segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

(Inglorious Basterds, 2009, Quentin Tarantino)



Demorou 5 anos para que Quentin Tarantino lançasse sua primeira obra pós-Kill Bill e, sinceramente, eu não duvidaria que ele tenha passado esse tempo todo escrevendo o roteiro de Bastardos Inglórios (uma tradução literal, finalmente!). Ou melhor, reescrevendo. É um projeto ambiciosíssimo (e menos genérico que eu esperava), cheio de personagens e subtramas e só mesmo muito trabalho para conseguir unir tudo isso em uma obra coesa e de ritmo perfeito (são 153 minutos mesmo?). Nessa ambição, é um projeto bastante similar à Kill Bill, mas em termos de execução está muito mais próximo da polidez e perfeccionismo de Jackie Brown (e quase tudo o que falei nesse comentário vale para este aqui também). É um filme que consegue subverter as regras do gênero em que está inserido, não apenas por mostrar judeus como assassinos tão frios como os nazistas, mas também porque, para um "filme de guerra", Bastardos Inglórios possuem até que bastante conversação. E não é um papo-furdo sobre "royale with cheese" ou "Like a Virgin", mas um diálogo que faz parte da ação (mais ou menos como a discussão entre A Noiva e Bill no final de Kil Bill Vol. 2), como a sequencia inicional ou a conversa no bar (talvez o grande momento do filme - meia hora de diálogo, 5 segundos de tiroteio).

Todos os filmes de Tarantino me parecem carregar sempre uma visão muito romântica da 7ª Arte, mas em Bastardos isso vem de um modo ainda mais direto (talvez até mais que em KB), já que aqui, afinal, a própria trama gira em torno de um Cinema. Em Bastardos Inglórios, é esta arte tem a capacidade de acabar com guerras (apesar de que tal mensagem não é expressa de modo tão edificante quanto possa parecer), de mudar o curso da História, o único lugar em que Hitler é morto tendo sua cabeça metralhada por um maníaco chamado Eli Roth (interpretando ele mesmo, claro). O filme se encerra com uma frase de uma auto-indulgência bem descartável, mas eu não culpo Tarantino por ter consciência daquilo; soa como um suspiro depois de um trabalho longo, muito longo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um Pouco Sobre Ryan Larkin



Ryan Larkin tem uma história curiosa: foi "pupilo" de Norman McLaren (curta-metragista experimental e um dos grandes nomes da animação mundial) na National Film Board of Canada, realizando seu primeiro curta em 1965, o ótimo Syrinx (sobre o qual falarei em parágrafos posteriores), quando tinha apenas 22 anos idade, concorrendo ao Oscar quatro anos mais tarde pela primeira vez, com o genial Walking. Em 72, fez inda mais um filme Street Musique, e que foi sua despedida. A partir daí, a carreira de Larkin entrou por água abaixo: largou a NFBC e rendeu-se ao vício do álcool e da cocaína, chegando até mesmo a viver como um sem-teto nas ruas de Montreal.



Em 2004, o outrora promissor animador foi resgatado, se tornando material para um curta-metragem dirigido por Chris Landreth que ganhou bastante repercursão ao vencer o Oscar de Melhor Animação. Todos aqui se apresentam como personagens desfigurados, fazendo quase um retrato da mente degenerada de Larkin. Ao invés de adotar um tom sentimentalista ou sensacionalista, Landreth opta por um caminho menos convencional e previsível (algo que me parece ser típico do cineasta, pelo que pude ver em seus trabalhos anteriores) para se fazer uma biografia, sendo uma obra extremamente criativa e visualmente forte, mas nunca renegando o conteúdo. Um filme que certamente receberia o selo de aprovação por parte de Ryan Larkin.

Quanto à filmografia do biografado, pude conferir dois de seus curtas, como afirmei no primeiro parágrafo. O primeiro deles, Syrinx, tem seu ponto de partida na mitologia grega, que, segundo o wikipédia inglês, representa uma ninfa conhecida pela sua castidade, desejada pelo Deus Grego Pã, e todo o restante da história podemos acompanhar através de imagens inicialmente abstratas, mas que após algum tempo acabam por ganhar formas, em uma atmosfera onírica reforçada pela música de Claude Debussy. O outro, Walking, tem uma idéia simples, mas uma execução que impressiona. Na época, Larkin foi taxado de o "George Harrison ou o Frank Zappa da Animação", o que não me surpreende tanto, já que Walking carrega bastante a psicodelia do período, realçada pela ótima trilha sonora, mostrando os corpos dos personagens em constantes transformações (assim como a própria época em que foi feito), seja em tamanho ou em cores (o próprio "protagonista" tem rosto e corpo indefinidos, em constante mudança).

Logo abaixo, Syrinx e Walking.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Filmes de Setembro

Esse talvez tenha sido meu maior período de ausência desde que eu criei o blog, e peço desculpas. Nem tenho muita explicação, é mais por desinteresse mesmo, até porque tenho visto material que redenria bons posts (tem um sobre o Ryan Larkin vindo por aí, aguardem).



c. Guernica (1950, Alain Resnais and Robert Hessens) - * * *1/2
c. Darkness/Light/Darkness (Tma/Svetlo/Tma, 1989, Jan Svankmajer) - * * * *
c. The Karen Carpenter Story (1987, Todd Haynes) - * * * *
A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'Aube, 2008, Phillippe Garrel) - * * * *
Se Beber, Não Case! (2009, Todd Phillips) - * * *
Soberba (The Magnificent Ambersons, 1942, Orson Welles) - * * * *
Sempre Bela (Belle Toujours, 2006, Manoel de Oliveira) - * * *1/2
c. Les Astronautes (1959, Walerian Borowczyk e Chris Marker) - * * *1/2
c. Byt (1968, Jan Svankmajer) - * * * *
Desejo e Perigo (Se, Jie, 2007, Ang Lee) - * * *1/2
c. The House of Small Cubes (Tsumiki no Ie, 2008, Kunio Katô) - * * * *
c. The Aroma of Tea (2006, Michael Dudok de Wit) - * * *1/2
c. Father and Daughter (2000, Michael Dudok de Wit) - * * * *
Songs From the Second Floor (Sånger Från Andra Våningen, 2000, Roy Andersson) -
c. The Monk and the Fish (Le Moine et le Poisson, 1994, Michael Dudok de Wit) - * * *1/2
c. Vincent (1982, Tim Burton) - * * *1/2
c. Partly Cloudy (2009, Peter Sohn) - * * * ou * * *1/2
Up! (2009, Pete Docter) - * * *1/2
c. Ryan (2004, Chris Landreth) - * * * *
c. Syrinx (1965, Ryan Larkin) - * * * *
c. Kiwi! (2006, Dony Permedi) - * *1/2
c. 9 (2005, Shane Acker) - * * *
c. Balablok (1972, Bretislav Pojar) - * * * *
Cinzas do Passado (Dung Che Sai Duk, 1994, Kar Wai Wong) - * * *1/2
Eu Te Amo, Cara (I Love You, Man, 2009, John Hamburg) - * * *1/2
c. Presto (2008, Doug Sweetland) - * * * *
O Homem Sem Passado (Mies Vailla Menneisyyttä, 2002, Aki Kaurismaki) - * * *1/2
Moloch (Molokh, 1999, Aleksandr Sokurov) - * * * *
A Agenda (L'Emploi du Temps, 2001, Laurent Cantet) - * * *1/2
O Anticristo (Antichrist, 2009, Lars Von Trier) - * *
O Homem que Amava as Mulheres (L'homme qui aimait les Femmes, 1977, François Truffaut) - * * *1/2
c. Wallace and Gromit: The Wrong Trausers (1993, Nick Park) - * * *1/2
Wallace and Gromit: A Batalha dos Vegetais (Wallace & Gromit in The Curse of the Were-Rabbit, 2005, Nick Park e Steve Box) - * * *
c. The Adventures of André & Wally B. (1984, Alvy Ray Smith) - * *1/2
c. Luxo Jr. (1986, John Lasseter) - * *1/2
c. Red’s Dream (1987, John Lasseter) - * * *1/2
c. Tin Toy (1988, John Lasseter) - * * *1/2
c. Knick Knack (1989, John Lasseter) - * * *
c. Geri’s Game (1997, Jan Pinkava) - * * * *
c. For The Birds (2000, Ralph Eggleston) - * *1/2
c. Mike’s New Car (2002, Pete Docter e Roger Gould) - * * *
c. Boundin’ (2003, Bud Luckey e Roger Gould) - * * *
c. Jack-Jack Attack (2005, Brad Bird) - * * *1/2
c. One Man Band (2005, Mark Andrews e Andrew Jimenez) - * * *1/2
c. Mater and the Ghostlight (2006, John Lasseter and Dan Scanlon) - * * *
c. Lifted (2006, Gary Rydstrom) - * * *
Moscou (2009, Eduardo Coutinho) - * * * *
c. Le Retour A La Raison (1923, Man Ray) - * * *1/2
Um Sopro do Coração (Le Souffle au Coeur, 1971, Louis Malle) - * * *

