sábado, 29 de novembro de 2008

Para Fábio Assunção

Deu meia noite, a lua abre um claro
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
A aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, viu?
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, tá?
Muita gente desconhece
A lua é clara, o sol tem rastro vermelho
É o lago um grande espelho onde os dois vão se mirar
Rosa amarela quando murcha perde o cheiro
O amor é bandoleiro, pode inté custar dinheiro
É fulô que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, viu?
Todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, tá?
Todo mundo quer cheirar

Na Asa do Vento,
de Caetano Veloso (escrita por João do Vale e Luiz Vieira). Dedicada também a Maradona e a todos os políticos desse nosso Brasil.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

La Belle Personne

(2008, Christophe Honoré)

A imagem “http://s194184636.onlinehome.fr/cinema/local/cache-vignettes/L434xH289/18948811jpg-a859-32e6d.jpg” contém erros e não pode ser exibida.

Se comparado aos seus dois trabalhos anteriores, La Belle Persone, novo filme do Christophe Honoré, exibido no Festival Varilux de Cinema, pode até parecer impessoal (algo que não é, de modo algum), mas talvez seja não apenas o seu melhor filme até agora como também é o seu trabalho mais sóbrio, maduro, conciso e regular (pra calar a boca de quem acreditava que ele é um diretor de meros pastiches). Curiosamente, o que me vem a cabeça quando penso no filme não é mais Truffaut ou Rohmer, ou qualquer outro cineasta da nouvelle vague, como acontecia com o Canções de Amor e Em Paris, e sim o cinema do Valério Zurlini. Não saberia explicar exatamente o por quê dessa lembrança, mas talvez seja o fato de que La Belle Personne é um filme totalmente centrado em uma observação de gestos e olhares, retirando seus mais belos momentos de cenas muito simples (Junie lendo a tradução de um texto em italiano ou a cena em que ela descobre a carta). Honoré parece observar e estudar todos os jovens em cena (aliás, é o seu trabalho que mais se aproxima do universo adolescente), criando uma cumplicidade enorme que já é muito comum de encontrar em seus trabalhos. Segue a linha de uma história de amor clássica e trágica (não à toa inspirado em um livro escrito no século XVII), que usa e abusa de Nick Drake, o que, aliás, é um golpe baixo (meio difícil não gostar de um filme que se encerra Way to Blue, maravilhosamente utilizada em uma das cenas finais mais bonitas do ano). Tem também um Louis Garrel menos irritante do que o de costume, no seu papel mais corajoso e adulto até o momento, e uma atriz principal que justifica totalmente o título.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Dois Filmes de Albert Lamorisse

O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956)
O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953)

AVISO: Alguns spoilers no parágrafo sobre O Balão Vermelho.

Desconhecia completamente o nome de Albert Lamorisse antes de que começasse a ser exibido pelo Brasil as cópias de dois famosos médias-metragens, ambos premiados em Cannes e que funcionam muito bem como sessão dupla (o modo como tem sido exibidos, aliás), especialmente devido a proximidade entre seus temas, com ambos tecendo um retrato muito delicado do universo infantil.

Em O Balão Vermelho, palma de ouro em 1957 (e que serviu de inspiração para o novo filme do Hou Hsiao-Hsien, A Viagem do Balão Vermelho), acompanhamos a rotina de um garoto com o objeto-título, incitando a inveja de seus colegas de classe e a ira de certos adultos. Impressionante como Lamourisse consegue retirar tanto lirismo e poesia do cotidiano, dando ao balão quase vida própria. A herança direta do cinema mudo aqui é bem evidente, visto que é um trabalho que guarda toda a sua força no poder visual, sendo nesse sentido ainda assim muito sóbrio, simples, sem firulas ou exageros. No modo como trabalha o humor, lembra demais o cinema do Jacques Tati, com um lado cômico baseado em tiradas clássicas, chaplinianas. Além disso, tem pelo menos umas três cenas brilhantes, que muito filme com o triplo da duração não consegue produzir: o encontro com o garoto do balão azul; a “morte” do balão vermelho; e o final, com a viagem de todos os balões da cidade, um momento que parece retirado do imaginário infantil.

