sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Onde os Fracos Não tem Vez

(No Country for Old Men, 2007, Ethan & Joel Coen)


A história passa basicamente por três personagens: um deles, interpretado por um inspirado Josh Brolin, é o homem comum e simples que existe em praticamente todos os filmes do Coen; é um ser que pode muito bem gerar identificação por parte da platéia, mas é bom ressaltar que não possui aquela doçura dos personagens de Fargo (pelo contrário, é ganancioso, mas esses seus defeitos o tornam ainda mais humano); como contraponto a ele, temos o de Javier Bardem, Anton, um assassino, a personificasção da violência, a "maldade em pessoa", como é dito em certo momento por algum personagem; a sua caracterização é peculiar, exagerada (algo que também é uma constante nos filmes da dupla), mas mais diabólico e aterrorizante do que qualquer outra figura presente na filmografia dos cineastas (temos também, é claro, que entregar os devidos créditos a Bardem, um ator genial em uma performance extraordinária). Entre esse conflito que é estabelecido entre os dois, está aquele que talvez seja a peça-chave da história: Ed Tom Bell, interpretado por Tommy Lee Jones (que, surpresa!, também tem uma atuação excelente). É o personagem que mais parece ter desgosto do caótico estado da América atual, e ao mesmo fica deslocado, sem entender no que ela se transformou, e de onde toda aquela violência que repentinamente assola a sua pacata cidade no Texas se iniciou.

A direção dos Coen também é magistral: sempre muito precisa, segura e madura, mas ao mesmo tempo discreta e com momentos de uma secura rara de se ver (além de terem escolhido a acertada opção de não produzir nenhuma trilha sonora, apenas com o silêncio e os sons ambiente, o que apenas contribui para que a violência que nos é apresentada seja ainda mais crua). Constroem um tom de crescente tensão, brincando com as expectativas do espectador, inicialmente criando uma narrativa clássica e com atmosfera de faroeste, mas qualquer idéia que podemos ter em relação à trama são desfeitas por uma terceira parte que parece pertencer a um trabalho do Monte Hellman: a estória sobre ganancia e uma maleta contendo quase 2 milhões de dólares parece evaporar; em seu lugar, entram umas elipses desconcertantes, que acabam por nos deixar tão perdidos e desnorteados como aqueles personagens que vivem em uma terra que não reconhecem mais.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Sobre a cerimônia

Não houve tantas surpresas como eu esperava, mas a escolha dos vencedores foi a mais acertada dos últimos anos,sem dúvida: a obra-prima “Onde os Fracos Não tem Vez”, dos Irmãos Coen (sempre um mar de simpatia e boa vontade) venceu 4 prêmios Oscar (Filme, Direção, Roteiro, e Ator Coadjuvante), como já era esperado (e vale dizer também que é um trabalho sem nenhum apelo acadêmico, o que indica uma grande evolução por parte dos votantes – os épicos pomposos parecem já ser coisa do passado, felizmente). Tivemos também Marion “ Das três mulheres mais bonitas do Cinema atual” Cotillard e Tilda “David Bowie” Swinton surpreendendo, mas quem acompanhou a “corrida” sabe que o buzz em torno de ambas havia aumentado consideravelmente nas últimas semanas, então a “zebra” nem é tão grande assim (só para constar: fiz a bobagem de apostar na Blanchet por “I’m Not There”, mesmo com ela tendo vencido na mesma categoria há apenas dois anos, enquanto o “queridinho” Conduta de Risco poderia sair de mãos abanando. Nas outras categorias principais, Daniel Day-Lewis foi injustiçado ao levar a penas um troféu, enquanto na verdade merecia dois (ou até mais); Juno acabou realmente por levar Roteiro Original, merecidamente; E Javier Bardem confirmou o favoritismo ao vencer na categoria de “Melhor Ator Coadjuvante”, ao interpretar um personagem já antológico.

Agora, falando um pouco mais da cerimônia: Jon Stewart novamente teve ótimo desempenho, acertando no tom político de algumas piadas (sempre de modo muito ácido) e nas brincadeiras com os artistas e filmes indicados (a com o Dennis Hopper foi impagável); foi tudo bem correto, e... errrrrrr... chato, mas bem mais curto e discreto que as edições anteriores (até o tempo do Oscar honorário foi reduzido – e logo um dos momentos mais legais da noite...). Bastante interessante também foram os clipes de discursos de cerimônias anteriores (alguma antigonas), lembrando-nos de alguns momentos marcantes.