TOTAL: 17 filmes + 33 curtas.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Up

(2009, Pete Docter)



Pela primeira parte, parece ser a obra-prima da Pixar (até superior a Wall-E, o grande filme da produtora até o momento, junto com Toy Story), apesar de nem tê-lo visto em 3D (mas consigo imaginar o espetáculo que deve ser ver no formato cenas como a da casa levantando vôo - ora, se já fiquei impressionando sem os óclinhos...). Os grandes momentos de Up estão ali: o protagonista, quando criança, se fascinando com o filme de seu aventureiro favorito, seguido da sequencia que faz uma espécie de resumo da sua vida de casado, embalado pela excelente trilha sonora de Michael Giachino. São nessas cenas wur Up se revela uma obra comovente e madura sobre envelhecimento, passagem do tempo, perda (e a presença do "garoto explorador" dá bastante força aos momentos cômicos). O filme começa a cair (sem trocadilhos - brincando, foi proposital), no entanto, mais ou menos a partir da hora em que a casa aterrisa no lugar destinado. É aí que vemos que a até então mais ousada aventura da Pixar se prende a fórmulas, tendo que se adequar às normas de uma animação convencional (a aparição d eum antagonista, por exemplo, me parece extremamente forçada). Claro, Wall-E, em sua segunda parte, também adere a convencionalismos, mas ainda assim o discurso da obra (sobre futuro, homem x máquina) só era enriquecido, enquanto em Up ela me parece possuir uma função de preenchimento. Poderia ter sido um curta sensacional, mas acabou sendo só um bom filme.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Filmes de Agosto



Damnation (1987, Béla Tarr) - * * *
Velvet Goldmine (1998, Todd Haynes) - * * *
A Malvada (All About Eve, 1950, Joseph L. Mankiewicz) - * * * *
O Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985, John Hughes) - * * * *1/2
Sargento York (Sergeant York, 1941, Howard Hawks) - * * *1/2
c. L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat (1895, Louis and Auguste Lumiére) - * * *1/2
c. L'arroseur arrosé (1895, Louis Lumiére) - * * *1/2
c. La Sortie des usines Lumière (1895, Louis Lumiére) - * * *
Valsa com Bashir (Vals Im Bashir, 2008, Ari Folman) - * * *1/2
Sinédoque, Nova York (Synecdoche, New York, 2008, Charlie Kaufman) - *1/2
c. Bataille de Boules de Neige (1896, Louis Lumiére) - * * *1/2
Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984, John Hughes) - * * *
A Condessa Descalça (The Barefoot Contessa, 1954, Joseph L. Mankiewicz) - * * * *
Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952, Vincent Minelli) - * * * *
Os Idiotas (Idioterne, 1998, Lars Von Trier) - * * *
A General (The General, 1926, Buster Keaton) - * * * *
c. Má Sorte (Hard Luck, 1921, Buster Keaton) - * * *1/2
c. Uma Semana (Hard Luck, 1921, Buster Keaton) - * * *1/2
Arrasta-me para o Inferno (Drag Me to Hell, 2009, Sam Raimi) - * * * *
A Mãe (Mat, 1926, Vselodov Pudovkin) - * * * *
c. Documentário (1966, Rogério Sganzerla) - * * *1/2
Se Nada Mais Der Certo (2008, José Eduardo Belmonte) - * * *1/2
Rosetta (1999, Jean Pierre & Luc Dardenne) - * * *1/2
c. The Alphabet (1968, David Lynch) - * * *1/2
c. Palíndromo (2001, Philippe Barcinski) - * *
Fome Animal (Braindead, 1992, Peter Jackson) - * * *1/2
c. The Amputee (1974, David Lynch) - * *1/2
c. Camera (2000, David Cronenberg) - * * * *
Guerra Sem Cortes (Redacted, 2007, Brian DePalma) - * * * *1/2
O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955, Billy Wilder) - * * *1/2
Amantes (Two Lovers, 2008, James Gray) - * * * * ou * * * *1/2

TOTAL: 20 filmes + 9 curtas.

domingo, 6 de setembro de 2009

O Mascote do ToLtal Trash?



Ou esse, ou o Bluto. Tô em duvida. Let's rock.

sábado, 5 de setembro de 2009

Amantes

(com alguns spoilers!
)


O novo filme do James Gray é o melhor do ano (e felizmente eu não sou o único a dizer isso). Não vou escrever um texto, mas queria deixar isso registrado. É de uma tristeza e uma amargura impressionantes. Meu irmão disse que era parecido com Os Donos da Noite em um certo ponto: tem tantas cenas boas que poderiam preencher a categoria mais legal do Alfred (prêmio da Liga), a de "cena do ano". Eu concordo e tem pelo menos umas duas que poderiam ocupar as primeiras posições: a discussão (e o sexo) no terraço, com aquela ventania estrondosa; a despedida da personagem da Gwyneth, com todo aquele silêncio que precede a conversa, a ansiedade da espera, e depois o diálogo, com aqueles closes; e, pra falar a verdade, qualquer coisa que vem depois disso, céus. Fora a atuação do Phoenix, que é extraordinária.

Editado (07/09): Faltou dizer que calei minha boca. Fiz há algum tempo um post sobre The Lost City of Z, novo projeto do Gray, e escrevi com essas palavras, sobre Amantes: "Abril aqui no Brasil, e que com certeza verei em DivX, já que, se chegar a passar aqui em Fortaleza, com certeza vai ser em uma única sala do Espaço Unibanco com uma cópia digital fuleira e mutilada.". Pois é, o filme estreou por aqui no exato dia do lançamento nacional, com cópia em película. Bom trabalho da Playarte. Não falo mais é nada...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O primeiro curta de Rogério Sganzerla



- Mudou! Saiu o filme do Samuel Fuller, que sacanagem!
- De quem?
- Samuel Fuller, não conhece Samuel Fuller? Um diretor americano bacana, que fez Casa de Bambu, A Lei dos Marginais, filme colorido filmado no Japão, muito bacana, cê viu sim.
- Nah, não me lembro não... Vamo tomar um café.
- Cê paga?
- Pago

Documentário
(1966)

domingo, 23 de agosto de 2009

Velvet Goldmine

(1998, Todd Haynes)



Para completar a filmografia de Todd Haynes (entre os seus longa-metragens, já que infelizmente ainda não tive a oportunidade de ver o “The Karen Carpenter Story”), só me faltava esse terceiro filme, Velvet Goldmine, que pude assistir há algumas semanas, sendo, curiosamente, o seu trabalho que mais se aproxima da sua obra-prima, Não Estou Lá. Na verdade, me parece mais um rascunho precipitado do que ele iria fazer futuramente, mas ainda assim é uma obra excitante. Não são parecidos apenas por estarem ligados ao universo musical, mas por também brincarem com a estrutura narrativa e pela mistura entre gêneros. Velvet Goldmine é sem dúvida uma obra rica e complexa, mas é visível também que é um trabalho um tanto descontrolado, excessivo, daqueles casos em que o passo parece ser maior que a perna.