Já O Cavalo Branco, ganhador do Grande Prêmio do Júri de Cannes em 53, não conseguiu me envolver ou me emocionar tanto quanto o do balão, talvez por se esgotar mais rapidamente e por não possuir tantos grandes momentos como o seu sucessor. Resta, de qualquer modo, um trabalho de interesse, criando uma espécie de elogio à liberdade, algo que tanto os dois personagens principais pretendem alcançar (algo que também é representado pela cena final do “Balão Vermelho”). Aqui, vemos um cavalo que, sempre que é caçado pelos homens da região, acaba conseguindo fugir, despertando a atenção e o fascínio de um garoto, que consegue domá-lo e que vira seu companheiro. Novamente, há a força estética (um cenário quase que completamente branco), também com poucos diálogos, mas dessa vez há uma narração em off, que dá um tom fabuláico à obra, mas que também me parece desnecessária. Se beneficia por também se encerrar de uma maneira linda.

sábado, 15 de novembro de 2008

Novo Mundo

(Nuovomondo, 2006, Emanuele Crialese)



Respiro já era um belo filme, mas, mesmo que Emanuele Crialese já demonstransse ser um talento promissor, não espearia que seu filme seguinte fosse tão maravilhoso como esse Novo Mundo. Há uma evidente compaixão e afeto por todos aqueles personagens ao mesmo tempo confusos e fascinados por todas as aparentes oportunidades que o tal mundo novo permite. É um projeto bastante pessoal e sempre muito delicado, feito sob as perspectivas dos imigrantes. A maturidade do cineasta é algo que realmente surpreende, não apenas no lado dramaturgico como também do técnico: poderia cair muito bem no mero exibicionismo, como ocorre com diversos trabalhos de estrutura parecida (tipo Flanders, do Bruno Dumont), mais lentos e conteplativos, mas o que Criasele demonstra é ao mesmo tempo virtuosismo e segurança, nos apresentando imagens puras, cristalinas. Dois belos exemplos de seu talento nessa área: o plano em que mostra a partida do navio, um dos momentos mais embláticos do filme, quando os viajantes rompem de vez (ao menos fisicamente) os laços com suas raízes; a outra é aquela espécie de visão geral do "hospital", ao som de "I'm Feeling Good", uma parte muito curta, mas que chama bastante a atenção. Interessante também notar que Novo Mundo se distancia muito do melodrama convencional, especialmente em umas passagens surreais, como as do legumes gigantes ou o banho de leite (algo que me lembrou, aliás, de Em Busca da Vida, do Jia Zhang-Ke, outro grande filme). Cena final também é de uma beleza
extraordinária.

sábado, 8 de novembro de 2008

A Promessa

(La Promesse, 1996, Jean-Pierre & Luc Dardenne)



Jean Pierre & Luc Dardenne parecem fazer cinema com um principal (único?) objetivo: a de nos apresentar pequenas estórias sobre pessoas comuns vivendo situações extremas, fazendo um estudo detalhista e objetivo sobre seus personagens, e sempre com uma câmera que faz questão de estar próxima a eles, de não perder um gesto ou um olhar. Alguns, no entanto, podem afirmar que a dupla se repete, que se entrega a fórmulas; sim, talvez eles estejam certos, já que as semelhanças existentes entre "A Promessa", "A Criança" e "O Filho" (os que vi deles; falta apenas Rosetta - e não gostei desse último da primeira vez que o vi, e obviamente tenho que revê-lo) estão longe de ser poucas: além de atenderem à "regra" que citei no início, todos estes três nos apresentam conflitos que se relacionam a pai e filho: em "A Criança", o pai adolescente precisa amadurecer para cuidar do filho recém-nascido; em "O Filho", um pai se confrontava com o assassino de seu filho. Mas o que torna cada filme especial é como e sobre qual prisma eles decidem explorar a situação.

