Man – que também é muito bom), os conflitos pessoais existentes entre seus personagens. São seres humanizados, mas o desespero deles está justamente no fato de não conseguirem se encaixar, de viverem eternamente marginalizados. São características que ganham credibilidade pelo simples fato de seu criador possuir um carinho gigantesco por cada uma daquelas criaturas. E talvez por pertencer a um tipo de Cinema que é ao mesmo tempo comercial e autoral, algo cada vez mais difícil de ocorrer, que Hellboy II seja o melhor filme de super-heróis da temporada.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A Comédia da Década?



"Check it out. Dustin Hoffman, 'Rain Man,' look retarded, act retarded, not retarded. Count toothpicks to your cards. Autistic, sure. Not retarded. You know Tom Hanks, 'Forrest Gump.' Slow, yes. Retarded, maybe. Braces on his legs. But he charmed the pants off Nixon and won a ping-pong competition. That ain't retarded. Peter Sellers, "Being There." Infantile, yes. Retarded, no. You went full retard, man. Never go full retard. You don't buy that? Ask Sean Penn, 2001, "I Am Sam." Remember? Went full retard, went home empty handed... "

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

(Blindness, 2008, Fernando Meirelles)

Julianne Moore in Miramax Films' Blindness

Tive o prazer de ler o livro nessas minhas últimas férias, e, assim como a maioria das pessoas, fiquei realmente fascinado. Saramago tem um estilo singular de contar uma estória, irrepreensível tecnicamente, com um humor que é ao mesmo tempo mordaz e sutil, especialmente no modo como ele decide encaixar toda a crítica social e política. É tão bom que eu cheguei a pensar que é um material infilmável, principalmente porque poucos cineastas teriam tanta precisão e segurança na hora de narrar uma trama tão densas e complexas como essa. Infelizmente, acho que ainda não era a hora do Fernando Meirelles.

Não me levem a mal: eu gosto dele. Só porque eu acho Cidade de Deus hiper-mega-super-estimado não significa que eu vá considerá-lo mal cineasta (e é bom ressaltar que lembro de ter gostado bastante do Jardineiro Fiel - apesar de tê-lo visto há muito tempo; uma revisão se faz necessária). Há, porém, o problema de que é muito difícil (ao menos para mim) tentar analisar um filme como esse sem estabelecer nenhuma comparação com a obra original. No geral, é uma adaptação correta (mas que também não se arrisca), fiel (pelo menos nos fatos), e talvez um tanto óbvia, especialmente em relação a sua estética (mas em pelo menos duas cenas aquele branco todo que invade a tela é muito bem utilizada, ambas protagonizadas pelo primeiro cego: o momento em que ele encontra sua esposa na quarentena e o momento em que volta a enxergar). O que me incomoda, na verdade, é que, se no livro do Saramago todos esses problemas do mundo moderno eram abordados com aquela sutileza e humor únicos já citados no início desse texto, no filme ganha um tom denunciativo que está presente em um, por exemplo, Babel, ou qualquer outro filme do gênero. As cenas de violência, no livro, chocam justamente pelo modo "indireto" com que Saramago as descreve, enquanto aqui Meirelles entra no caminho do choque fácil.

Mas o maior problema, no entanto, é outro: há muita simplificação. Pode ser impressão minha, mas as coisas aqui não acontecem um pouco rápido demais? Ensaio Sobre a Cegueira, o filme, passa muito longe de ser aquele estudo profundo e extremamente detalhado do ser humano que se faz presente na obra de Saramago, justamente devido a essa superficialidade. Prova disso é a pouca exploração de personagens interessantíssimos e muito importantes para a obra, como o velho da venda preta ou a mulher dos óculos escuros (além de que não se aprofunda na questão do governo ou do exército, tão bem retratada no livro - aqui só é observada de longe).