Entre os trunfos do projeto, destaco o belo painel que faz de uma determinada época (a Inglaterra que fervia ao som do glam rock no começo dos anos 70) e daquela efeverscência cultural do período. Um dos protagonistas, o cantor fictício Brian Slade, é inspirado em Ziggy Satrdust de David Bowie, mas parece incorporar elementos de outros artistas do rock (afinal, quantas vezes já ouvimos falar de músicos que teriam supostamente encenado sua própria morte? – temos Elvis e Jim Morrison, pra começo de conversa). Velvet Goldmine felizmente não nos oferece respostas concretas sobre o enigma de Slade; nunca conseguimos entende-lo por completo, é um fantasma que sempre parece nos escapar (se assemelha a Dylan nesse ponto). Não deixa de ser também um filme sobre a memória, sobre como víamos (ou vemos) nossos ídolos (a história de Slade nos é apresentada através de flashbacks, com depoimentos de pessoas que participaram de suas vida dados ao personagem de Christian Bale – uma estrutura de pseudo-documentário que se reflete de modo mais direto em Veneno e Não Estou Lá).

Outra menção musical interessante que o filme faz está na personagem de Ewan McGregor, Curt Wild, claramente inspirado em Iggy Pop (mas ele canta TV Eye, dos Stooges, em um show, então entregaram o ouro), mas me parece incorporar alguns traços da persona de Lou Reed também, como a terapia de eletro-choque que Curt sofre quando seus pais descobrem sobre a sua homossexualidade ou uma frase que é dita no inicio pelo seu personagem (algo como “Eu não entendo como todo mundo pode ser bissexual. Pra mim é impossível que alguém finja ser gay” – frase de autoria de Reed, mas não exatamente com essas palavras). Como vocês podem perceber, a estória do filme se baseia em três personagens (Slade, Wild e o jornalista vivido por Bale), e isso resulta na falta de foco, o que apenas dá mais irregularidade à obra, que no geral é mais uma colcha de retalhos, um amontoado de idéias. O que não deixa de ser interessante.

Fracasso à Vista



Sinceramente, não sei se vai ser bom ou ruim (e não tenho muitas expectativas), mas esse filme me cheira à fracasso comercial. Vai entrar pra história, de um jeito ou de outro (faliria o James Cameron, caso ele não tivesse feito Titanic).

terça-feira, 18 de agosto de 2009

4x Lumiére

Lumiére descobre a imagem:


Lumiére descobre a trilha sonora:



Lumiére desobre o roteiro:

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Filmes de Julho



Quem Sabe? (Va Savoir, 2001, Jacques Rivette) – * * *1/2
O Joelho de Claire (Le Genou de Claire, 1970, Eric Rohmer) – * * * *
Filhos de Hiroshima (Gembaku no Ko, 1952, Kaneto Shindô) – * * *1/2
Jean Charles (2009, Henrique Goldman) - * *1/2
O Silêncio (Tystnaden, 1963, Ingmar Bergman) – * * * *
XXY (2007, Lucía Puenzo) - * * *1/2
As 4 Aventuras de Reinette e Mirabelle (4 aventures de Reinette et Mirabelle, 1987, Eric Rohmer) – * * * *
Um Casamento Perfeito (Le Beau Mariage, 1982, Eric Rohmer) – * * *1/2
Viva Zapata! (1952, Elia Kazan) - * * *1/2
The Blackout (1997, Abel Ferrara) – * * * *1/2
A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington, 1939, Frank Capra) – * * * *1/2
Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, 1962, Ingmar Bergman) – * * *1/2
A Primeira Página (The Front Page, 1974, Billy Wilder) – * * *1/2
Procedimento Operacional Padrão (Standard Operating Procedure, 2008, Errol Morris) – * * * *
Sicko (2007, Michael Moore) – *1/2
Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945, Billy Wilder) – * * *
Através de um Espelho (Såsom i en Spegel, 1961, Ingmar Bergman) – * * * *
Este Mundo É um Hospício (Arsenic and Old Lace, 1944, Frank Capra) – * * *1/2
Batalha no Céu (Batalla en el Cielo, 2005, Carlos Reygadas) – * * * *1/2
O Equilibrista (Man on Wire, 2008, James Marsh) – * * *1/2
O Vampiro (Vampyr - Der Traum des Allan Grey, 1932, Carl T. Dreyer) – * * * *
O Deserto dos Tártaros (Il deserto dei Tartari, 1976, Valerio Zurlini) – * * * *1/2
A Fonte da Donzela (Jungfrukällan, 1960, Ingmar Bergman) – * * * *
A Proposta (The Proposal, 2009, Anne Fletcher) – * *
Os Guarda-Chuvas do Amor (Les Parapluies de Cherbourg, 1964, Jacques Demy) – * * * *1/2
/Jackie Brown/ (1997, Quentin Tarantino) – * * * *1/2
A Tortura do Medo (1960, Michael Powell) – * * * * *
Minha Esperança é Você (A Child is Waiting, 1963, John Cassavetes) – * * *1/2
Van Gogh (1991, Maurice Pialat) - * * * *
/Cães de Aluguel/ (Reservoir Dogs, 1992, Quentin Tarantino) - * * * *
A Garota Ideal (Lars and the Real Girl, 2007, Craig Gillespie) - * * *1/2
Entre os Muros da Escola (Entre les Murs, 2008, Laurent Cantet) – * * * *
À Salvo (Safe, 1995, Todd Haynes) – * * * *
Um Condenado à Morte Escapou (Un Condamné à Mort s'est Échappé ou Le Vent Souffle où il Veut, 1956, Robert Bresson) – * * * *
O Ano Passado em Marienbad (L'Année Dernière à Marienbad, 1961, Alain Resnais) - * * * *1/2
Psicose (Psycho, 1998, Gus Van Sant) – * *
Caçadores de Emoção (Point Break, 1991, Kathryn Bigelow) – * *1/2
O Último Golpe (Thunderbolt and Lightfoot, 1974, Michael Cimino) – * * *1/2
/Pickpocket/ (1959, Robert Bresson) – * * *1/2
A Canção da Esperança (Too Late Blues, 1961, John Cassavetes) - * * *1/2
Crônica de um Verão (Chronique d'un Été, 1960, Jean Rouch and Edgar Morin) – * * * *
Inimigos Públicos (Public Enemies, 2009, Michael Mann) – * * * *
/O Informante/ (The Insider, 1999, Michael Mann) - * * * *
Joe Contra o Vulcão (Joe Versus the Volcano, 1990, John Patrick Shanley) – * * *1/2
/O Processo de Joana D’Arc/ (Procès de Jeanne d'Arc, 1962, Robert Bresson) - * * * *
A Infância de Ivan
(Ivanovo Detstvo, 1962, Andrei Tarkovsky) – * * *1/2
O Espelho (Zerkalo, 1975, Andrei Tarkovsky) – * * * *1/2
Harry Potter e O Enigma do Príncipe (Harry Potter and the Half-Blood Prince, 2009, David Yates) – * * *
Testemunha de Acusação (Witness for the Prosecution, 1957, Billy Wilder) – * * *
Pânico nas Ruas
(Panic in the Streets, 1950, Elia Kazan) - * * *1/2

TOTAL: 50 filmes.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Minha Esperança é Você

(A Child is Waiting, 1963, John Cassavetes)