Pra finalizar, meu top dos indicados a Melhor Filme (todos bons, no mínimo):

01. Onde os Fracos Não tem Vez (****1/2)
02. Sangue Negro (****)
03. Juno (****)
04. Desejo e Reparação (***1/2)
05. Conduta de Risco (***)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Apostas para o Oscar 2008 (Vencedores)

Categorias principais

Filme

Quem ganha: Onde Os Fracos Não Têm Vez
Corre por fora: Desejo e Reparação
Torço para: o filme dos Coen mesmo, mas não ficaria chateado se a estatueta ficar com o filme do Anderson.

Diretor


Quem ganha: Joel e Ethan Coen, por Onde os Fracos Não tem Vez
Corre por fora: Julian Schnabel, por O Escafandro e a Borboleta
Torço para: Pra dupla mesmo; eles merecem

Ator

Quem ganha: Daniel Day-Lewis, por Sangue Negro
Corre por fora: Tommy Lee Jones, por No Vale das Sombras (sim, por que não?)
Torço para: Day-Lewis, obviamente (das cinco melhores atuações da década, fácil)

Atriz

Quem ganha: Julie Christie, por Longe Dela
Corre por fora: Marion Cotillard, por Piaf
Torço para: Só vi a Ellen Page, e adoraria vê-la ganhar (e tem bastante chances disso acontecer, aliás)

Ator Coadjuvante

Quem ganha: Javier Bardem, por Onde os Fracos Não tem Vez
Corre por fora: Hal Holbrook, por Na Natureza Selvagem
Torço para: Bardem!

Atriz Coadjuvante

Quem ganha: Cate Blanchett, por Não Estou Lá
Corre por fora: Tilda Swinton, por Conduta de Risco
Torço para: não tenho nenhuma favorita nessa categoria, mesmo.

Roteiro Original

Quem ganha: Juno, escrito por Diablo Cody
Corre por fora: Conduta de Risco, escrito por Tony Gilroy
Torço para: Juno!

Roteiro Adaptado

Quem ganha: Onde os Fracos Não tem Vez, escrito por Joel & Ethan Coen
Corre por fora: Sangue Negro, escrito por Paul Thomas Anderson
Torço para: os Coen merecem, mas meu lado fanboy babão torce pro Anderson.

Animação

Quem ganha: Persepolis, de Marjane Satrapi
Corre por fora: Ratatouille, de Brad Bird
Torço para: vi apenas Ratouille; gosto bastante.

Filme Estrangeiro

Quem ganha: The Counterfeiters, de Stefan Ruzowitzky (Áustria)
Corre por fora: Katyn, de Andzerj Wajda (Polônia)
Torço para: O Ano em que... ops, esqueçam.

Documentário



Quem ganha: No End in Sight
Corre por fora: Sicko

Categorias técnicas


Fotografia

Quem ganha: Sangue Negro
Corre por fora: Onde os Fracos Não tem Vez

Montagem

Quem ganha: Onde os Fracos Não tem Vez
Corre por fora: O Ultimato Bourne

Trilha Sonora

Quem ganha: Desejo e Reparação
Corre por fora: Ratatouille

Figurinos

Quem ganha: Sweeney Todd
Corre por fora: Desejo e Reparação

Direção de Arte

Quem ganha: Desejo e Reparação
Corre por fora: Sangue Negro

Canção

Quem ganha: “Falling Slowly”, de Once
Corre por fora: “That’s How You Know”, de Encantada

Maquiagem

Quem ganha: Piaf
Corre por fora: Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

Efeitos Visuais

Quem ganha: Transformers
Corre por fora: Piratas do Caribe: No Fim do Mundo

Som

Quem ganha: Onde os Fracos Não tem Vez
Corre por fora: Transformers

Edição de Som

Quem ganha: Transformers
Corre por fora: O Ultimato Bourne

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Votos para o Alfred

Meus votos para a premiação da Liga dos Blogues:

