sexta-feira, 30 de maio de 2008

I've Got Soul, But I'm Not a Soldier



Richard Kelly é um sujeito seriamente perturbado.

E que continue assim.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Um pouco sobre os vencedores de Cannes 2008


Muito irônico e curioso que, em um ano em que o Festival de Cannes apresentou uma seleção oficial que continha os cineastas mais badalados do Cinema atual (e medalhões como Clint Eastwood – que, como não podia sair sem nada, acabou levando um prêmio especial, assim como a Catherine Deneuve), o filme vencedor seja um que foi um tanto ignorado (digo: em relação aos seus concorrentes) no momento em que saiu a lista com os indicados: Entre Paredes, de Laurent Cantet, um nome que para mim era até então desconhecidos, apesar de conhecer de nome (o que não conta em nada, aliás) alguns de seus projetos, como Em Direção ao Sul.

Quem acompanhou de perto a cobertura do festival, no entanto, viu o lobby em torno do filme crescer consideravelmente nesses últimos dias, tendo sido exibidos apenas (se eu estiver errado, me corrijam, por favor) na sexta-feira, ganhando logo vários elogios por parte da crítica, até onde sei o mais próximo que um filme presente na competição chegou de uma unanimidade. Tendo em vista o fato de que a França não ganhava a Palma desde 1987, quando Sob o Sol de Satã, de Maurice Pialat, levou a melhor e de que Entre Paredes é um filme com uma proposta social/política (e Sean Penn deixou claro em seu discurso de abertura que o vencedor seria um projeto com tal característica), o prêmio para Cantet virou quase que uma certeza.

Cheguei a apostar, ainda no início do festival, que o vencedor seria Um Conte de Noel, pensamento que foi perdendo a força com o passar do tempo, mas não esperava que o trabalho de Desplechin fosse sair de mãos vazias. Depois comecei a sugerir uma possível vitória de Gomorra, de Matteo Garrone, que, se acabou não ficando com o prêmio máximo, levou o Grande Prêmio do Júri (e outro italiano também foi premiado: Il Divo, que venceu o Prêmio do Júri). Na categoria de ator quem ganhou foi mesmo Benicio Del Toro, por Che, vitória já esperada e que o transforma logo em grande favorito ao Oscar. Em atriz, por outro lado, ocorreu uma surpresa, com a brasileira Sandra Corveloni vencendo por Linha de Passe, novo filme de Walter Salles e Daniela Thomas.

Para os interessados, aí vão dois trailers: o primeiro, de Entre Paredes, e o segundo, de Gomorra:


sábado, 24 de maio de 2008

Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal

(Indiana Jones and the Kingdom of the Crystal Skull, 2008, Steven Spielberg)



Me lembrou bastante o último filme do Rocky, não por uma eventual semelhança técnica ou estética, e sim porque tanto o filme de Stallone quanto essa nova aventura do Indiana Jones parecem necessitar de uma certa nostalgia por parte do espectador para que a experiência de assisti-los seja mais completa. O maior problema, no entanto, é que eu, que não possuo nenhum tipo de vínculo afetivo com nenhuma das duas produções (Rocky nem sequer cheguei a ver os filmes anteriores, mas no caso do Indiana já conhecia a trilogia - vi há um bom tempo com minha mãe em uma maratona que o Telecine exibiu com os filmes da série), e o pior de tudo é que são dois projetos que não possuem nenhum outro grande mérito.

