sábado, 25 de outubro de 2008

Rebobine, Por Favor

(Be Kind, Rewind, 2008, Michel Gondry)

Jack Black and Melonie Diaz in New Line Cinema's Be Kind Rewind

No total é um filme extremamente irregular e até inócuo, mas é meio difícil não se divertir. É um trabalho de uma piada só que parece ir se esgotando com o tempo, além de que às vezes parece que é mero veículo para Gondry exercitar suas obssessões, que em momentos parece mais com tiques do que qualquer outra coisa. Não há exatamente uma base sólida (como acontecia com Brilho Eterno, por exemplo), e talvez isso o torne limitado. No entanto, há certos pontos que faz com que eu me esqueça (peo menos por um tempo) dessas fragilidades.

Uma delas talvez seja uma certa semelhança com o Trovão Tropical. Não apenas porque satiriza determinados cinemas de gênero (se bem que o brilhante filme do Stiller é bem mais abrangente nesse sentido), mas porque em determinados momentos "Rebobine, Por Favor" parece se encaixar no perfil dos buddy movies de um Judd Apatow ou do Frat Pack. Não duvido que o filme foi feito quase todo a partir de improvisos, com um elenco perfeito extremamente livre (cenas como aquela em que o Jack Black vestido de Robocop dá autógrafos na locadora são bons exemplos disso). Outro grande mérito é uma certa nostalgia que impregna no filme, que às vezes acaba funcionando como uma versão do cinema feito nos anos 80, captando também as transformações ocorridas na indústria cinematográfica atual (na verdade, dialoga mais mesmo com a decadência das videolocadoras - a do filme meio que se recusa a se modernizar, tendo em seu acervo apenas fitas VHS). Acaba funcionando também porque é sempre legal ver Black interpretando a si mesmo e porque Mos Def não está tão irritante quanto em 16 Quadras.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Canções de Amor

(Les Chansons D'Amour, 2007, Christophe Honoré)



Assim como Em Paris, Canções de Amor faz uma espécie de retorno ao cinema da nouvelle vague francesa, e talvez por isso o filme possa ser considerado como mera reciclagem, um tipo de cinema superficial e forçado. De fato, são grandes essas armadilhas que Canções de Amor pode cair, mas sorte que estamos diante de um projeto de um cineasta que parece ter um talento único de conduzir uma narrativa, fazendo com que a experiência flua naturalmente, com uma liberdade muito grande. É um filme que não se prende a um gênero (no caso, o musical), assim como o seu retrato do amor é universal (felizmente, porque aí podemos ter Clotilde Hesme - mulher mais bonita do mundo? - e Ludivine Sagnier - infelizmente muito vestida - dividindo uma mesma cama e trocando carícias - espero mesmo que nenhuma feminista leia esse blog). O melhor de tudo é que Honoré faz tudo parecer muito despretensioso, sem fazer alarde com nada, um cinema sincero, completamente apaixonado (novamente, temos aqui mais uma vez o filme evidentemente por um cinéfilo).

Dessa vez, temos uma história dividida em três partes: na primeira, "A Partida", temos um trabalho deliciosamente leve, agradável de se assistir, mas tal sensação é quebrada depois de uma reviravolta inesperada na trama. A partir daí as partes que se seguem ("A Ausência" e "O Recomeço") ganham um tom mais melancólico, às vezes até bastante amargo, comprovando que Honoré sabe balancear perfeitamente temas mais densos com outros muitas vezes cômicos. É algo já presente em "Em Paris", mas aqui a narrativa é mais redonda e enxuta. E as canções também são tão boas que nem o mala do Louis Garrel consegue estragar.

Quer baixar a trilha? Clica aqui, bicho.

sábado, 11 de outubro de 2008

A Vida é Dura

(Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007, Jake Kasdan)


É um tanto decepcionante em sua primeira meia hora (talvez porque qualquer coisa que tenha o nome do Judd Apatow envolvido já me faz criar altas expectativas – e aqui ele não só produz como roteiriza), com uma idéia muito interessante sendo abordada de modo previsível e até mesmo limitada. Tal irregularidade desaparece (ao menos em parte) justamente em sua segunda parte, quando decide expandir seus territórios: o alvo da sátira não passa a ser apenas os clichês das cine biografias (Ray e Johnny e June são os mais focalizados), como também às tendências do mundo musical em cada época. Então alguns momentos fracos de seu início podem muito bem serem compensados por uma tiração de sarro genial com o Bob Dylan, ou então pela viagem em LSD do protagonista com os Beatles, além da menção indireta a Brian Wilson e seu Pet Sounds. É bom também deixar claro que Walk Hard (foi mal, mas o título em português não me desse bem) poderia não ser nem metade do que é caso não tivesse um grande ator como o John C. Reilly, que parece ter ganho o devido reconhecimento que merece há tanto tempo.