Eu não diria que foi uma decepção, já que minhas expectativas não eram lá tão altas, mas surpreende pelo fato de ser algo tão esquecível.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Filmes de Agosto

Mês mais fraco do ano em termos de filmes, algo que geralmente ocorre na minha volta às aulas, devido provavelmente ao "choque das rotinas" (e porque dessa vez eu tenho que estudar mais - cof cof -, o que diminui a disposição). Enfim...



TOTAL: 12 filmes

Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994, Oliver Stone) – *
Salvador (1986, Oliver Stone) - * * *1/2
Paixão em Hong Kong (Boarding Gate, 2007, Olivier Assayas) - * * *1/2
Bens Confiscados (2004, Carlos Reichenbach) - * * * *
Trocando as Bolas (Trading Places, 1983, John Landis) – * * * *
Encontrando Forrester (Finding Forrester, 2000, Gus Van Sant) – * * *1/2
Era uma Vez... (2008, Breno Silveira) – * *1/2
/Gerry/ (2002, Gus Van Sant) - * *1/2
A Via Láctea (2007, Lina Chamie) - * * *1/2
The Devil and Daniel Johnston (2005, Jeff Feuerzeig) – * * * *
Falsa Loura (2007, Carlos Reichenbach) - * * *1/2
O Show deve Continuar (All That Jazz , 1979, Bob Fosse) - * * * *1/2

sábado, 6 de setembro de 2008

Sobre o Festival de Veneza



A seleção desse ano estava bem fraca e eu estranhei bastante a pouca cobertura que o festival teve na imprensa (mas talvez eu que não tenha procurado direito), mas isso não diminui a surpresa de ver o novo filme do Aronofsky ganhando, na premiação que ocorreu ainda hoje, dia 6. Eu sou possivelmente o detrator #1 dele, mas confesso que esse The Wrestler me despertou desde o início muita curiosidade, especialmente por ter o excelente Mickey Rourke (foto acima - excêntrico, não?) como protagonista e pela trama que parece se distanciar da filosofia barata do A Fonte da Vida, que é um horror (Réquiem eu acho ainda pior, aliás).

Para ler mais, clica aqui, bicho.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Viagem a Darjeeling

(The Darjeeling Express, 2007, Wes Anderson)


A primeira parte, cuja ação se concentra na viagem de trem feita pelos três irmãos e algumas paradas para visitar alguns centros importantes da Índia, deve ser a mais irregular da carreira de Anderson: aquelas suas velhas caracteristicas me pareceram até um pouco exibicionistas em certos momentos (e vocês não sabem como é difícil ter que admitir isso; logo eu, fanzaço do cara) e o humor não funcionava com a mesma eficácia (achei até forçado e fácil demais).

O que mais impressiona, no entanto, é como Viagem a Darjeeling consegue se recuperar em seus dois últimos atos: é a partir daquela cena da despedida entre o personagem de Jason Schuartzman e a comissária de bordo que o filme realmente ganha um coração. E depois disso, meus amigos, Wes Anderson nos presenteia com uma quantidade considerável de cenas realmente lindas, comoventes (posso citar também o acidente e o enterro do garotinho indiano; a conversa dos irmãos ao som da música do E la Nave Va; e outras duas ja na parte final: os três e a mãe ouvindo a uma canção dos Rolling Stones e aquela "cerimônia da pluma" - se não as duas melhores, os dois momentos mais reveladores).

Toda quela discussão em relação à estética dos trabalhos de Anderson é sem dúvida alguma relevante, mas afirmar que são "todos iguais" (e firmar toda uma crítica negativa em torno disso não é o argumento mais convincente) me parece um pouco de má vontade também, já que as circustâncias sempre mudam: o cenário e a exploração deste em Viagem a Darjeeling são bastante singulares em sua filmografia (essa preocupação com os espaços externos, aliás, só aparece mesmo nesse e em A Vida Marinha, sendo que em Darjeeling, temos o deserto, e no outro, o oceano). Outro fator está no foco, sobre que ponto de vista a estória será contada: os dois filmes anteriores de Anderson (o já citado Steve Zissou e Os Excêntricos Tenenbauns), que também tem como peça central uma família desestruturada, são criados a partir da figura do pai, enquanto em Viagem a Darjeeling tal personagem sempre se mantém oculta, enigmática, representado apenas por um mudo Bill Murray, creditado apenas como "The Businessmen".