É o terceiro filme do Cassavetes e, se não me engano, o primeiro em que o cineasta não é seu próprio produtor. Minha Esperança é Você teve produção de Stanley Kramer (quem só conheço de nome), com Cassavetes se encarregando da direção por recomendação do roteirista. O próprio cineasta falou: "I didn't think his film - and that's what I consider it to be, *his* film - was so bad, just a lot more sentimental than mine." Engraçado, essa é exatamente a minha opinião. Fica realmente evidente em Minha Esperança é Você que Cassavetes é aqui um estranho no ninho, sem a liberdade que vemos em Shadows ou Amantes (tanto é que não teve direito ao corte final, sendo demitido no processo de montagem). Não sou profundo conhecedor da obra do cara (fora os dois que citei, só vi Husbands), mas dá pra perceber que certas escolhas não foram dele, especialmente em relação à trilha sonora asquerosa, que enche o filme de um sentimentalismo desnecessário (incrível como ela chega a atrapalhar em alguns momentos), apelando pra chantagem emocional, que é o que de mais sujo um filme pode fazer, limitando a crueza emocional que Cassavetes evidentemente queria atingir. Mas, sim, existem momentos em que a mão do cineasta é visível e em que essa crueza é sentida; destaco, como exemplo, as cenas da conversas entre a personagem de Judy Garland com a de Gena Rowlands (novinha, linda); aquela entre Burt Lancaster e o garoto com problemas mentais; Garland cantando com os seus alunos enquanto seus olhos se enchem de lágrimas; a sequencia final, a peça de teatro (estragada novamente pela quantidade de açúcar exagerado lá pelo seu fim - a trilha sonora, lá de novo); e a inicial, que me fez acreditar que iria ver mais um filmaço do Cassavetes. Não o é, definitivamente, mas, como eu já citei, tem seus pontos altos (mas o baixos às vezes pesam mais).

domingo, 26 de julho de 2009

Melhores e Piores do Semestre

Lista feita para o ranking da Liga dos Blogues.

MELHORES



01. Gran Torino (Clint Eastwood)
02. A Bela Junie (Christophe Honoré)
03. Milk (Gus Van Sant)
04. Entre os Muros da Escola (Laurent Cantet)
05. O Lutador (Darren Aronofski)
06. A Troca (Clint Eastwood)
07. O Curioso Caso de Benjamin Button (David Fincher)
08. Simplesmente Feliz (Mike Leigh)
09. O Casamento de Rachel (Jonathan Demme)
10. O Equilibrista (James Marsh)

PIORES
01. Quem Quer Ser um Milionário (Danny Boyle)
02. O Leitor (Stephen Daldry)
03. A Proposta (Anne Fletcher)
04. Foi Apenas um Sonho (Sam Mendes)
05. Pagando Bem, Que Mal Tem? (Kevin Smith)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

A 2ª Temporada de Twin Peaks



Não vou escrever um texto muito longo, mas não podia deixar de falar nem que seja um pouquinho sobre a segunda temporada de Twin Peaks. Comecei a assisti-la a uns dois anos, mas só fui termina-la nas minhas férias desse ano! Como vocês podem perceber, sou extremamente indisciplinado em relação a acompanhar seriados (exceto aqueles em que assisto com o pessoal de casa, como Dexter e Lost), mas decidi tomar vergonha na cara e vi os três episódios que me faltavam de uma vez só, em uma madrugada (o que intensifica a experiência, acreditem). Só tenho a dizer que os primeiros sete episódios são o que de melhor uma série de TV já produziu e que depois a série fica com altos e baixos, conseguindo se recuperar na parte final (afinal, um personagem importante se vai, mas existem coisas interessantes para se explorar) e se redimindo por completa naquela fenomenal season finale, épica. Ainda fico me perguntando como os produtores deixaram essa anomalia ser feita, simplesmente foge de qualquer padrão estabelecido pela televisão (norte-americana ou não), o paraíso lynchiano (uma descida ao inferno para muitos). Talvez tenha tantos detratores por causa disso e ainda termina com um cliffhanger, mas, honestamente, depois daquilo não precisava de mais nada; foi um final perfeito, melhor impossível.

E agora, fiquem com Twin Bricks (mas só pra quem já assistiu à todas as temporadas da série):

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Trilogia do Silêncio de Bergman

Através de um Espelho (Såsom i en Spegel, 1961)
Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, 1962)
O Silêncio (Tystnaden, 1963)

Lembro que nem na época da morte de Bergman eu fiquei tão interessado em conhecer a obra do sueco quanto agora (talvez porque eu já estivesse sob o impacto da morte do Antonioni, de quem eu era muito mais fã - e ainda sou, na verdade, embora precise rever a maioria de seus trabalhos). Com essas minhas férias e resolvi tirar o atraso e descobri algumas jóias do cineasta, como A Fonte da Donzela, além da trilogia do silêncio, que falo sobre agora.



Através de um Espelho foi o que a iniciou, ganhando o segundo Oscar de Bergman (e consecutivo!) e talvez seja o que mais me envolveu. Em comparação com os outros dois, é sem dúvida o seu trabalho mais típico, ainda pertencente à fase de filmes como Morangos Silvestres. Das musas do diretor, a que mais agrada aos meus olhos agrada é Herriet Anderssen (ainda vejo Monika e o Desejo, ah!), que aqui vive a protagonista. É uma obra que evidentemente descende muito do teatro (assim como outros filmes de Bergman), especialmente devido ao número limitado de cenários (ainda que contenha vários planos abertos - toda a ação se passa em uma praia) e personagens (quatro, no total). Melhor assim, pois Bergman pode se aprofundar à vontade no retrato intimista e sempre muito intenso de uma família, nos apresentando à sua lenta desintegração (ao mesmo tempo em ocorre a perda da sanidade da personagem de Anderssen, Karin - mesmo nome da mãe de Bergman; alguma ligação, será?).



O filme que seguiu "Através de um Espelho" foi feito logo no ano seguinte, "Luz de Inverno", com Bergman abertamente inspirado no filme "O Diário de um Pároco de Aldeia", de Robert Bresson. A trilogia do silêncio me parece ter uma importância muito grande na carreira de Bergman, não apenas devido à qualidade, mas também como divisor de águas. Luz de Inverno já se distancia um pouco do modelo dos longas feitos nos anos 50 pelo diretor; não por conter uma carga experimental forte como Persona (até então o melhor que já vi dele), mas por possuir um andamento e atmosfera que se distanciam de seus outros trabalhos. Eu não diria que Luz de Inverno é um filme bressoniano, já que ainda características fortes da autoralidade de Bergman, mas é uma obra com um ritmo mais austero, quase solene, dialogando com perfeição com o medo e a paranóia da época (expresso no personagem de Max Von Sydow, sempre excelente), decorrente da Guerra Fria. Aborda também o tema da perda da fé, sentimento dessa vez expresso no protagonista, um pastor (interpretado por Gunnar Björnstrand, que contracena com Von Sydow em Através de um Espelho), acentuado pela perda de sua esposa, mas também em personagens secundários, como a de Ingrid Thulin, com quem o personagem de Gunnar teve um caso amoroso. Interessante observar a contradição entre a cena inicial, com uma platéia aparentemente interessada no ritual religioso (só depois dessa longa cena que conhecer a fundo seus reais sentimentos), com a final, com uma missa quase vazia.



Pra encerrar temos "O Silêncio", talvez o trabalho mais radical da trilogia, cujo tema é levado às últimas consequencias, talvez iniciando a fase de Persona, com um maior rigor e virtuosismo estético. É um filme de imagens. Quase não há diálogo. A fotografia de Sven Nykvist sempre é maravilhosa, mas mais discreta, enquanto aqui ele ganha ainda mais expressividade, uma função quase central (sequencia inicial, no metrô, tem uma força impressionante). É também, de longe, o filme de Bergman com maior carga erótica (o tema do sexo é bem evidente, com as duas protagonistas evidentemente frustradas nessa questão) e com um ou outro arroubo surrealista (cena com os anões, por exemplo). Talvez seja o ponto alto da trilogia.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Jackie Brown Across 110th Street