Em "A Promessa" (e agora paro com as comparações e falarei mais sobre o filme em questão, prometo), filho (Jérémie Renier, protagonista de "A Criança") e pai (Olivier Gourmet, de O Filho) trabalham com o negócio de imigrantes ilegais, até que um dos "empregados" morre acidentalmente, e é nessa hora que o filme "explode" (essa introdução seguida de algo que mudará a vida dos personagens é bem típica deles também). O que sempre é explorado, desde o início, é a cumplicidade existente entre o pai e o filho; a todo momento os Irmãos Dardenne se interessam por construir um panorama geral desta relação (o trabalho em conjunto, as brigas, mas também os momentos de amizade, etc.) e, após o tal acontecimento, nos mostra a decomposição dessa cumplicidade, devido especialmente ao choque de interesses. E é aí que "A Promessa" se aproxima muito do principal tema de "A Criança" (foi mal, voltei às comparações): o amadurecimento. O personagem do filho, para tentar cumprir a promessa feita ao empregado pouco antes deste morrer, precisa assumir responsabilidades e contrariar ordens do pai para cumprir esse objetivo (e até abre mão das brincadeiras com seu kart). Essa trajetória é contada sempre de modo cru e sufocante pelos irmãos, sem se utilizar de nenhum tipo de trilha sonora, e extraindo atuações bastante naturais de todo o elenco, provando que às vezes uma câmera na mão e uma idéia na cabeça pode ser suficiente. E o modo como decidem finalizar esta pequena grande estória traz uma mensagem implícita: a de que, mesmo que tenham parado de acompanhar a vida daqueles personagens, a vida deles continua.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Filmes de Outubro

Vão me desculpando pela ausência de quase duas semanas (apesar de que não tenho uma desculpa considerável a dar - é só descaso mesmo). Acho totalmente normal que um blog vá perdendo a força com o tempo, ainda mais quando o seu dono é uma pessoa inconstante e indisciplinada (como, err... eu). Escrevi muito pouco nesses dias, mas é uma atividade que quero manter como uma das minhas prioridades (não por obrigação, mas sim porque é algo que me faz bem mesmo). Os filmes também foram poucos, mas isso está sendo comum ultimamente, infelizmente (se bem que, ao que tudo indica, Novembro pode ser diferente, já que assisti a três - o por quê de não escrever sobre eles é algo que eu também me pergunto). Enfim, vou parar de frescura, segue a lista:

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Os Anjos Exterminadores (Les Anges Exterminateurs, 2006, Jean-Claude Brisseau) - ****
Cleópatra (2008, Julio Bressane) - ***1/2
c. O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956, Albert Lamorisse) - ****
c. O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953, Albert Lamorisse) - ***
c. A Propósito de Nice (À Propos de Nice (1930, Jean Vigo) - ****
c. Taris ou a Natação (Taris, Roi de L'eau, 1931, Jean Vigo) - ***1/2
c. Zero em Comportamento (Zéro de Conduite: Jeunes Diables au Collège, 1933, Jean Vigo) - ****
Stroszeck (1977, Werner Herzog) - ****
Canções de Amor (Les Chansons D'Amour, 2007, Christophe Honoré) - ****
O Segredo do Grão (La Graine et le Mulet, 2007, Abdel Kechiche) - ***
Rebecca (1940, Alfred Hitchcock) - ***1/2
As Luzes de um Verão (Mua he Chieu Thang Dung, 2000, Anh Hung Tran) – ***1/2
Rebobine, Por Favor (Be Kind Rewind, 2008, Michel Gondry) – **1/2
Baixio das Bestas (2007, Cláudio Assis) - **