segunda-feira, 28 de abril de 2008

Hot Fuzz

(2007, Edgar Wright)



Edgar Wright e Simon Pegg já haviam demonstrado talento e competência ao brincarem com um certo cinema de gênero (os filmes de zumbi) logo em seus primeiros trabalhos, o ótimo Shaun of the Dead (foi mal, mas evito aquele tírulo nacional). Em Hot Fuzz, a dupla repete o estilo, em um projeto mais ambicioso e que tinha pelo menos uns 70% de dar errado, mas a dulpa mais uma vez demonstra inteligência e supera as expectativas: ao contrarário de diversos outros filmes que tem a paródia como base maior para suas piadas e que sempre decidem seguir o caminho do humor fácil escrachado, com citações a cada quinze em quinze minutos, este Hot Fuzz parece meio que miraculosamente não esgotar a fórmula, apostando também no inusitado e no exagero, mas sem pesar a mão. O foco aqui é brincar com o Cinema de ação (e certamente se beneficia por não se aprofundar na sátira de nenhum filme específico, já que o alvo é o gênero como um todo), fazendo também referências ao terror trash com uma violência gore exacerbada (algo presente no trabalho anterior da dupla), levando sempre tudo ao máximo: as reviravoltas são inúmeras e ridículas; os diálogos, cheios de frases feitas; os momentos sentimentais piegas; e esteticamente é propositalmente afetado, estilizado, e a montagem é picotada, quase videoclípitica em certos momentos (Tony Scott veria como os artíficios que adora usar em seus filmes soam risíveis). Não podemos esquecer também de outro grande destaque de Hot Fuzz, o ótimo Nick Frost, que aqui e em Shaun of the Dead atua como companheiro do protagonista vivido por Simon Pegg, além de todo o elenco estar bem inspirado. Toda essa brincadeira chega à completa anarquia em seu brilhante ato final, encerrando esse ótimo filme.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Um pouco sobre Pushing Daisies



Nos Estados Unidos, a série já está em seu nono episódio (não sei se faz sucesso nas audiências, mas creio que já possui um bom número de admiradores), mas no Brasil foi ao ar somente há duas semanas, a partirm do dia 10, sendo exibido pela Sony às 21 horas.. As semelhanças com o universo de Tim Burton são mais que evidentes, e certamente deve ter sido uma das inspirações de Bryan Fuller, criador da série (e que antes já havia feito Dead Like Me, outra que tem a morte como tema central); há lados bons e ruins nisso: parece, em alguns momentos, mera diluição do universo criado por aquele cineasta, calculadinho demais; por outro lado, as preocupações da série não se limitam ao visual, logo Pushing Daisies se mostra um trabalho muito afetivo e carinhoso, com bastante emoção. Aquele tom ao mesmo tempo doce e amrgo acaba inevitavelmente conquistando, e os exageros na construção dos personagens e na estética originam uns momentos bem singulares e até ousados, se compararmos com outras séries atuais. A narrativa é ágil, embalada por uma narração em off frenética (e, vá lá, um tanto irritante em certos momentos) e que ajuda a manter a atmosfera de contos de fadas. Os dois episódios vistos (dirigidos por Barry Sonnenfeld não são exatamente perfeitos, mas é suficientemente interessante para me fazer querer acompanhá-la. Depois, volto a deixar minhas impressões.


Promo da série

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Cannes 2008

Saiu hoje a seleção dos filmes que estarão na mostra competitiva do Festival de Cannes deste ano, e com muita coisa boa:

24 City, de Jia Zhang-ke
Adoration, de Atom Egoyan
Changeling, de Clint Eastwood
Che (The Argentine e Guerrilla), de Steven Soderbergh
Un Conte de Noel, de Arnaud Desplechin
Daydreams, de Nuri Bilge Ceylan
Delta, de Kornel Mundruczo
Il Divo, de Paolo Sorrentino
Gomorra, de Matteo Garrone
La Frontiere de l'aube, de Philippe Garrel
Leonera, de Pablo Trapero
Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas
La Mujer sin Cabeza, de Lucrecia Martel
My Magic, de Eric Khoo
The Palermo Shooting, de Wim Wenders
Serbis, de Brillante Mendoza
The Silence of Lorna, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne
Synecdoche, New York, de Charlie Kaufman
Waltz With Bashir, de Ari Folman

O nível, como vocês podem reparar, está muito acima da média, com novos trabalhos de cineastas bastante importantes: Jia Zhangh-Ke; Clint Eastwood; Philippe Garrel; Wim Wenders (se bem que esse aqui... ah, deixa pra lá); Arnaud Desplechin (com Mathieu Almaric, Emmanuelle Devos e Catherine Deneuve fazendo novamente parte do elenco, após a obra-prima Reis e Rainha); Steven Soderbergh, cujo filme Che, que no total possui 4 horas de duração (!!! - o que não é necessariamente algo bom, aliás), foi dividido em duas partes, Guerrila e The Argentine; Irmãos Dardenne; Atom Egoyan; os argentinos Lucrecia Martel e Pablo Trapero, dos melhores dessa nova geração; a dupla de brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, com Linha de Passe; e Charlie Kaufman, com a sua aguardada estréia na direção.