Obra-prima do caralho. Quando vi pela primeira vez era muito novo e naturalmente entrei naquela onda bem estúpida de que era um Tarantino "menor", seu "pior" filme. Pois, passados quatro anos (mais ou menos), acredito que Jackie Brown seja seu melhor filme (só um pouquinho à frente da segunda parte de Kill Bill - sou muito "do contra" mesmo). É daqueles filmes que parecem ser executados com uma precisão e secura raras, eliminando qualquer tipo de gordura, com nenhum movimento de câmera fora do lugar. O que vemos aqui é um cineasta que, mesmo depois de ganhar reconhecimento com Cães de Aluguel e uma porrada de prêmios com Pulp Fiction, simplesmente decide contar uma estória, tanto é que é seu filme mais ligado ao elenco (todos geniais - inclusive DeNiro, em papel menor, coadjuvante de honra). Ainda assim, é um trabalho com assinatura, com marcas que você também encontra em seus longas anteriores (diálogos, trilha sonora, etc.), com a diferença de que é tudo melhor amarrado, um exemplo de concisão. Não me entendam mal: eu gosto muito de Cães de Aluguel e Pulp Fiction (apesar de precisar rever ambos), mas é que Jackie Brown é uma obra-prima do caralho.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Budapeste

(2009, Walter Carvalho)



Ganhei o livro de presente na época do lançamento, mas achei muito grande e com uma linguagem dificílima, então nunca cheguei a de fato terminá-lo. Quando a adaptação para os cinemas dirigida por Walter Carvalho estreou, resolvi voltar à obra de Buarque, mas ainda assim o tenho pela metade, já que no momento tenho outras prioridades literárias. De qualquer modo, dá pra se ter uma ideia de que Budapeste, o livro, tem qualidade (apesar de não ficar babando como a maioria faz) e é bom notar que Budapeste, o filme, consegue manter uma atmosfera de profundo deslocamento espacial, temporal e linguistico (além de que consegue ser fiel aos fatos apresentados). É um filme distante, e talvez essa sensação seja necessária, mas às vezes esse distanciamento parece ser ocasionado devido a uma preocupação na estética que em muitos momentos parece ser friamente calculada. É algo que pesa bastante contra o filme, mas o que me faz perder qualquer crédito com ele são as duas cenas finais: uma delas parece querer reforçar a metáfora já bastante óbvia sobre a estátua do "escritor desconhecido", mas a pior é a que encerra o longa, que demonstra apenas uma necessidade muito estúpida e pedante (e óbvia, também) de fazer metalinguagem.

domingo, 5 de julho de 2009

Filmes de Junho



O Império dos Sentidos (Ai no Corrida, 1976, Nagisa Oshima) - * * * *
O Extreminador do Futuro: A Salvação (Terminator Salvation, 2009, McG) - * * *
Feliz Natal (2008, Selton Mello) - * *1/2
Meteorango Kid (1969, André Luiz Oliveira) - * * * *
c. Entre’Acte (1924, René Clair) - * * * *1/2
c. Paris Adormecida (Paris qui Dort, 1925, René Clair) - * * *
O Fundo do Coração (One from the Heart, 1982, Francis Ford Coppola) - * * *1/2
Utamaro e suas 5 Mulheres (Utamaro o Meguru Gonin no Onna, 1946, Kenji Mizoguchi) – * * * *
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu! (Airplane!, 1980, Jim Abrahams, Jerry e David Zucker) – * * *
c. Olho por Olho (1966, Andrea Tonacci) – * * *1/2
c. Blá Blá Blá (1968, Andrea Tonacci) – * * * *
Bang Bang (1971, Andrea Tonacci) – * * * *1/2
Vermelhos e Brancos (Csillagosok, Katonák, 1967, Miklós Jancsó) – * * * *
O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet, 1957, Ingmar Bergman) – * * * *
A Balada de Narayama (Narayama Bushiko, 1983, Shohei Imamura) – * * *1/2
O Segredo de Berlim (The Good German, 2006, Steven Soderbergh) - *1/2
O Samurai (Le Samouraï, 1967, Jean-Pierre Melville) – * * *
Duplicidade (Duplicity, 2009, Tony Gillroy) – * * *
Marcas da Vida (Red Road, 2006, Andrea Arnold) – * * *
Dúvida (Doubt, 2008, John Patrick Shanley) – * *1/2
Minhas Adoráveis Ex-Namoradas (Ghosts of Girlfriends Past, 2009, Mark Waters) – N/A
A Questão Humana (La Question Humaine, 2007, Nicolas Klotz) – * * * *
Budapeste (2009, Walter Carvalho) – * *1/2
O Anjo Embriagado (Yoidore Tenshi, 1948, Akira Kurosawa) – * * * *
Os Irmãos da Família Toda (Todake no Kyodai, 1941, Yasujiro Ozu) – * * *1/2
Sem Essa, Aranha (1970, Rogério Sganzerla) – * * * *1/2
c. A Miss e o Dinossauro - Bastidores da Belair (2005, Helena Ignez) – * * *1/2
c. Histórias em Quadrinhos (1969, Rogério Sganzerla) – * * *1/2
À Beira do Abismo (The Big Sleep, 1946, Howard Hawks) – * * * *
O Sabor da Melancia (Tian Bian yi Duo Yun, 2005, Tsai Ming-Liang) – * * *
Vidas Sem Rumo (The Outsiders, 1983, Francis Ford Coppola) – * * *1/2
Pagando Bem, Que Mal Tem (Zack and Miri Make a Porno, 2008, Kevin Smith) – * *1/2
Demência 13 (Dementia 13, 1963, Francis Ford Coppola) – * *1/2

TOTAL: 27 filmes + 6 curtas
.c = curta

domingo, 28 de junho de 2009

Sem Essa, Aranha

(1970, Rogério Sganzerla)





Os filmes de Sganzerla parecem todos muito porraloucos, mas Sem Essa Aranha consegue a proeza de ser o seu trabalho mais radical. Não há nem aquela mistura de gêneros existente em "O Bandido da Luz Vermelha", porque esse filme transcende gêneros. Os personagens parecem existir em uma época situada em um pós-Brasil, experimentando o exílio em um lugar não-identificado (Paraguai? Favela?) depois que esse nosso país faliu de vez. É um filme grosseiro, de um "mau gosto" enorme (Helena Ignez, musa e espoesa de Sganzerla, força o vômito em cena, em transe), subversivo e assumidamente subdesenvolvido, from ther third world (expressão em inglês em homenagem a Aranha, um dos grandes personagens do Cinema Nacional).

Falando um pouco sobre a edição nacional da Lume Filmes, a qualidade da imagem e do som são péssimas (como eles próprios dizem na contracapa - apesar de com um pouco de eufemismo), mas reclamar disso seria bobagem, não apenas porque certamente foi a melhor qualidade em que encontraram a obra ou pela iniciativa de dar atenção a um Cinema que antes ficava restrito às madrugadas do Canal Brasil ou mostras especiais, mas também devido à gloriosa entrevista de Rogério Sganzerla que vem como extra, de 140 minutos, dando um show de lucidez, além de um bacana curta-metragem feito por ele em 68, História em Quadrinhos, e um outro emocionante feito pela Helena Ignez, sobre a turma do Belair.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Dúvida

(Doubt, 2008, John Patrick Shanley)



Às vezes Dúvida me lembra "O Leitor" (o que nunca é bom), devido especialmente ao seu tom friorento que parece seguir o "padrão de qualidade britânico". No entanto, não consigo chamá-lo de enlatado, como aconteceu com o filme de Stephen Daldry, já que ele parece mais interessado em desenvolver o seu lado dramatúrgico (enquanto "O Leitor", nesse ponto, é muito mais burocrático e previsível). Dúvida é oriundo do teatro, adaptado de uma peça ganhadora do pulitzer escrita pelo próprio diretor do filme, então não assusta o seu interesse em explorar o texto (e faz muito bem ao adotar uma postura imparcial aos ocorridos, sem nunca deixar claro o que realmente aconteceu). Visualmente, parece ser um trabalho pensado para o Cinema, mas há alguns pontos que o filme infelizmente não consegue se distanciar do teatro (não que haja alguma coisa de errado com este - pelo contrátrio -, mas acredito que essas duas artes tenham divergencias em certos pontos), com um conteúdo visivelmente encenado, algo que pode se evidenciar em alguns diálogos (toda a sequencia da discussão entre Streep e Hoffman nos 20 minutos finais ou a horrível cena final, por exemplo). Meryl Streep, aliás, é um dos maiores defeitos do trabalho, com a sua performance totalmente over e caricatual(Hoffman, ao contrário, faz um trabalho mais digno). Me incomoda muito também como a própria construção da personagem parece exagerada, virando uma espécie de antagonista sem sentimentos; para um filme que aborda um tema tão delicado, um pouco de humanidade e naturalidade não fariam mal a ninguém.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Duplicidade

