segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bastardos Inglórios

(Inglorious Basterds, 2009, Quentin Tarantino)



Demorou 5 anos para que Quentin Tarantino lançasse sua primeira obra pós-Kill Bill e, sinceramente, eu não duvidaria que ele tenha passado esse tempo todo escrevendo o roteiro de Bastardos Inglórios (uma tradução literal, finalmente!). Ou melhor, reescrevendo. É um projeto ambiciosíssimo (e menos genérico que eu esperava), cheio de personagens e subtramas e só mesmo muito trabalho para conseguir unir tudo isso em uma obra coesa e de ritmo perfeito (são 153 minutos mesmo?). Nessa ambição, é um projeto bastante similar à Kill Bill, mas em termos de execução está muito mais próximo da polidez e perfeccionismo de Jackie Brown (e quase tudo o que falei nesse comentário vale para este aqui também). É um filme que consegue subverter as regras do gênero em que está inserido, não apenas por mostrar judeus como assassinos tão frios como os nazistas, mas também porque, para um "filme de guerra", Bastardos Inglórios possuem até que bastante conversação. E não é um papo-furdo sobre "royale with cheese" ou "Like a Virgin", mas um diálogo que faz parte da ação (mais ou menos como a discussão entre A Noiva e Bill no final de Kil Bill Vol. 2), como a sequencia inicional ou a conversa no bar (talvez o grande momento do filme - meia hora de diálogo, 5 segundos de tiroteio).

Todos os filmes de Tarantino me parecem carregar sempre uma visão muito romântica da 7ª Arte, mas em Bastardos isso vem de um modo ainda mais direto (talvez até mais que em KB), já que aqui, afinal, a própria trama gira em torno de um Cinema. Em Bastardos Inglórios, é esta arte tem a capacidade de acabar com guerras (apesar de que tal mensagem não é expressa de modo tão edificante quanto possa parecer), de mudar o curso da História, o único lugar em que Hitler é morto tendo sua cabeça metralhada por um maníaco chamado Eli Roth (interpretando ele mesmo, claro). O filme se encerra com uma frase de uma auto-indulgência bem descartável, mas eu não culpo Tarantino por ter consciência daquilo; soa como um suspiro depois de um trabalho longo, muito longo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um Pouco Sobre Ryan Larkin



Ryan Larkin tem uma história curiosa: foi "pupilo" de Norman McLaren (curta-metragista experimental e um dos grandes nomes da animação mundial) na National Film Board of Canada, realizando seu primeiro curta em 1965, o ótimo Syrinx (sobre o qual falarei em parágrafos posteriores), quando tinha apenas 22 anos idade, concorrendo ao Oscar quatro anos mais tarde pela primeira vez, com o genial Walking. Em 72, fez inda mais um filme Street Musique, e que foi sua despedida. A partir daí, a carreira de Larkin entrou por água abaixo: largou a NFBC e rendeu-se ao vício do álcool e da cocaína, chegando até mesmo a viver como um sem-teto nas ruas de Montreal.



Em 2004, o outrora promissor animador foi resgatado, se tornando material para um curta-metragem dirigido por Chris Landreth que ganhou bastante repercursão ao vencer o Oscar de Melhor Animação. Todos aqui se apresentam como personagens desfigurados, fazendo quase um retrato da mente degenerada de Larkin. Ao invés de adotar um tom sentimentalista ou sensacionalista, Landreth opta por um caminho menos convencional e previsível (algo que me parece ser típico do cineasta, pelo que pude ver em seus trabalhos anteriores) para se fazer uma biografia, sendo uma obra extremamente criativa e visualmente forte, mas nunca renegando o conteúdo. Um filme que certamente receberia o selo de aprovação por parte de Ryan Larkin.

Quanto à filmografia do biografado, pude conferir dois de seus curtas, como afirmei no primeiro parágrafo. O primeiro deles, Syrinx, tem seu ponto de partida na mitologia grega, que, segundo o wikipédia inglês, representa uma ninfa conhecida pela sua castidade, desejada pelo Deus Grego Pã, e todo o restante da história podemos acompanhar através de imagens inicialmente abstratas, mas que após algum tempo acabam por ganhar formas, em uma atmosfera onírica reforçada pela música de Claude Debussy. O outro, Walking, tem uma idéia simples, mas uma execução que impressiona. Na época, Larkin foi taxado de o "George Harrison ou o Frank Zappa da Animação", o que não me surpreende tanto, já que Walking carrega bastante a psicodelia do período, realçada pela ótima trilha sonora, mostrando os corpos dos personagens em constantes transformações (assim como a própria época em que foi feito), seja em tamanho ou em cores (o próprio "protagonista" tem rosto e corpo indefinidos, em constante mudança).