Agora o ponto de vista passa para os três irmãos que embarcam em uma "jornada espiritual" a ponto de conseguirem estabelecer uma maior proximidade; o problema, no entanto, é que pelo menos dois deles não estão exatamente interessados (Peter, vivido por Adrien Brody, ótimo; e Jack, interpretado por Schwartzman, outro que merece destaque), enquanto Francis (Owen Wilson - quanto à sua atuação, idem aos anteriores) segue no desejo de reencontrar a mãe. São figuras fragéis, inseguras, vivendo momentos decisivos em suas vidas e sem saber lidar com isso. Essa profundidade concedida aos protagonistas mostra que Anderson, mesmo com seus excessos estéticos (que só me incomodou mesmo na parte inicial - em toda a sua carreira, é bom deixar claro), nunca se esquece da área dramaturgica, fazendo com que cada personagem nos apresente uma faceta distinto, tornando Viagem a Darjeeling, mesmo com suas imperfeições, um trabalho extremamente acima da média.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A Via Láctea

(2007, Lina Chamie)



Eu poderia ter ficado muito irritado com aquele discurso repetitivo sobre o caos das cidades grandes caso esse filme de Lina Chamie não soubesse trabalhar muito bem com as paisagens de São Paulo, criando uma interação essencial entre personagem e o espaço. Também poderia ter achado pedante e pseudo-poético caso o filme não apresentasse uma paixão tão grande em experimentar cada possibilidade do Cinema, da montagem, que acaba por tornar A Via Láctea em um trabalho que pulsa, vivo, espontâneo (com isso, qualquer possibilidade de estar vendo uma egotrip foi descartada). Feito como se passasse na memória de um homem arruinado pela paranóia e obcecado com o seu relacionamento amoroso prestes a se acabar, com a confusão urbana somente dificultando seu já fraco estado mental. Vemos flashbacks, situações repetidas, às vezes com mudança de pontos de vista, uma trilha que entra e sai de repente (evocando Godard, de um modo que pode até parecer um pouco forçado), criando um anti-clímax em diversos momentos (a canção tema dos Looney Tunes, por exemplo), com uma estrutura que atinge seu máximo num belíssimo terceiro ato, quando tudo o que poderia parecer deslocado se encaixando muito bem. Tem também uma interpretação muito boa do Marco Ricca, e uma talentosa Alice Braga, mais bonita que nunca.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Gerry

(2002, Gus Van Sant)



Já fazia um bom tempo que queria revê-lo, mas só fui realmente pôr esse plano em prática no último sábado. Acho que eu deveria amá-lo, pois é um tipo de cinema que na maioria das vezes me gera interesse e porque eu sou um babão do Gus Vant Sant, mas eu infelizmente não consigo enxergá-lo como algo mais que um exercício de estilo que prepara terreno para as obras-primas que viriam depois da carreira de Van Sant. Traz uma força visual que não se encontra em todo o filme, com uma fotografia espetacular do Harris Savides; aquele plano sequencia em que os dois andam feito zumbis em um deserto cada vez mais branco, enquanto o dia nasce, continua me deixando boquiaberto, mas o problema é que no miolo o filme me parece já muito esgotado. É filme de uma idéia só, levada tão ao máximo que tem momentos em que me soa só como exibicionionismo, pedantismo. É a prova de que Van Sant é um dos maiores diretores em atividade, mas que consegue fazer grandes filmes com grandes idéias quando possui uma dramaturgia mais sólida.

sábado, 16 de agosto de 2008

Cloverfield

(2008, Matt Reeves)