(Duplicity, 2009, Tony Gilroy)



Depois do seu imensamente hypado filme de estréia, "Conduta de Risco", um trabalho ao mesmo tempo superestimado e subestimado, que carrega um tom sóbrio e um tanto distanciado, é interessante que o filme seguinte de Tony Gilroy seja uma obra bem mais leve e com uma atmosfera bem diferente daquela apresentada em "Conduta...", apesar de que o foco também seja nas grandes corporações. "Duplicidade" se aproxima bem mais daquele cinema mais pop e "com classe" de um Steven Soderbergh da fase "Oceans", mas infelizmente Gilroy parece ser um cineasta bem menos virtuoso e mais inexpressivo no seu modo de conduzir a trama. Um dos pontos mais interessantes de "Conduta de Risco" é como o próprio filme parece cansado desse mundo complexo das multinacionais, sentimento expresso em seu protagonista. Seu novo longa, no entanto, parece desenvolver esse mesmo tema de um modo muito mais previsível, talvez até burocrático, com as usuais milhares de reviravoltas bem comum de se ver no gênero (mas a do final é bem boa, tenho que dar o braço a torcer). O maior problema é que as duas tramas existentes em "Duplicidade" não se casam muito bem: uma delas, envolvendo o familiar (para Gilroy, claro) mundo das corporações, e a outra, muito mais interessante, sobre o relacionamento entre os dois protagonistas, vividos por Clive Owen e Julia Roberts, de onde o filme tira os seus melhores momentos.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Shutter Island



Depois de um tempinho ausentes, a sessão de "notícias" volta para não deixar o blog jogado às moscas (o principal motivo para que eu as tenha criado). O filme em questão, o novo trabalho de Martin Scorsese, baseado em livro de Dennis Lehane (o mesmo de Sobre Meninos e Lobos) e com Di Caprio mais uma vez no elenco, já é, certamente, conhecido de todos, então não vou me alongar muito em detalhes sobre a produção. Coloco Shutter Island em evidência mais porque recentemente seu interessantíssimo trailer foi divulgado (e também porque sempre quis colocar esse poster fodaço aqui no blog). Parece ser um filme bem diferente do que eu imaginava: mais do que um filme policial, Shutter Island parece adentrar mais no terreno do horror (!) psicológico e paranóico. Me lembrou um pouco os filmes B feito nos anos 50, mas isso não é uma surpresa, já que, segundo o Wikipedia, "author Dennis Lehane sought to write a novel that would be a homage to Gothic settings, B movies, and pulp. Lehane described the novel as a hybrid of the works of the Brontë sisters and the 1956 film Invasion of the Body Snatchers". Confio no Marty e acho que pode sair daí um belo exercício de gênero (e não vai pro Oscar, creio).

sábado, 6 de junho de 2009

Império dos Sonhos

(Inland Empire, 2006, David Lynch)*


C'mon do the locomotion

O mundo dos sonhos e o imaginário sempre assuntos-chave na carreira de David Lynch, especialmente em sua fase pós-Twin Peaks. Em Inland Empire não é diferente, mas o que torna a experiência deste projeto ainda mais transgressora é o fato de que o próprio filme parece se estruturar como um sonho, delírio ou alucinação. Lynch renega a linguagem convencional, misturando tempos distintos, atores e personagens (reais ou ficcionais), de modo que a construção do filme pareça ser totalmente contínua, sem início, meio ou fim. Se tentarmos juntar as pontas, poderemos até encontrar em Inland Empire um filme sobre uma mulher atormentada por traumas ligados ao sexo masculino e ao ato sexual em si (vemos Dern contar alguns deles para um personagem misterioso, em uma espécie de monólogo). No entanto, o que torna quase impossível formular qualquer explicação acerca do que se passa é que a Laura Dern-atriz-bem-sucedida que vemos no início se ramifica em diversas outras, personagens saídos da memória, do futuro ou mesmo personagens ficcionais interpretados por ela anteriormente (ou futuramente, já que não temos a mínima noção de tempo ou espaço). Soma-se a tudo isto uma crítica a Hollywood já presente no filme anterior de Lynch (Cidade dos Sonhos, outra obra-prima), apresentando-nos a uma terra de ilusões, em que até a calçada da fama não é um lugar de brilho, e sim refúgio de prostitutas e mendigos.

Não sou um profundo conhecedor da história ou da linguagem cinematográfica, mas se já foi feito experimento maior com montagem, iluminação, trilha sonora ou câmera (Lynch filma pela primeira vez - e talvez última, pois realmente acho que Inland Empire é a conclusão perfeita para toda uma carreira - em digital, com uma qualidade de imagem mais baixa, o que causou um estranhamento de início, mas depois Lynch nos mostra quais são as vantagens do formato) em um longa-metragem, eu nunca vi, e gostaria que me dessem um exemplo. É o ápice da filmografia de um diretor, e o que vier a seguir é regressão, pura e completa regressão.

*Texto feito há uns 2 anos, quando vi o filme no cinema. Só fui descobrir que o tinha arquivado como rascunho no blog dia desses, e resolvi postar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Filmes de Maio



If.... (1968, Lindsay Anderson) - * * *1/2
Sonhos (Dreams, 1990, Akira Kurosawa) - * * * *
Leonera (2008, Pablo Trapero) - * * *1/2
/Os Imperdoáveis/ (Unforgiven, 1992, Clint Eastwood) - * * * * *
Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula, 1992, Francis Ford Coppola) – * * *
Simplesmente Feliz (Happy Go-Lucky, 2008, Mike Leigh) – * * *1/2
A Inglesa e o Duque (L'Anglaise et le Duc, 2001, Eric Rohmer) – * * * *
/Cowboys do Espaço/ (Space Cowboys, 2000, Clint Eastwood) – * * * *
Control (2007, Anton Corbijn) - * *1/2
Anjos e Demônios (Angels & Demons, 2009, Ron Howard) – * *1/2
Velha Juventude (Youth Without Youth, 2007, Francis Ford Coppola) - * *1/2
O Casamento de Rachel (Rachel Getting Married, 2008, Jonathan Demme) - * * *1/2
Amarcord (1973, Federico Fellini) - * * * *
Je Vous Salou, Marie (1985, Jean-Luc Godard) - * * *1/2
Dançando no Escuro (Dancer in the Dark, 2000, Lars Von Trier) - * *1/2
Para Sempre Mozart (For Ever Mozart, 1996, Jean-Luc Godard) - * * *1/2
A Carruagem de Ouro (Le Carrosse d'Or, 1952, Jean Renoir) - * * *1/2
Che, Parte 1: O Argentino (Che, Part One: The Argentine, 2008, Steven Soderbergh) - * * *
De Tanto Bater Meu Coração Parou (De Battre Mon Coeur s'Est Arrêté, 2005, Jacques Audiard) - * * *1/2
A Marselhesa (La Marseillaise, 1938, Jean Renoir) - * * * *
Cupido Não Tem Bandeira (One, Two, Three, 1961, Billy Wilder) - * * * *1/2

TOTAL: 21 filmes

sábado, 30 de maio de 2009

Wanted



Soube pelos blogs de Leandro Caraça e Peerre sobre essa bela iniciativa iniciada por Leopoldo Tauffenbach, e tive que aderir. Death Proof, de Quentin Tarantino, foi feito em 2007 para ser um dos longas do projeto Grindhouse (o outro, como todo mundo sabe, é Planeta Terror, do Robert Rodriguez), mas até hoje, meados de 2009, o filme não deu as caras por aqui no Brasil. Agora, a Europa Filmes planeja lançamento para Novembro, curiosamente um mês após a estréia de Bastardos Inglórios, novo trabalho de Tarantino. Isso, é claro, se Bastardos... se sair bem de bilheteria, mas, caso contráio, esperem o filme pro DVD mesmo (e estou sendo otimista).