No entanto, eu até admiro a paixão que o Stallone apresenta pelo seu personagem, fazendo um filme de relativamente baixo orçamento, muito mal filmado e atuado, mas com um coração bem grande, enquanto neste "O Reino da Caveira de Cristal" me parece simplesmente um trabalho muito distante, morto. Spielberg parece evocar uma narrativa de um tom mais clássico especialmente no início, com aquele logo antigo da Paramount e tudo o mais, mas a atmosfera parece fake, minimamente calculado, e talvez isso se deve ao fato da utilização de cenários digitalizados, o que confere um tom completamente artificial ao trabalho (me lembra demais Capitão Sky, e isso não é muito bom). É construído, como já foi dito em algumas críticas, como se fosse uma história presente em alguma revista pulp, com mil e uma referências a diversos gêneros cinematográficos, especialmente os que estão presentes na bastante versátil filmografia de Spielberg (há ação e aventura, mas também ficção científica e uma preocupação em mostrar os valores da família - e esse último item eu dispenso, obrigado), e essa atmosfera também pode ser sentida na caracterização exagerada dos personagens e nas inúmeras frases feitas (desse ponto eu gosto muito, aliás). Dá um charme a mais, sem dúvida, mas esse amontoado de referencias vai cansando e à vezes me parece meio forçado (e só porque a trama é assumidamente meio vagabunda não quer dizer que a preguiça presente nesse "Indiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal" possa ser justificada).

É muito bom, por outro lado, ver que a série conseguiu se adaptar à modernidade, logo o filme consegue não ficar preso ao universo criado pela trilogia original e creio que servirá como diversão tanto para os adultos mais saudosos quanto para a nova geração. Os personagens cresceram, envelheceram, sentiram a passagem do tempo, e o filme tenta deixar isso o mais claro possível. O ruim dessa parte é que o tempo não parece ter feito bem ao espírito da série (e usar pro mau uma alta tecnologia não ajuda em nada).

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Le Eternauta

Segundo Kléber Mendonça Filho, sobre o suposto novo filme da Lucrecia Martel:



"Chama-se El Eternauta, aparentemente uma ficção científica, e se passa “depois de uma nevasca mortal em Buenos Aires”. Yeah."

Olha, podem me chamar de babão, mas esse notícia me animou como poucas. Promete muito.

domingo, 18 de maio de 2008

O Cinema em 16 Minutos

Aqui e aqui, já que infelizmente não consegui postar os vídeos na íntegra.

sábado, 17 de maio de 2008

Na Natureza Selvagem

(Into the Wild, 2007, Sean Penn)



Tinha tudo para ser realmente um garnde filme (e o que me fez acreditar nisso foi o maravilhoso primeiro ato), mas acaba se comprometendo devido a uma certa irregularidade que permeia os 150 minutos de projeção. O que mais me agrada é como Sean Penn decide nos apresentar a mensagem do trabalho, que, caso tivesse parado nas mãos de um, sei lá, Ron Howard, poderia receber aqueles insuportáveis contornos "edificantes"; é um fime sobre a (tentativa de alcançar) liberdade, e Penn faz questão de tornar tudo muito visceral, caloroso, extremamente vivo, se aventurando junto a seu protagonista, e demonstrando considerável senso estético, algo que não esperava dele (é bem filmado, resumindo tudo). Interessante é também notar que o filme não se deixa levar por utopismos bobos ou imaturos, e o que prova isso é aquela amarga e desoladora (e linda, é claro) sequencia/conclusão final. A grande surpresa mesmo fica mesmo por conta do Emile Hirsch, de quem nunca fui grande admirador, mas a entrega e força com que interpreta seu personagem impressiona.

Nada me desagrada por completo, mas me incomoda especialmente o tratamento dado a certos personagens, como o casal de hippies ou o casal de gringos, que muitas vezes beiram a mera caricatura, ou então os próprios pais do protagonista, ambos com construção bem previsíveis (é geralmente bem simplista ao tratar dos assuntos familiares, apesar de possuir momentos fortes). O ritmo também não é dos mais constantes, e a longa duração me parece bastante desnecessária; acaba virando um filme com estrutura um tanto disforme, pouco redondo, e coisas como a narração em off acabam intensificando esse problema, chegando a parecer um pouco redundante. Melhora bastante quando o personagem de Hol Holbrook, merecidamente indicado ao Oscar, com uma interpretação bem densa, entra em cena, culminando numa sequencia de encerramento, que, como já disse, é comovente. Um trabalho cheio de imperfeições, mas ainda assim bem bonito.