Certamente vai ter muita gente detestando, ou no mínimo se incomodando, mas o efeito que Cloverfield causou em mim foi enorme. O formato que o filme apresenta (é todo feito a partir da ótica da câmera de um dos personagens, ou seja, a aparência é de vídeo amador - não em relação aos efeitos especiais, claro, já que não é todo dia que você pode ver a cabeça da estátua da liberdade voando) dá um tom extremamente visceral, torna a experiência clautrofóbica e sufocante, e até reiventa o que se entende por blockbuster: não é só mais um filme catástrofe com um único intuito de entregar uma diversão esquecível, segura, mas pede um maior envolvimento do espectador; na verdade, é um registro tão pessoal que fica até meio impossível não se deixar levar pela atmosfera apocalíptica apresentada pelo trabalho. Pode também ser visto como um retrato da paranóia, do pânico e do medo que se instalou na população nova-iorquina do pós-11 de setembro (e o caos que é instalado no filme pode muito bem ser uma metáfora à decadência de uma cidade). É bom também de observar que, mesmo possuindo inúmeras qualidades técnicas, Cloverfield não se foca apenas no lado estético, como também demonstra bastante preocupação com os conflitos pessoais dos personagens, e nas relações que foram esfaceladas devido ao ataque do monstro. É um filmaço.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Zabriskie Point

(1970, Michelangelo Antonioni)



Sempre tive uma certa dificuldade em digerir os filmes de Antonioni, mas há algo em seus trabalhos que me deixam fascinado, o que já foi o suficiente para que eu o colocasse em posição privilegiada no meu ranking de diretores favoritos (entre os italianos, só perde mesmo pro Leone). Foi com ele que comecei a conhecer o Cinema Europeu clássico (e, aliás, não sigam meu exemplo: se iniciem com Fellini), ao assistir A Aventura com uns 12 anos de idade, filme longuíssimo, dificílimo, mas que me deixou boquiaberto (não me pergutem o por quê, é o Cinema...). O mesmo aconteceu com obras como A Noite e Profissão: Repórter, e volta a ocorrer com este Zabriskie Point.

Dentro da filmografia do homem, esse é o que certamente mais se assemelha a Blow Up, especialmente pelo fato de serem falados na lingua inglesa (a não ser que você tenha do e-mule uma versão dublada em italiano, como aconteceu comigo) e por focalizarem a contracultura da época. Em relação a este tema, Zabriskie Point se aprofunda mais, ao relatar o embate entre jovens revolucionários e policiais, mas no meio disso tudo estão presentes os assuntos que mais obcecam Antonioni: a incomunicabilidade, o tédio e a alienação no mundo moderno. Mas, se em trabalhos como O Eclipse a atenção era voltada para o universo dos adultos, o foco agora é a juventude. A América retratada por Antonioni é aquela vivendo um período de profunda transformação, e o modo com que constroi os espaços representa bem isto: de um lado temos a cidade grande, ambiente tenso e sufocante, e do outro, servindo como um perfeito contraponto, temos a infinitude do deserto, o único lugar onde os dois protagonistas conseguem exercer plenamente seus desejos de liberdade e sexo, encontrando um meio de se isolar dos conflitos existentes no mundo externo.

Não espere, no entanto, críticas ou mensagens revoltadinhas anti-sistema (sim, isso foi uma indireta para Clube da Luta), até porque a conclusão que Antonioni entrega à estória é até bastante amarga e desiludida, apesar de que aquela extraordinária e emblemática sequencia de encerramento contem uma mensagem puramente subversiva (é como se tudo o que compõe o sonho americano estivesse sendo explodido naquele exato momento, ao som de Pink Floyd), tornando Zabriskie Point um dos mais subestimados e melhores filmes do mestre italiano.

domingo, 10 de agosto de 2008

Shangri-La



E Ray Davies continua completamente lúcido. Gênio. Mestre. Cantando a melhor música do Arthur. De chorar.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto

(Before the Devil Knows You're Dead, 2007, Sidney Lumet)