Filme

1 Império dos Sonhos
2 Maria
3 O Hospedeiro
4 Exilados

5 A Conquista da Honra

Diretor

1 David Lynch, de Império dos Sonhos
2 Abel Ferrara, de Maria
3 Johnnie To, de Exilados
4 Clint Eastwood, de A Conquista da Honra
5 Bong Joon-ho, de O Hospedeiro

Ator

1 Joaquim Phoenix, por Os Donos da Noite
2 Forest Whitaker, por Maria
3 Mark Ruffalo, por Zodíaco
4 Michael Shannon, por Possuídos
5 Wagner Moura, por Tropa de Elite

Atriz

1 Laura Dern, por Império dos Sonhos
2 Ashlley Judd, por Possuídos
3 Helen Mirren, por A Rainha
4 Isabelle Hupert, por A Comédia do Poder
5 Kirsten Dunst, por Maria Antonieta

Ator coadjuvante

1 Robert Downey Jr., por O Homem Duplo
2 Matthew Modine, por Maria
3 Andre Dussolier, por Medos Privados em Lugares Públicos
4 André Ramiro, por Tropa de Elite
5 Christopher Mintz-Plasse, por Superbad

Atriz coadjuvante

1 Juliett Binoche, por Maria
2 Sabine Azéma, por Medos privados em Lugares Públicos
3 Tilda Swinton, por Conduta de Risco
4 Eva Mendes, por Os Donos da Noite
5 Leslie Mann, por Ligeiramente Grávidos

Elenco

1 O Hospedeiro
2 Medos Privados em Lugares Públicos
3 Ligeiramente Grávidos
4 Viagem a Darjeeling
5 Zodíaco

Cena do ano

1 Banho de mar, em A Conquista da Honra
2 Suicídio coletivo, em Cartas de Iwo Jima
3 Morte na calçada da fama, em Império dos Sonhos
4 Whitaker na igreja, em Maria
5 O assassinato no campo, em Zodíaco

Roteiro original

1 O Hospedeiro
2 Maria
3 Os Donos da Noite
4 Ligeiramente Grávidos
5 Império dos Sonhos

Roteiro adaptado

1 Medos Privados em Lugares Públicos
2 Possuídos
3 Zodíaco

4 A Conquista da Honra
5 O Homem Duplo

Filme de estréia

1 Conduta de Risco
2
3
4
5

Filme brasileiro

1 Tropa de Elite
2 Pro Dia Nascer Feliz
3 Cidade dos Homens
4 Antônia
5

Fotografia

1 Em Busca da Vida
2 Zodíaco
3 Cartas de Iwo Jima

4 A Conquista da Honra
5 Exilados

Montagem

1 Império dos Sonhos
2 Maria
3 O Hospedeiro
4 Exilados

5 A Conquista da Honra

Direção de arte

1 Maria Antonieta
2 Zodíaco
3 Viagem a Darjeeling

4 A Conquista da Honra
5 Planeta Terror

Trilha sonora

1 A Conquista da Honra
2 Império dos Sonhos
3 O Hospedeiro
4 Treze Homens e um Outro Segredo
5 Planeta Terror

Canção

1 Pop Goes My Heart, de Letra e Música
2
3
4
5

Som

1 O Hospedeiro
2 Planeta Terror
3 Cartas de Iwo Jima

4 A Conquista da Honra
5 Tropa de Elite

Efeitos visuais

1 O Hospedeir
2 Cartas de Iwo Jima
3 Deja Vu
4 Homem-Aranha 3

5 A Conquista da Honra

Pior filme

1 Pecados Íntimos
2 300

3 Babel

4 O Bom Pastor

5 Batismo de Sangue

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Call it... just call it



Enquanto não consigo escrever quatro linhas coerentes sobre o novo e fantástico filme dos Irmãos Coen, deixo aqui uma grande cena, a do cara e coroa, só pra não passar em branco mesmo. Ainda nessa semana deixo um comentário excessivamente entusiasmado, não percam! (digo isso para os fantasmas mesmo - ou nem eles lêem esse blog?!).