Logo abaixo, Syrinx e Walking.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Filmes de Setembro

Esse talvez tenha sido meu maior período de ausência desde que eu criei o blog, e peço desculpas. Nem tenho muita explicação, é mais por desinteresse mesmo, até porque tenho visto material que redenria bons posts (tem um sobre o Ryan Larkin vindo por aí, aguardem).



c. Guernica (1950, Alain Resnais and Robert Hessens) - * * *1/2
c. Darkness/Light/Darkness (Tma/Svetlo/Tma, 1989, Jan Svankmajer) - * * * *
c. The Karen Carpenter Story (1987, Todd Haynes) - * * * *
A Fronteira da Alvorada (La Frontière de l'Aube, 2008, Phillippe Garrel) - * * * *
Se Beber, Não Case! (2009, Todd Phillips) - * * *
Soberba (The Magnificent Ambersons, 1942, Orson Welles) - * * * *
Sempre Bela (Belle Toujours, 2006, Manoel de Oliveira) - * * *1/2
c. Les Astronautes (1959, Walerian Borowczyk e Chris Marker) - * * *1/2
c. Byt (1968, Jan Svankmajer) - * * * *
Desejo e Perigo (Se, Jie, 2007, Ang Lee) - * * *1/2
c. The House of Small Cubes (Tsumiki no Ie, 2008, Kunio Katô) - * * * *
c. The Aroma of Tea (2006, Michael Dudok de Wit) - * * *1/2
c. Father and Daughter (2000, Michael Dudok de Wit) - * * * *
Songs From the Second Floor (Sånger Från Andra Våningen, 2000, Roy Andersson) -
c. The Monk and the Fish (Le Moine et le Poisson, 1994, Michael Dudok de Wit) - * * *1/2
c. Vincent (1982, Tim Burton) - * * *1/2
c. Partly Cloudy (2009, Peter Sohn) - * * * ou * * *1/2
Up! (2009, Pete Docter) - * * *1/2
c. Ryan (2004, Chris Landreth) - * * * *
c. Syrinx (1965, Ryan Larkin) - * * * *
c. Kiwi! (2006, Dony Permedi) - * *1/2
c. 9 (2005, Shane Acker) - * * *
c. Balablok (1972, Bretislav Pojar) - * * * *
Cinzas do Passado (Dung Che Sai Duk, 1994, Kar Wai Wong) - * * *1/2
Eu Te Amo, Cara (I Love You, Man, 2009, John Hamburg) - * * *1/2
c. Presto (2008, Doug Sweetland) - * * * *
O Homem Sem Passado (Mies Vailla Menneisyyttä, 2002, Aki Kaurismaki) - * * *1/2
Moloch (Molokh, 1999, Aleksandr Sokurov) - * * * *
A Agenda (L'Emploi du Temps, 2001, Laurent Cantet) - * * *1/2
O Anticristo (Antichrist, 2009, Lars Von Trier) - * *
O Homem que Amava as Mulheres (L'homme qui aimait les Femmes, 1977, François Truffaut) - * * *1/2
c. Wallace and Gromit: The Wrong Trausers (1993, Nick Park) - * * *1/2
Wallace and Gromit: A Batalha dos Vegetais (Wallace & Gromit in The Curse of the Were-Rabbit, 2005, Nick Park e Steve Box) - * * *
c. The Adventures of André & Wally B. (1984, Alvy Ray Smith) - * *1/2
c. Luxo Jr. (1986, John Lasseter) - * *1/2
c. Red’s Dream (1987, John Lasseter) - * * *1/2
c. Tin Toy (1988, John Lasseter) - * * *1/2
c. Knick Knack (1989, John Lasseter) - * * *
c. Geri’s Game (1997, Jan Pinkava) - * * * *
c. For The Birds (2000, Ralph Eggleston) - * *1/2
c. Mike’s New Car (2002, Pete Docter e Roger Gould) - * * *
c. Boundin’ (2003, Bud Luckey e Roger Gould) - * * *
c. Jack-Jack Attack (2005, Brad Bird) - * * *1/2
c. One Man Band (2005, Mark Andrews e Andrew Jimenez) - * * *1/2
c. Mater and the Ghostlight (2006, John Lasseter and Dan Scanlon) - * * *
c. Lifted (2006, Gary Rydstrom) - * * *
Moscou (2009, Eduardo Coutinho) - * * * *
c. Le Retour A La Raison (1923, Man Ray) - * * *1/2
Um Sopro do Coração (Le Souffle au Coeur, 1971, Louis Malle) - * * *

TOTAL: 17 filmes + 33 curtas.