O único momento de sossego e felicidade que os personagens dessa estória terão está naquela cena de abertura, o sexo entre Seymour Hoffman e Marisa Tomei, um paraíso que dura apenas alguns minutos. A partir do momento que a tela escurece e o título é anunciado, “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto” transforma-se em um estudo minucioso do processo de degradação psicológica de seus personagens, que acabam por se auto-destruir meio que inconscientemente. Não há nenhum elemento que suavize a trama (lembra O Sonho de Cassandra nesse sentido, mas o filme de Allen, apesar de muito bom, não consegue possuir nem um terço da tensão desse filme do Lumet) e até aquela cena final, que por um momento sugere uma reconciliação, acaba se encerrando de modo terrivelmente amargo. O texto de Kelly Masterson (seu primeiro para os cinemas) é absolutamente brilhante e felizmente caiu nas mãos de um cineasta de extrema maturidade, que sou entregar a devida densidade ao trabalho, tornando-o algo visceral, sufocante. De início, nos faz pensar que se trata de um “filme de roubo”, e, se depender daquela primeira cena do assalto, veríamos um grande exemplar do gênero, mas “Antes que o Diabo Saiba...” deseja ir mais além, transformando-se uma espécie de tragédia familiar Shakesperiana, no mínimo quase uma obra-prima.

É também gratificante ver um filme que constrói uma narrativa fragmentada não para ser cool ou moderninho, e sim porque certamente foi o melhor meio encontrado para que pudesse ser feito um panorama geral da situação, beneficiando o desenvolvimento dos personagens. Outro grande destaque são as atuações, com um elenco todo excepcional: Seymour Hoffman é um monstro, fenomenal, e Albert Finney e o sempre subestimado Ethan Hawke não ficam atrás, ambos muito bem. Sidney Lumet, felizmente, parece continuar em grande forma.

domingo, 3 de agosto de 2008

Filmes de Julho

Provavelmente o melhor mês para o Cinema do ano, não apenas em quantidade como também em qualidade (dois 5 estrelas!). Infelizmente, enquanto o mês acaba, as aulas começam (leia-se: inferno), então esperem uma abundância dessas só em dezembro (ou janeiro, dependendo da minha situação - que certamente não será boa, aliás). Enfim...


TOTAL: 31 filmes + 1 curta

Wall-E
(Andrew Stanton, 2008) - * * * *
Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights, 2007, Wong Kar-Wai) - * *1/2
Kung Fu Panda (2008, Mark Osborne e John Stevenson) - * * *
A Embriaguez do Sucesso (The Sweet Smell of Success, 1957, Alexander Mackendrick) - * * * *1/2
12 Homens e uma Sentença (12 Angry Men, 1957, Sidney Lumet) - * * *1/2
Hancock (2008, Peter Berg) - * * *
Diário de uma Babá (The Nanny Diaries, 2007, Shari Spring Berman and Robert Pulcini) - * * *
Faca na Água (Nóz w Wodzie, 1962, Roman Polanski) - * * *1/2
A Bela da Tarde (Belle de Jour, 1967, Luis Buñuel) - * * * *1/2
Noites de Lua Cheia (Les Nuits de la Pleine Lune, 1984, Eric Rohmer) - * * *1/2
O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, 2007, Julian Schnabel) – * * *
Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978, Ingmar Bergman) - * *1/2
O Padre e a Moça (1965, Joaquim Pedro de Andrade) - * * * *
O Poeta do Castelo (1959, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *1/2 [CURTA]
Ritual dos Sádicos/O Despertar da Besta (1970, José Mojica Marins) – * * * * *
Filme de Amor (2003, Julio Bressane) – * * *1/2
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (4 Luni, 3 Saptamâni si 2 Zile, 2007, Cristian Mungiu) – * *1/2
Jogo de Cena (2007, Eduardo Coutinho) – * * * *
Amantes Constantes (Les Amants Réguliers, 2005, Philippe Garrel) – * * * * *
O Garoto Selvagem (L'Enfant Sauvage, 1970, François Truffaut) - * * *1/2
Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008, Christopher Nolan) – * * *
Juventude (Sommarlek, 1951, Ingmar Bergman) – * * *1/2
O Caçador de Pipas (The Kite Runner, 2007, Marc Forster) – *1/2
Maratona do Amor (Run Fatboy Run, 2007, David Schwimmer - a.k.a. Ross) – * *
/Batman Begins/ (2005, Christopher Nolan) - * *1/2
/Miami Vice/ (2006, Michael Mann) - * * * *1/2
Em Paris (Dans Paris, 2006, Christopher Honoré) – * * *1/2
Dragão Vermelho (Manhunter, 1986, Michael Mann) – * * * *
Gêmeos (Dead Ringers, 1988, David Cronenberg) – * * * *1/2
A Vida dos Outros (Das Leben der Anderen, 2006, Florian henckel von Donnersmarck) - * *
Brazil (1985, Terry Gilliam) – * * * *
O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro, 2004, Hayao Miyazaki) - * * *1/2