Ah, e não vai ganhar o Oscar; caso contrário, será um enorme avanço para a Academia. Vamos torcer, então.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

(2007, Tim Burton)



A primeira impressão que tive era a de que Tim Burton estava por demais acomodado em seu próprio universo, e todo aquele visual gótico simplesmente não estava causando tanta impressão em mim simplesmente porque... bem... é exatamente isso que se espera de um filme do homem; também tinha uma certa frieza e distância no modo como ele conduzia aquilo tudo que me incomodou. São primeiras impressões que aos poucos vão se desfazendo: o filme vai, lentamente, criando força, envolvendo, pra terminar em um terceiro ato extraórdinario, perturbador. Mas se há algo em Sweeney Todd de que nunca duvidei é a de que a decisão de colocar Burton por trás das câmeras é perfeita: ele sabe habilidosamente como construir a atmosfera de uma Londres em completa decadência (ou melhor, ele a compreende), mas nunca se deixando levar pelo mero exibicionismo, sabendo sempre como situar aqueles personagens terrivelmente amargos e psicóticos dentro do seu cenário. A violência é estilizada, mas também muito crua, especialmente na parte final, sem dúvida a mais trágica, sangrenta e apoteótica da carreira de Burton, que, se inicialmente me pareceu tratar o trabalho com certa impessoalidade, acaba por transforma-lo em uma obra extremamente segura e forte. Como se não bastasse, as canções são boas, e temos também um Johnny Depp genial, sempre se reinventando como ator.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

No Direction Home: Bob Dylan

(2005, Martin Scorsese)



Muito difícil (ao menos para mim) escrever um texto de qualidade e que faça completa justiça a um filme tão completo como este "No Direction Home". É, como toda crítica que já li a respeito do trabalho decide frizar, o encontro de dois gênios, um vindo da música (Ele, O Maior de Todos, Bob Dylan) e outro do Cinema, talvez o maior culpado pelo monstro-cinéfilo que me tornei, Martin Scorsese (e dizer isso é um clichê absurdo e que até me deixa um pouco constrangido, mas fazer o quê se é a mais pura verdade?). O retrato que o cineasta realiza do cantor é profundo: nos apresenta desde à sua infância em uma cidade localizada meio que "no fim do mundo" até o momento em que aquele bom jovem cantor de folk, considerado um dos maiores porta-vozes de uma geração (rótulo que Dylan abominava, como fica bem claro no filme), se transforma em uma espécie de "roqueiro rebelde" (na verdade, é muito difícil tentar definir em pequenos termos como esse "roqueiro rebelde" um artista tão complexo e genial como Dylan), iniciando a que talvez seja a grande fase de sua carreira (simplesmente porque Highway 61 Revisited é o melhor disco do mundo e Bringing it All Back Home é fácil um dos quinze maiores). É sempre muito detalhista, e o material de raridades, sejam fotos ou videos, coletado é impressionante, de fazer qualquer fã de Dylan cair pra trás (e o melhor de tudo é que a excepcional edição em um DVD duplo - aliás, meu aniversário está chegando e aceito de presente - nos entrega ainda inúmeros extras e registros de shows igualmente relevante). Scorsese também consegue com uma enorme competência apresentar um retrato sempre diversificado da figura do músico, um estudo que nunca pretende desvendar o seu enigma e sim preservá-lo: temos aqui o Bob Dylan-mito, o Bob Dylan-canto-de-protesto, ou simplesmente o Bob Dylan-ser-humano, aquele que parece totatalmente assustado quando recebe uma proposta de uma grande gravadora, ou aquele cara meio solitário e introspectivo e cansado da "cena", da "fama"... enfim, o retrato é múltiplo, complexo, e o que mais impressiona é que ainda consegue traçar um paralelo extremamente convincente entre as transformações do nosso protagonista e as mudanças socio-politico-culturais ocorrentes na época (algo que O Gangster, por exemplo, adoraria ter feito com sua trama, mas infelizmente não tinha nenhum Marty por trás). Tudo isso reunido em uns 200 minutos que, acreditem ou não, passam voando (de qualquer modo, recomendo uma pausa para respirar, comer biscoito e tirar água do joelho entre as duas partes em que o documentário é dividido). E se iniciei este texto com um clichê, termino com outro: "No Direction Home" é obrigatório para qualquer um que tenha um mínimo de interesse na carreira Dele, Bob Dylan. Pra ficar na cabeceira.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

2 filmes de Ed Wood

Um deles, horrível; o outro, agradável.