É um filme com problemas, mas ainda assim merece entrar na lista dos bons lançamentos que infelizmente foram lançados diretamente nas locadoras.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Filmes de Setembro

Outro mês bem fraquinho, com maior destaque para filmões como os dois do Landis, Trovão Tropical e O Nevoeiro. Acho que faltou escrever sobre esses, mas agora vou tentar ser menos relapso. O vídeo é uma homenagem aos dois Johns: o já citado Landis, e o Belushi, gênios totais.



O Nevoeiro
(The Mist, 2007, Frank Darabont) - * * * *
Zoolander (2001, Ben Stiller) - * * *1/2
Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008, Fernando Meirelles) - * *1/2
Trovão Tropical (Tropic Thunder, 2008, Ben Stiller) – * * * *1/2 (ou seriam * * * *?)
Mamma Mia (2008, Phyllida Lloyd) – *
Hellboy 2: O Exército Dourado (Hellboy 2: The Golden Army, 2008, Guillermo Del Toro) – * * *1/2
O Amor Não tem Regras (Leatherheads, 2008, George Clooney) - * * *
Três Vezes Amor (Definitely Maybe, 2008, Adam Brooks) - * *1/2
Linha de Passe (2008, Walter Salles e Daniela Thomas) - * * *1/2
Clube dos Cafajestes (Animal House, 1978, John Landis) - * * * *
/Mal dos Trópicos/ (Sud Pralad, 2004, Apichatpong Weerasethakul) - N/A
Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980, John Landis) - * * * *
A Vida é Dura (Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007, Jake Kasdan) - * * *

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Em Paris

(Dans Paris, 2006, Christophe Honoré)


A primeira impressão que o filme passa é a de que foi feito sob encomenda para virar mais um “queridinho cult”, idolatrado pelas meninas francesinhas que usam all star, oclinhos de borda grossa, e camisas que orgulhosamente estampam a cara da Amélie Poulain. A introdução aqui é feita por meio de um Louis Garrel falando diretamente com o espectador (ou melhor, para a câmera), em um tom meio blasé que me soa muito forçado. Parecia que o que viria a seguir é um trabalho um tanto calculado, uma colcha de retalhos que não convence.

É uma impressão apressada que se desfaz especialmente a partir do momento em que o filme passa a focar mais o relacionamento dos dois irmão (um deles interpretado pelo já citado Garrel, que pra mim não fede nem cheira, e o outro, pelo Romain Duris, excelente, talvez a melhor interpretação de sua carreira – e olha que eu tenho uma implicância meio besta com ele). Nesse ponto, acho que é um dos trabalhos mais honestos e carinhosos ao retratar o amor fraternal (aliás, todo o filme faz um retrato de uma família que me soa extremamente verdadeiro). Honoré parece sentir um prazer imenso ao filmar essas pequenas coisas, banalidades mesmo (90% das cenas com o Garrel fazem esse estilo, mas são bobagens deliciosas de se ver), mas também possui sensibilidade e talento suficiente para trabalhar com temas maiores, mais dolorosos (te faz rir e chorar ao mesmo tempo, por exemplo).

Talvez seja realmente um pastiche em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tem tanta leveza e densidade (aquele monólogo feito pelo Duris para uma das namoradas do Garrel é sensacional) que muitos outros filmes por aí. Honoré é evidentemente influenciado por toda essa turma da nouvelle vague francesa (François Truffaut e Eric Rohmer me vieram à cabeça em muitos momentos), mas não é algo que pesa contra o filme. É cinema feito por um cinéfilo, e creio que por isso que Em Paris consiga estabelecer uma relação tão boa com o espectador minimamente interessado por cinema.