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Hancock

(2008, Peter Berg)



Peter Berg, taí um nome que merece atenção. Ano passado nos entregou O Reino, bom filme, muito subestimado, mesmo que imperfeito, mas que já possuía o grande mérito de saber se utilizar com sucesso da câmera na mão, algo muito raro de acontecer, ainda mais depois que o estilo virou moda. Muito provável que a influência venha de Michael Mann, seu amigo próximo e produtor de seus filmes (e em Hancock faz uma ponta, como um executivo), mas creio que Berg não é um mero aprendiz do cineasta da obra-prima Miami Vice, prova disso é a série criada por ele, Friday Night Lights, que, pelo pouco que já vi, parece sim ter bastante qualidade: uma narrativa que parece seguir os padrões clássicos norte-americano, com conflitos humanos apresentados de modo muito sólido e seguro, mas com uma estética moderna (de novo a câmera na mão). E Hancock talvez seja até agora seu projeto mais ambicioso e excessivo, e bastante irregular também (quando chegar a fazer um filme todo redondo, terá grandes chances de ser um filmaço).

De qualquer modo, apesar de seus defeitos, apenas sua proposta extremamente ousada já seria suficiente parece ganhar maior destaque em relação aos demais blockbusters: Hancock quebra toda aquela mitologia feita ao redor de super-heróis, entregando-nos um protagonista odiado por todos, bêbado e vagabundo. Também não é baseado em nenhuma HQ, o que o aproxima de Jumper, mas o lado politicamente incorreto torna Hancock infinitamente superior ao filme de Doug Liman (que, apesar de ser fraquinho, não é nem de longe a bomba anunciada por alguns). Se fosse todo feito nos moldes da exelente primeira parte, quando se comporta de um modo mais anárquico, sem se prender a uma premissa básica, fornecendo uma sucessão de piadas estridentes, cenas de ação exageradíssimas e efeitos especiais inflados (o que, aqui, não chega a ser irritante – pelo contrário, é justamente esse exagero que torna Hancock delicioso), seria algo genial, mas é após sua primeira metade que o filme perde o rumo.

O problema é que Hancock, depois de uma certa reviravolta, parece querer ser levado a sério, mas é raso demais para apresentar uma estrutura dramática mais sólida, profunda. O filme que até então renegava a filosofia dos quadrinhos, parace adota-la, construindo a previsível figura do herói “humano”, frágil, solitário. Até vilão aparece! E, pior, do modo mais forçado possível.

Pra quem já prestou atenção nas características do cinema de Berg (na verdade, especialmente na sua já citada série), talvez não vá se surpreender com esse rumo mais “sério” que o filme toma. Até aquelas seqüências musicadas sentimentalistas (e não digo isso no sentido pejorativo) presentes em Friday Nights (e em O Reino, até onde me lembro, mas em menor número) aparecem em Hancock, só que de um modo forçado. O que o filme talvez represente é um cineasta ainda em formação, experimentando novos caminhos narrativos, ainda sem total segurança. Promete. Ou será que eu sou o único no mundo a se interessar pela sua carreira?

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Melhores e Piores do semestre

Lista feita para a votação da Liga dos Blogues. Só pra ressaltar que ela muda a cada minuto, assim como ocorre com 97% dos tops que faço.