O júri será presidido pelo Sean Penn (em quem boto fé) e o festival terá início, se não me engano, no meio dos mês de Maio. Clique aqui para ver a lista completa.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Momento Down By Law



I SCREAMA, YOU SCREAMA, WE ALL SCREAMA FOR ICE-CREAMA!

E, em breve, um pouco mais sobre Jim Jarmusch (espero, ao menos).

sábado, 19 de abril de 2008

18º Cine Ceará



O Cine Ceará chegou em 2008 à sua 18ª Edição, e também marcou a minha primeira visita ao festival. Desde que passou a ser formada por filmes íberos-americanos, a seleção nunca chegou a me atrair muita curiosidade, até porque não havia nenhum grande destaque. Neste ano, por outro lado, o repertório ficou bem mais rico. Infelizmente só tive a oportunidade de conferir Luz Silenciosa, um excepcional filme de Carlos Reygadas, que me deixou destruído (não sei se vai ter texto, é demais pra mim), mas queria muito ter comparecido às sessões de outros filmes, como Falsa Loura, o novo trabalho de Carlos Reichenbach, que foi apresentá-lo com uma hilária peruca loura; O Grão, a estréia de Petrus Cariry nos longas-metragens, que é um cineasta que parece ser bastante querido aqui no Ceará; e Os Desafinados, a volta de Walter Lima Jr. às telonas. Antes das principais sessões, alguns curtas foram exibidos, e tive a oportunidade de ver três deles (e infelizmente não peguei o título dos dois primeiros): um parecia ser uma bobagem experimental, mas também não posso criticar tanto pois cheguei na metade; o seguinte possuia um ponto de partida interessante (mostrar no que se transformaram os antigos cinemas da cidade - e às vezes peca um pouco pelo didatismo), mas simplesmente não conseguia entender o que estava sendo dito, áudio muito fraco; o último, O Vampiro do Meio-Dia, já foi bem mais interessante e acima da média, apresentando a união entre o calor infernal de um dia no Rio com hormônios adolescentes fervilhando. Agora, algo que afetou negativamente o festival foi o péssimo sistema de ventilação, vergonhoso (a imagem mais constante de se ver por lá era uma pessoa se abanando). O Cine São Luiz, que é visualmente lindo, não merecia tal tratamento.

Para conferir a lista de vencedores da premiação, clique aqui. Reygadas, aliás, foi merecidamente lembrado.


Trailer de Luz Silenciosa

quinta-feira, 17 de abril de 2008

domingo, 13 de abril de 2008

Shine a Light

(2008, Martin Scorsese)



Em 2005, Martin Scorsese decidiu realizar todo um estudo a respeito de uma das figuras musicais mais importantes e míticas da segunda metade do século XX, Bob Dylan. O documentário não era novidade em sua filmografia, visto que já havia feito nos últimos anos dois trabalhos muito prestigiados sobre o Cinema Americano ("Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano", que resultou também em um grande livro) e o Italiano ("Viagem à Itália"), mas já fazia quase três décadas que Scorsese não falava diretamente sobre sua paixão pela música (quando realizou The Last Waltz - e eu infelizmente não posso fazer um relato mais aprofundado sobre esses porque ainda não tive a oportunidade de vê-los), ainda que esta tivesse já muita importância no restante de sua filmografia (e sempre a utilizou brilhantemente). O documentário de 2005 acabou se tornando "No Direction Home", uma obra-prima obrigatória, o melhor que Marty fez nessa década. Agora, ele volta à sua mais recente obssessão ao retratar um outro ícone do mundo da música e umas das suas bandas favoritas (tem bom gosto, não?): os Rolling Stones. A abordagem, no entanto, é diferente: se em "No Direction Home", a análise feita sobre a persona de Bob Dylan era minuciosa, detalhista, com depoimentos e imagens de arquivo riquíssimas, o que acabou por resultar em um monstruoso trabalho de mais de 200 minutos. Em "Shine a Light", por outro lado, o que Scorsese registra é um (aparentemente) simples concerto da banda de Mick Jagger e Keith Richards. No entanto, reduzir o filme a isto me parece ser um erro quase imperdoável: o que Scorsese procura aqui não é um mero registro, e sim, assim como ocorria com No Direction Home, um estudo muito discreto sobre aquelas figuras em cima do palco, apesar de obviamente não tão aprofundado. As imagens de arquivo, que incluem especialmente entrevistas da época do auge dos Stones, elaboram um retrato sobre como a passagem do tempo afetou o grupo, seja positivamente ou negativamente, além da preocup. O time de diretores de fotografia reunido aqui é invejável (Robert Elswit, eventual parceiro do Paul Thomas Anderson; Emmanuel Lubezki, de Filhos da Esperança e O Novo Mundo; Robert Richardson, que já trabalhou com Scorsese em O Aviador; Andrew Lesnie, de O Senhor dos Anéis; e por aí vai, a lista é grande) e a montagem, precisa, mas confesso que mais ou menos pela segunda metade de filme cheguei a ficar um pouco cansado, o que também não chega a alterar o resultado final. De qualquer modo, um filme que traz um plano-sequencia de encerramento excepcional como aquele e a bombástica revelação de que o Charlie Watts fala não pode ser pouca coisa.

terça-feira, 8 de abril de 2008

O Assassinato de Jesse James...