domingo, 24 de maio de 2009

Cannes 2009: Resultados


O primeiro sorriso a gente nunca esquece

Agora Michael Haneke pode morrer feliz. O diretor, que antes já havia ganho o prêmio de Melhor de Diretor por Caché, em 2005, e que também levou o Grande Prêmio do Júri em 2001 por A Professora de Piano, finalmente conseguiu receber o prêmio máximo, com Das Weisse Band ("The White Ribbon", em inglês), que fala sobre a vida de um pequeno vilarejo no período pré-1ª Guerra Mundial. Para mim foi uma surpresa, já que ontem o filme já havia ganho o prêmio da crítica e não acreditaria que a escolha do júri fosse a mesma, além de que o favorito, segundo muitos, era The Time That Remains (como falei no post anterior), do Elia Suleiman, que acabou ficando de mãos vazias. Aliás, é um prêmio meio suspeito (apesar de não duvidar da qualidade da obra - gosto do Haneke), já que a presidente do júri, Isabelle Huppert, é admiradora do cineasta e já trabalhou com ele em dois filmes (ganhando inclusive Melhor Atriz em Cannes por A Professora de Piano).

Em relação às outras categorias, outras surpresas, como o filipino Brillante Mendonza ganhando Melhor Diretor pelo filme Kinatay, que pelo visto dividiu opiniões, e o prêmio de roteiro para o chinês Spring Fever, filme banido em seu país de origem, menos cotado no meio de tantos figurões. Charlotte Gainsbourg acabou ganhando Melhor Atriz pelo mais polêmico da temporada, O Anticristo, do Lars Von Trier, enquanto o novo filme do Tarantino, Bastardos Inglórios, levou o de Melhor Ator, para Christopehr Waltz, elogiadíssimo. O Prêmio do Juri foi dividido entre Park Chan-Wook, por Thirst, e Andrea Arnold, por Fish Tank, que havia sido premiada por seu filme anterior (e primeiro, se não me engano), Red Road. Já o Grande Prêmio ficou com um dos trabalhos mais elogiados do festival, Un Prophéte, de Michael Audiard, diretor que eu desconhecia. Alain Resnais, com seus quase 90 anos de idade, não podia ser esquecido, recebendo um prêmio especial. Abaixo, um trecho de Das Weisse Band:

sábado, 23 de maio de 2009

Whatever Works



Estava pensando em fazer um post com notícias de Cannes para essa semana, mas como o Festival já termina amanhã, prefiro deixar só para o domingo mesmo (mas, só para constar, acho que a Palma deve fica mesmo com o The Times That Remain, do Suleiman, com o Visages, do Tsai Ming-Liang correndo por fora - e Tarantino pode ganhar diretor, ou então qualquer outro prêmio, porque acho que Inglorious Basterds não vai sair de mãos abanando, apesar da recepção um pouco fria).

Então, falo agora sobre o novo trabalho de um diretor que eu gosto muito, mas que nos oferece nessa década uma filmografia bastante irregular. Estou falando de Woody Allen e o seu Wathever Works, que ganhou um trailer recentemente. Depois de algum tempo explorando territórios estrangeiros (a Inglaterra em Scoop e Match Point, e a Espanha em Vicky Cristina Barcelona), Allen parece que irá voltar à sua amada Nova York. Parece ser um filme muito idiossincrático, mas, pra falar a verdade, nem me animei tanto assim com o trailer, sem muitas surpresas. O que mantém meu interesse é, sem dúvida, o homem que interpretará o alter-ego de Allen: o grande Larry David, um dos criadores da melhor série do mundo (Seinfeld) e também uma outra muito bem-sucedida, Curb Your Enthusiasm, que infelizmente ainda não tive a oportunidade de ver. Sempre achei George Costanza muito similar a alguns personagens do Allen, e, como parece que ele foi inspirado no próprio Larry David, acho que sua escolha para o papel deve ser perfeita. A fotografia é do Harris Savides, de Gerry e Zodíaco (o que não quer dizer muita coisa, já que ele tinha a mesma função em O Gangster), com o elenco ainda possuindo nomes como Evan Rachel Wood e Patricia Clarkson.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Os Imperdoáveis

(Unforgiven, 1992, Clint Eastwood)



Os Imperdoáveis é considerado como uma ressucitação do faroeste, mas acredito que esteja mais para epitáfio. O filme foi feito em 1992, mas, 40 anos antes, Will Munny, um "conhecido ladrão e assassino, homem de temperamento cruel e intempestivo" (o personagem de Eastwood que talvez mais se aproxime do recente Walt Kowalski, de Gran Torino - Dirty Harry? Juro que nem pensei nele) seria o pefeito vilão de um trabalho clássico do gênero. No entanto, o filme já nos apresenta a um Will Munny corroído pela culpa, já na velhice, sem nenhuma perpectiva, talvez o destino de todos os grandes personagens dos faroestes. O seu parceiro, interpretado por Morgan Freeman, conserva algumas de suas antigas habilidades, mas, como podemos notar quando ele se recusa a continuar acompanhando os seus dois amigos, matar um homem parece ser a última coisa em que pode imaginar. O tempo passou, aqueles heróis não são mais os mesmos, e o que torna Os Imperdoáveis uma obra tão amarga é justamente o fato de ter uma consciência muito forte disso, de modo que, por mais que seja um trabalho obviamente clássico, que nos remete diretamente a John Ford ou Howard Hawks, não tem nenhum desejo de realizar um "revival". Um personagem que talvez ainda possuisse alguma capacidade de se tornar um herói do gênero é Scofield Kid, mas, logo após matar seu primeiro homem, percebe que aquela vida simplesmente não é pra ele. Não há nenhuma visão romântizada da violência em Os Imperdoáveis, com a morte nos mostrada nua e crua, sendo a sua inevitabilidade o grande tema do trabalho (além de perda e culpa, que estão presentes em quase todos os trabalhos de Eastwood).

Já no terceiro ato, Will Munny, que no início mal conseguia montar em seu cavalo, volta a ser um assassino de sangue frio, aquele que antes matava tudo que andava ou rastejava, mas, agora, não por maldade, e sim por uma questão de fraternidade, pra defender a honra de seu amigo (algo que está presente de modo muito forte em Hawks e Ford). Não é, de modo algum, uma redenção; talvez o protagonista nem quisesse "ressucitar" daquele jeito, se lembrando do homem impiedoso que era no passado. Portanto, será que também seria necessário ressucitar o faroeste? Será que para esse gênero, assim como acontece com quase todos os personagens de Os Imperdoáveis, a morte não seria algo iminente e inevitável? Já próximo dos créditos finais, somos avisados, de um modo muito vago, do possível destino do personagem: "disseram que foi para San Francisco e que lá prosperou como dono de armazém". Disseram. Assim como acontece com o próprio Western, o seu fim permanece um enigma.