Clipe para a bela canção-tema do filme, Guaranteed, do Eddie Vedder

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Desplechin, Martel e Trapero

Agora há pouco encontrei trailers de três filmes aguardadíssimos (ao menos por mim) e que coincidentemente estão na seleção de Cannes deste ano. O primeiro é o Un Conte de Noel, do Arnaud Desplechin (seria uma nova obra-prima?), o outro é o novo da Lucrecia Martel (acho que pela primeira vez trabalhando com o cinemascope), La Mujer Sin Cabeza, e, por último, temos Leonera, dirigido pelo seu conterrâneo Pablo Trapero. Aproveitem!


Un Conte de Noel


La Mujer Sin Cabeza


Leonera

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Filmes de Abril




A
Espiã (Zwartboek, 2006, Paul Verhoeven) - * * *
Medo da Verdade (Gone Baby Gone, 2007, Ben Affleck) - * * *1/2
Apenas uma Vez (Once, 2006, John Carney) - * * *
Chumbo Grosso (Hot Fuzz, 2007, Edgar Wright) - * * *1/2
Estranhos no Paraíso (Stranger Than Paradise, 1984, Jim Jarmusch) - * * *1/2
Shine a Light (2008, Martin Scorsese) - * * *1/2
Jogada de Risco (Hard Eight/Sydney, 1996, Paul Thomas Anderson) - * * * *
Olhos de Serpente (Hard Eight/Sydney, 1996, Paul Thomas Anderson) - * * * *
Jumper (2008, Doug Liman) - * *1/2
Luz Silenciosa (Stellet Licht, 2007, Carlos Reygadas) - * * * *1/2
Morrer ou Viver (Dead or Alive: Hanzaisha, 1999, Takashi Miike) - * * *
2 Dias em Paris (2 Days in Paris, 2007, Julie Delpy) - * *
O Grande Chefe (Direktøren for det Hele, 2006, Lars Von Trier) - * *1/2
Dead Man
(1995, Jim Jarmusch) - * * * *
Down By Law (1986, Jim Jarmusch) - * * * *1/2
Dias de Ira (Vredens Dag, 1943, Carl Th. Dreyer) - * * * *
Across the Universe (2007, Julie Taymor) – *1/2
O Reino (The Kingdom, 2007, Peter Berg) - * * *
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1969, Glauber Rocha) - * * *1/2
Homem de Ferro (Iron Man, 2008, Jon Favreau) - * * *1/2
Contraponto (Tideland, 2005, Terry Gilliam) - * *1/2

TOTAL: 21 filmes.

sábado, 3 de maio de 2008

Homem de Ferro

(Iron Man, 2008, Jon Favreau)



Está possivelmente acima de boa parte dos blockbusters que vi recentemente simplesmente por demonstrar preocupações que não se limitam à área técnica. Jon Favreau parece ser inteligente o suficiente para não inflar demais a obra ou torna-la um mero veículo para exibir efeitos especiais, muiot mais interessado em, por exemplo, explorar o lado cômico do projeot (o que não é uma surpresa, visto que ele é envolvido com o meio da comédia) ou em apresentar uma crítica significante à indústria bélica (apesar de não achar que o filme deva ser levado tão a série em relação à este último aspecto). Bom destacar que o humor aqui não é apenas um "alívio", como também faz parte da essência do trabalho, e por isso mesmo a escolha do genial Robert Downey Jr. é perfeita: é um ator que consegue muito bem apresentar ao mesmo tempo o conflito pessoal dramático vivido por seu personagem, mas possuindo também uma capacidade muito grande de nos fazer rir. "Homem de Ferro" também se destaca de outras produções do gênero devido a atenção que parece reservar a momentos pequenos e singelos, especialmente aqueles envolvendo Downey e Gwyneth Paltrow (muito bem no papel - e tá lindona também), como a longa e incrivelmente descontraída (aliás, taí uma palavra que pode muito bem resumir "Homem de Ferro": desconstráido) sequencia em que ela "troca" o coração dele, ou da cena da dança, em que a câmera passa um bom tempo encarando a face de Paltrow, um momento de sensibilidade rara. E esses são aspectos que estão sendo um tanto ignorados, e essa leveza do trabalho é o que me fez sair muito mais satisfeito do que eu esperava.