MELHORES



01. Não Estou Lá, de Todd Haynes
02. Onde os Fracos Não tem Vez, de Joel e Ethan Coen
03. Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto, de Sidney Lumet
04. Luz Silenciosa, de Carlos Reygadas
05. Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson
06. Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan
07. Paranoid Park, de Gus Van Sant
08. Wall-E, de Andrew Stanton
09. Sweeney Todd, de Tim Burton
10. Cloverfield, de Matt Reeves

PIORES

01. Sex and the City, de Michael Patrick King
02. 10.000 a.c., de Roland Emmerich
03. O Caçador de Pipas, de Marc Forster
04. Elizabeth: A Era de Ouro, de Shekar Kapur
05. 2 Dias em Paris, de Julie Delpy

E infelizmente eu me esqueci de Vantage Point! Entraria no lugar de 2 Dias em Paris, apesar do filme da Delpy merecer (que porre, ein?).

sábado, 26 de julho de 2008

Avant la Haine



Cena perfeita em um belo e muito subestimado filme.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

(The Dark Knight, 2007, Christopher Nolan)



Pertenço ao grupo dos que ficaram no meio termo, logo em um filme que praticamente despertou só opiniões extremas. Já vi alguns que não gostaram, mas certamente o grupo dos que amaram, que consideram a melhor adaptação de uma HQ de todos os tempos, que ficam fazendo campanha para que Ledger ganhe o Oscar, são muito mais numerosos (é só ver o top do IMDB). Sinceramente, escrevo sobre esse novo filme do Batman apenas para não deixar passar em branco, porque já tô um pouco cansando da ovação e das discussões em torno. Respeito a opinião dos que gostam (ei, mas eu gostei! Só não tanto...), mas algumas reações me parecem até surreais, de um exagero enorme.

O que achei mais curioso é fato de ser um filme dos coadjuvantes. Christian Bale é/está péssimo, sem o menor carisma (e toda a complexidade do protagonista parece não funcionar tanto devido justamente a isso, ao meu ver), enquanto Heath Ledger, merecedor de todos os elogios, brilhante mesmo e Aaron Eckhart, ator que gosto muito, em bela performance, se mostram muito mais interessantes (assim como seus personagens - a transformação em que esse segundo passa me parece muito crível, sim). O conflito em si existente entre tais personagens é sem dúvida intenso, especialmente em seu terceiro ato, que acho todo bem bom (as cenas do navio, principalmente). Mas só isso não é o suficiente para tanto ôba-ôba em torno, até porque existem coisas que realmente me incomodo.

Uma delas são os diálogos. Alguns embates verbais funcionam, mas a maioria é feita de didatismos e frases feitas que poderiam estar no blockbuster mais vagabundo (não fica muito atrás daquela hilária versão supostamente escrita pelo Michael Bay), mas, não sei, talvez seja culpa daquela voz grossa que o Bale faz quando está disfarçado, que acaba virando auto-paródia. Outro ponto é que Christopher Nolan continua sendo pra mim só um cineasta muito medíocre. Realmente não entendo o hype que gira em torno de sua figura (ok, em relação a Amnésia eu até compreendo, um filme com uma proposta inovadora - e acho fraco justamente porque acho que não passa disso mesmo -, mas não com seus trabalhos posteriores). Muitos o elogiam por ser sóbrio, mas pra mim parece apenas insosso, sem expressão. Cita Michael Mann e Francis Coppola (?!?!), mas tecnicamente esse O Cavaleiro das Trevas só me soa no máximo ordinário. Me parece também muito equivocado essa auto-importância contida aqui, é totalmente inflado, megalomaniaco mesmo.

E pra encerrar, mais uma ênfase em Heath Ledger e Aaron Eckhart, bens o suficiente para colocar o filme em um outro patamar (apesar de ter outras coisas interessantes, como já disse). Ah, e outra ênfase em Ledger.

domingo, 20 de julho de 2008

Ah...