Jail Bait
(1954) - *1/2



Poderia ser (ou ao menos eu esperava, já que Ed Wood é famoso justamente por isso, ou tô enganado?) um daqueles casos de filmes que de tão ruins acabam por divertir o espectador, mas Jail Bait não consegue nem isso. A tentativa é a de imitar grandes clássicos do cinema noir; o problema é que é tudo muito pobre, seja esteticamente ou narrativamente: os diálogos são quadradões, cheios de frases feitas, e tudo é tão encenado que acaba soando falso, forçado; as soluções encontradas por um texto que não escapa da preguiça, do desleixo, também são bem previsíveis, tradicionais até demais. Se tem um mérito, é o de que, mesmo sendo tão fraco (fraco não, ruim mesmo!), dá pra esquecer logo quando aparece o"The End".

A Noiva do Monstro (1955) - ***



Esse já consegue divetir com eficiência. Se em Jail Bait o que imperava era a frieza, o descaso, em A Noiva do Monstro já podemos observar uma certa paixão, carinho de Wood por seu trabalho. É extremamente datado, e talvez isto até seja positivo, nesse caso em especial: o que antes talvez assustasse (ou nem isso, aliás), hoje já se torna agradável de se ver, um prazer nostálgico. Quem também contribui para elevar o nível do trabalho é, sem dúvida, Bela Lugosi, cujo exagero na expressão facial o torna ainda mais sinistro, monstruoso, a alma do trabalho; além de tudo, parece virar uma brincadeira um involuntária com os clichês do gênero (outro ponto em que o tempo ajudou). Boa diversão.

E Plano 9... já está na minha lista de "próximos a alugar".

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Dois filmes do Carnaval

Dois deles (os outros foram Juno, já comentado, No Direction Home, que vai ganhar um post só dele, Dylan/Scorsese merecem, e dois Ed Wood, que também vão ganhar um espaço só pra eles):

Batman (1989, Tim Burton) - ***



Burton é bastante competente na criação da atmosfera do filme, sempre muito sombrio, gótico e também na caracterização da cidade, que parece sempre aparecer imersa em sombras, caótica (algo que também estava presente no primeiro filme da série, que lembro gostar, mas vi há muito tempo, prefiro não comentar - mas, se vocês decidirem escavar os arquivos do meu finado blog, provavelmente encontrarão um texto sobre o trabalho na época do lançamento de Batman Begins!), mas também é o seu trabalho mais impessoal, bastante distante. Michael Keaton é muito insosso e inexpressivo, não se encaixa muito bem no papel, então quem acaba por roubar todas as cenas é o grande Jack Nicholson, em uma interpretação genial, diabólica, entregando um humor perverso que faz muito bem ao projeto; é aí que notamos que estamos vendo um filme de Tim Burton, mas é uma sensação que não se instala em todos os momentos, infelizmente (curioso para saber como Heath Ledger encarou o personagem, parece estar ainda mais macabro). Ganha maior força em seu terceiro ato, quando nos é apresentada uma importante revelação sobre o passado de Batman e que faz com que seu conflito com o Coringa ganhe mais densidade; o mais triste, no entanto, é que, mesmo sempre tentando nos mostrar um protagonista mais complexo, ambíguo, nunca se aprofunda completamente no personagem. O filme, realmente, é todo do Coringa.

A Vida de Brian (Life of Brian, Terry Jones, 1979) - ***



É um filme que já vale a pena ser visto por sua ousadia em satirizar (com muita crítica ao fundo) os filmes e a própria história bíblica; aqui, Jesus é Brian, um fracassado e covardão que, mesmo adulto, recebe e obedece ordens de sua mãe, sendo também um tanto obcecado por sexo e relutante em aceitar que talvez seja o Messias. O humor é absurdo, baseando-se na criação de siuações puramente nonsense, e que funciona em muitos momentos, mas não em todos: chega a um ponto que, por mais criativos que sejam os caras que formam o Monty Phyton, tudo aquilo me cansou um pouco, se esgota, e algumas situações eu acho bem bobinhas, fora que eles parecem não saber quando parar. No geral, é um bom filme que diverte, mas muito superestimado.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Juno

(2007, Jason Reitman)



O início do filme possui uma afetação e clichês indie o suficiente para me incomodar: texto "esperto", rápido, menções indiretas à histórias em quadrinhos, e uma música folk bem leve, bem "twee" tocando ao fundo da grande maioria das cenas (parece, como minha mãe acertadamente observou, um episódio de Gilmore Girls, o que não é necessariamente ruim - de qualquer modo, conheço apenas alguns episódios da série, então não entremos em uma discussão aprofundada do assunto). Fora isso, uma protagonista que parece virar auto-caricatura de tã cínica(zinha), de tanto ter respostas ácidas na ponta da língua. Isso, vale ressaltar, não passava de primeira impressão, e corretamente consegui com que tal visão não ficasse "impregnada" em minha mente, sempre disposto a observar o que aquele filme até então irregular tinha me reservado (resumindo a história: estava com boa vontade).