(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007, Andrew Dominik)



Desde o início, "O assassinato de Jesse James..." (não, não vou colocar aquele título gigantesco todo) se propõe como uma investigação minuciosa dos motivos que levariam Robert Ford, vivido brilhantemente por Casey Affleck (e agora calo a minha boca, não gostava dele), a matar Jesse James, este interpretado por um Brad Pitt em grande forma. Para isto, Andrew Dominik, apenas em seu segundo filme e já demonstrando uma segurança enorme em relação à narrativa (e um senso estético muito grande também), resolve desconstruir o mito, mas sempre preservando o enigma que cerca a sua figura: aqui, Jesse James é um homem solitário, paranóico, que às vezes demonstra uma crueldade calculista, e em outros uma afetividade muito grande (especialmente, em relação à sua família, seus filhos). Robert Ford, ao se unir ao bando, parece ainda crer naquele personagem que era o maior herói de suas histórias preferidas, mas logo vem a decepção ao notar o descaso e a frieza com que Jesse James o trata: infelizmente, Ford parece ter chegado extamente na hora em que toda aquela aparente diversão em ser um fora-da-lei se transforma em fardo para os membros do grupo, e isto pode ser comparavado no semblante triste e cansado do personagem de Pitt. Essa descontrução de uma mitologia não é feita apenas neste ponto, já que Dominik dá apresenta uma outra visão ao gênero que já foi o maior representante do cinema de qualidade norte-americano (na época de John Ford e Howard Hawks), mas atualmente morto, o western: entrega uma encenação a única cena de ação em "O Assassinato de Jesse James..." ocorre por volta de seus vinte minutos iniciais, a do assalto ao trem (que deve ter as imagens mais bonitas que vi no cinema recente - todo aquele jogo de luzes e sombras, a construção da expectativa, perfeito), e depois o que vemos é um duelo mais centrado no lado psicológico, não apenas entre Ford e James, como também em relação aos outros membros do grupo (bom destacar também a ótima performance do sempre subestimado Sam Rockwell, que não eteve nenhuma atenção, infelizmente). Dominik realiza uma análise profunda das mudanças ocorridas naqueles personagens, e por isso acerta em cheio ao entregar ao trabalho um ritmo lento e contemplativo, com imagens muito fortes, acompanhadas às vezes por uma ótima trilha sonora composta pelo Nick Cave (que faz uma participação bem legal na parte final), mas sabendo aproveitar perfeitamente os silêncios (toda aquela sequencia que antecede a cena do assassinato é magistral). A narração em off é a única coisa que realmente me incomodou em determinados momentos, simplesmente porque não havia muita necessidade de existir, mas se encaixa muito bem dentro daquele epílogo. É um belíssimo trabalho, de qualquer modo.

sábado, 5 de abril de 2008

Filmes de Março



TOTAL: 22 filmes

Sindicato de Ladrões
(On the Waterfront, 1954, Elia Kazan)- * * * *1/2
Bullitt (1968, Peter Yates) - * * *1/2
Um Bonde Chamado Desejo (A Streetcar Named Desire, 1951, Elia Kazan) - * * * *
Vidas Amargas (East of Eden, 1955, Elia Kazan) - * * * *1/2
Jogos do Poder (Charlie's Wilson War, 2007, Mike Nichols) - * *1/2
O Pecado de Todos Nós (Reflections in a Golden Eye, 1967, John Huston) - * * * *
Elizabeth: A Era de Ouro
(Elizabeth: The Golden Age, 2007, Shekhar Kapur) - *1/2
O Assassinato de Jesse James... (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007, Andrew Dominik) - * * *1/2
O Sobrevivente (Rescue Dawn, 2007, Werner Herzog) - * * *1/2
10.000 A.C. (10.000 B.C., 2008, Roland Emmerich) - *
Cada um com o seu Cinema (Chacun son Cinema, 2007, vários diretores) - * * *
Anjos Caídos (Duo luo tian shi, 1995, Wong Kar-Wai) - * *1/2
Cartola (2007, Lírio Ferreira e Hilton Lacerda) - * * *1/2
Novo Mundo (Nuovomondo, 2006, Emanuele Crialese) - * * * *
Ponto de Vista (
Vantage Point, 2008, Pete Travis) - * *
Quem tem Medo de Virginia Woolf?
(Who's Afraid of Virginia Woolf?, 1966, Mike Nichols) - * * *
A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, 1957, David Lean) - * * *1/2
Spartacus (1960, Stanley Kubrick) - * * *
Santos e Demônios
(A Guide to Recognizing Your Saints, 2006, Dito Montiel) - * * *1/2
Não Estou Lá
(I'm Not There, 2007, Todd Haynes) - * * * * *
Paranoid Park
(2007, Gus Van Sant) - * * * *
12:08 A Leste de Bucareste
(A Fost sau n-a Fost?, 2006, Corneliu Porumboiu) - * *