PS: Me desculpem pela ausência de uma semana. Vou tentar atualizar mais, talvez com algumas notícias de Cannes.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Fay Grim

(2006, Hal Hartley)



Já seria muito abaixo da média somente por causa daquele tique desnecessário e imaturo de enviesar a câmera para 95% das cenas (o que ele quer provar com isso?), mas Hartley decide não apenas assassinar Fay Grim como também o filme que o antecede, As Confissões de Henry Fool (que ganhou Roteiro em Cannes em 97 e tem um bom número de fãs - apesar de que bem antes disso Hartley já era uma sensação indie), o trabalho mais conhecido do diretor. Acho muito superestimado, mas é um bom filme, sem dúvidas. Fay Grim retorna aos mesmos personagens, tendo como protagonista a personagem-título, interpretada por Parker Posey, que em Henry Fool desempenhava papel coadjuvante, a irmã de Simon, o lixeiro que se revela um grande poeta, descoberto por Henry. Primeiramente, não vejo motivo para se realizar uma continuação se você não está interessado em explorar, melhor desenvolver esses personagens. São figuras bastante interessantes, mas que aqui são reduzidas a marionetes de uma egotrip, nada mais que uma desculpa fútil para resgatar um antigo sucesso. O mais engraçado é que em Fay Grim há um diálogo que pode resumir muito bem todo o filme: nele, dois personagens conversam sobre "Confissões", série de livros escritos por Henry; um deles pede para que o outro procure ver o que há, na obra, por trás de toda a auto-indulgência masturbatória ou as discussões autocentradas; o outro retruca, perguntando se sobraria alguma coisa. Pois é, Hal Hartley, além de genial, "ousado e inteligente" (como define um crítico na contracapa do DVD), também entende de metalinguagem.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tetro



O novo trabalho de Francis Ford Coppola pode ter ficado de fora da seleção oficial de filmes em competição no festival de Cannes, mas, de quebra, foi o escolhido para abrir a Quinzena dos Realizadores. O trailer do filme saiu ainda essa semana e, ao vê-lo, me lembrei logo de O Selvagem da Motocicleta
, talvez pelo preto-e-branco e uma atmosfera que remete diretamente a um Cinema feito no passado (uma coisa meio film noir). A trama gira em torno de um homem que decide procurar pelo seu irmão (o personagem-título, um escritor, vivido por Vincent Gallo, retornando após o fracasso - comercial e de crítica, mas não artístico, é bom lembrar - de The Brown Bunny) em Buenos Aires, tentando a reconciliação e relembrando os problemas que atingiram sua família no passado. Coppola passou uns dez anos sem fazer filmes (preocupado com as suas vinículas, alguns dizem) até que voltou em 2007 com Velha Juventude (que sequer estreou aqui no Brasil - mas foi devidamente baixado e devo vê-lo em breve) e espero que representem um renascimento pro cineasta de Apocalypse Now e A Conversação.

domingo, 3 de maio de 2009

Filmes de Abril



Ghost Dog (1999, Jim Jarmusch) - * * * *
A Dança dos Vampiros (Dance of the Vampires/The Fearless Vampire Killers, 1967, Roman Polanski) - * * *1/2
O Encouraçado Potemkin (Bronenosets Potyomkin, 1925, Sergei Eisenstein) – * * * *1/2
Macbeth (The Tragedy of Macbeth, 1971, Roman Polanski) - * * * *1/2
Presságio (Knowing, 2009, Alex Proyas) – * * *
O Silêncio de Lorna (Le Silence de Lorna, 2008, Jean Pierre & Luc Dardenne) - * * *1/2
A Música Mais Triste do Mundo (The Saddest Music in the World, 2003, Guy Maddin) – * * *1/2
Um Conto de Natal (Un Conte de Noël, 2008, Arnaud Desplechin) – * * * *
Mulheres da Noite (Yoru no Onnatachi, 1948, Kenji Mizoguchi) – * * *1/2
Ecstasy (Yoru no Onnatachi, 1948, Kenji Mizoguchi) – * * * *
A Cor da Romã (Sayat Nova, 1968, Sergei Parajanov) - * * *1/2
Kagemusha (1980, Akira Kurosawa) - * * * *
Segredos e Mentiras (Secrets & Lies, 1996, Mike Leigh) - * * * *
Sozinho Contra Todos (Seul Contre Tous, 1998, Gaspar Noé) - * *
A Idade da Terra (1980, Glauber Rocha) – * * * *1/2
Fay Grim (2006, Hal Hartley) - *
Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008, Kathryn Bigelow) - * * * *

TOTAL: 17 filmes.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Funny People



Encerro o mês de Abril com mais um post para a "sessão" de notícias. Dessa vez, escolhi o novo trabalho de um cineasta que eu admiro muito, considerado o que há de melhor na "nova comédia americana", o Judd Apatow. Fez seu último filme há dois anos, o maravilhoso Knocked Up, e, nesse meio tempo, foi produtor de outros sucessos, como o Forgetting Sarah Marshall (que eu acho bem fraco e superestimado) e o bom Superbad, além de Pineapple Express, do David Gordon Green. O trabalho anterior já se voltava para um cinema de maior cunho dramático (e já em O Virgem de 40 Anos, mais escrachado, havia interesse em temas "maiores", como amadurecimento), apesar do humor ainda ser o centro do filme. Tenho a impressão de que esse Funny People seguirá ainda mais a linha da "dramédia". O protagonista da história, um comediante que descobre que possui uma doença terminal, tendo apenas mais alguns meses de vida, será interpretado pelo Adam Sandler, com o elenco contando também com Eric Bana e Jason Schwartzman (todos os três em suas primeiras colaborações com Apatow), além de habituais colaboradores do cineasta, como Leslie Mann (sua esposa, na verdade) e Seth Rogen, que viverá um amigo do personagem de Sandler.

A data de estréia nos EUA está marcada para o dia 31 de Julho, mas no Brasil acredito que ainda não exista previsão. O trailer segue abaixo, mas recomendo que vocês vejam somente até a metade, já que tem a maior cara de ser daqueles que contam o filme todo (também, com 3 minutos de duração...).



PS: O filme escolhido para a semana passada, The Limits of Control, do Jim Jarmusch, estreia nessa sexta nos EUA, e, no Rotten Tomatoes, sua porcentagem é, até agora, de 19% (tá certo que são apenas 16 votos, mas ainda assim...). Isso, obviamente, indicaria que o filme realmente será bom, mas também o Mike D'Angelo (que parece curtir os filmes anteriores do diretor - "I consider myself a Jarmusch fan, if not exactly a true believer."), daquele log cheio de fanboys, deu uma nota bem baixa, 35 (!). Só fico mais curioso para vê-lo depois dessas.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um Conto de Natal



O que mais me veio à cabeça ao ver este Um Conto de Natal é que ele é tudo o que O Segredo do Grão, do duas vezes vencedor do César Abdel Kechiche, queria ter sido. Não quero me aprofundar muito nessa comparação, porque elas geralmente são bem chatas, mas existem evidentemente alguns pontos em comum partilhado entre esses dois filmes, como o fato de ambos se interessarem em explorar as relações familiares e por aparentemente se alongarem sem motivo. Digo "aparentemente" pois acho que é um problema que atinge muito mais o trabalho de Kechiche que o de Desplechin (que há cinco anos fez a obra-prima Reis e Rainha). Em O Segredo do Grão há a necessidade de se criar uma espécie de épico familiar, enchendo linguiça com algumas que ao meu ver se alongam desnecessariamente, parecendo que o diretor teve que criar cenas adicionais para que o trabalho chegasse a tal duração, enquanto Um Conto de Natal se prolonga de um modo muito mais natural, com uma narrativa fluida (quase jazzística) que faz com que a duração dificilmente seja sentida (será que sou o único que poderia passar mais uma hora dentro do cinema acompanhando aqueles personagens??), e também porque o Desplechin possivelmente o escreveu/filmou tão excitadamente que acabou perdendo o controle do material. Sim, talvez seja uma obra um pouco descontrolada e gorda (apesar de que a montagem parece dar conta de tudo), mas tá bom demais do jeito que ficou: um registro vivo e extremamente caloroso e complexo dos relacionamentos humanos, valorizando e se aprofundando em cada um daqueles personagens (outro motivo pelo qual o filme precisa se alongar um pouco), fugindo de todo tipo de clichês que geralmente dominam filmes sobre "famílias desestruturadas" (todo diretorzinho indie devia ter esse como filme de cabeceira). Dificilmente seria tão bom se não tivesse um elenco gigantesco por trás: além de Catherine Deneuve, temos Mathieu Almaric, gênio e melhor ator de sua geração, Chiara Mastroianni, Emmanuelle Devos e belas performances de Melvin Poupald (o cara do O Tempo que Resta) e principalmente de Anne Consigny (que interpreta a filha mais velha), que já atuou com Almaric em O Escafandro e a Borboleta. Grande filme mesmo.