Com o tempo, Juno vai conquistando, e acaba por se revelar um retrato emocionado de uma adolescência interrompida com a chegada de uma grande responsabilidade, nos apresentando aos medos, angústias e questionamentos provocados pela gravidez indesejada. O texto Diablo Cody, realmente uma maravilha, vai aos poucos transformando sua protagonista de uma garota um tanto rude e sarcástica em uma personagem com momentos de pura fragilidade (a crise de choro no carro - na verdade, todos aqueles tipos que aparecem na tela parecem estar tão deslocados quanto a garota) e carisma, valendo destacar que a atuação espetacular de Ellen Page ajuda, e muito; o elenco todo, aliás, é afiadíssimo, e consegue dar um tom ainda mais natural a um texto que, sozinho, já conseguiria ser muito cristalino e inteligente (e que consegue criar diálogos maravilhosos sobre punk rock e horror gore sem nunca soar forçado). O carinho e paixão com que Cody e o diretor Jason Reitman (cuja indicação ao Oscar me parece um tanto exagerada, mas seria uma injustiça atribuir todas as qualidades do projeto à Cody) possuem para com suas personagens é algo raro de se ver, e tais sentimentos conseguem nos atingir profundamente.

No fim de tudo, Juno passa a ser adorável e doce demais (e com um terceiro ato todo muito emocionante, e uma cena final lindona) para não ser adorado.

Filmes de Janeiro



TOTAL: 23 filmes.

Fitzcarraldo (1982, Werner Herzog) - ***1/2
Na Companhia dos Homens (In the Company of Men, 1997, Neil LaBute)- ***
Cinzas e Diamantes* (Popiól i Diament, 1958, Andrzej Wajda) - ****
Estamira* (2004, Marcos Prado) - **
O Desprezo (Le Mépris, 1963, Jean-Luc Godard) - ****1/2 (+)
O Dorminhoco (Sleeper, 1973, Woody Allen) - ***1/2
O Mundo (Shijie, 2004, Jia Zhang-Ke)– n/a
Tempos Modernos (Modern Times, 1935, Charles Chaplin) - ****
O Suspeito* (Rendition, 2007, Gavin Hood) - **1/2
Three Times* (Zui Hao de Shi Guang, Hou Hsiao-hsien, 2005) - ***1/2
Cidade dos Homens (2007, Paulo Morelli) - ***
Desejo e Reparação (Atonement, 2007, Joe Wright) - ***1/2
Antes do Anoitecer* (Before Night Falls, 2000, Julian Schnabel)- **
Exótica (1994, Atom Egoyan) - ****1/2 (+)
Meu Nome Não é Johnny (2008, Mauro Lima) - **
A Promessa* (La Promesse, 1996, Jean Pierre & Luc Dardenne)- ****
O Quarto Verde (La Chambre Verte, 1978, François Truffaut) - ***1/2
Eu Sou a Lenda (I am Legend, 2007, Francis Lawrence) - *** (+)
Bom Dia (Ôhayo, 1959, Yasujiro Ozu) - ***1/2
Sangue Sobre a Neve (The Savage Innocents, 1960, Nicholas Ray) - ****1/2
Viagem a Darjeeling* (The Darjeeling Limited, 2007, Wes Anderson) - ***1/2
Corrida sem Fim* (Two-Lane Blacktop, 1971, Monte Hellman) - ****1/2 (+)
O Gangster (American Gangster, 2007, Ridley Scott) - **1/2

Mas se vocês (quem?!) quiserem saber o que vejo diariamente, ou seja, acompanhar o meu log (aliás, qual seria o significado exato dessa palavra?), cliquem aqui e divirtam-se!

*filmes que já possuem texto