segunda-feira, 31 de março de 2008

Um pouco sobre Paranoid Park



Vi ontem e realmente não consigo gostar deste como aconteceu com Elefante ou Last Days (obras-primas, pra mim), mas não há nenhuma dúvida de que é um trabalho maravilhoso, comprovando que Gus Van Sant entende o jovem e a adolescência como ninguém no mundo de hoje: Paranoid Park é todo sobre este período da vida, e não apenas sobre um garoto que acidentalmente assassinou um guarda; a culpa ocasionada por tal fato se mistura a vários outros sentimentos, e serve para atenuar ainda mais a confusão existente em sua cabeça: há a pressão - meio indireta - de se fazer sexo com a namorada; o descaso e o divórcio dos pais; sem falar dos problemas já naturais da juventude. Consegue se renovar, se utilizando de recursos até então não explorados tão profundamente em sua carreira, como o slow motion, que dá o tom do filme e é utilizada ge-ni-al-men-te em diversos momentos (os jovens andando de skate, por exemplo). Pode até ser considerado como uma obra bem distinta de um Last Days; sim, ambos tem como objetivo realizar um estudo sobre a figura central, mas a diferença está em como Van Sant decide abordar sua história: em Last Days a câmera se posiciona bem distante do protagonista, um retrato objetivo; em Paranoid Park, por outro lado, o registro é puramente subjetivo, como se estivesse sendo feito em um fluxo de consciência, através das memórias do protagonista( que também é narrador da história); e a câmera, agora, está sempre perto de seus personagens, observando os pequenos gestos e olhares. Estamos diante de um trabalho que decide por avaliar o estado de espírito, e, para desenvolver esta difícil tarefa, Van Sant se utiliza de muitos artifícios; os que mais chamam a atenção é a trilha sonora, se utilizando de músicas do Nino Rota (que em alguns momentos se encaixa com perfeição, mas em outros colobora com a formação de um anti-clímax), além de duas canções lindas do Elliott Smith, um dos meus músicos favoritos (tocar Angeles no final é covardia, diga-se de passagem), além das imagens em vídeo, do já citado slow motion e nos sons (repara só naquela cena fantástica do garoto no banho, como o barulho dos pingos d'água parecem sufocá-lo com o tempo).

Acho que é um daqueles casos que a revisão se faz necessário para que eu consiga digerir melhor. Até aqui, um ótimo filme, mas cresce com o tempo e algo no fundo me diz que ele é bem mais que isso.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Do You, Mr. Jones?



Meu Deus, existe melhor que esse nessa década? E essa cena é provavelmente o melhor videoclipe dentro de um filme já feito. Tudo perfeito.

PS: Embriagado de Amor é hors concours, claro.

domingo, 23 de março de 2008

Cada um com o seu Cinema

(Chacun son Cinema, 2007, vários diretores)



Possui aqueles velhos problemas de filmes divididos em episódios, como o fato dos diretores se apresentarem presos à uma curta duração (todos têm no máximo três minutos), dificultando o desenvolvimento do projeto; ou então a irregularidade, seja no ritmo ou nas qualidades dos segmentos. A verdade é que o trabalho me cansou um pouco, especialmente devido à grande quantidade de curtas que realmente não me despertaram nada e que são bem esquecíveis (Raymond Depardon - que abre o filme, mas não diz a que veio; Raoul Ruiz; Tsai Ming-Liang; os fofinhos do Zhang Yimou e do Chen Keige; etc.), mas também não devemos deixar de reconhecer a beleza de certos trabalhos: a maravilha do Hou-Hsien Hsien; a pequena obra-prima do Iñarritu (acho que o que de melhor ele já fez, para minha surpresa, mas pode ser culpa da trilha do O Desprezo, do Godard - e eu gosto dos dois primeiros dele), o hilário do Roman Polanski, um muito bonito dos Irmãos Dardenne, que se aproxima do curta do Iñarritu por depositar uma força muito grande na força de expressão de sua personagem, assim como ocorre em um outro episódio muito bonito, o de Abbas Kiarostami; o nostálgico segmento do Claude Lelouch. Alguns recorrem ao impacto, o choque, mais audaciosos: o de Lars Von Trier, cheio de um humor negro que me agradou (revela aquele desejo que fica meio que inconsciente na mente de alguns cinéfilo); o do David Cronenberg, fortíssimo e muito bom (o mais pessimista, com certeza); aquele dirigido pelo Amos Gitai, que esteticamente é bem interessante, mas me deixou dividido; o instigante "Absurda", de David Lynch; e, por fim, o genial curta do Roman Polanski, fazendo companhia ao Iñarritu e Hsien no top 3. A grande bomba é o da Jane Campion (o que raios é aquilo?), e outro que achei bem fraco foi o do Yousseff Chahine, puro egocentrismo. As maiores decepções ficaram por conta do Gus Van Sant e do Olivier Assayas (a câmera na mão é excessiva e incomodou - é melhor utilizada nos outros trabalhos que vi do diretor), um pouco bobos. Um que causou certa polêmica entre os comentários que já li foi o curioso segmento do Ken Loach, que foge demais da proposta do projeto, mas é curioso justamente por ser um tanto anti-climático. No geral é mais ou menos aquilo que se esperava de projeto do tipo, e, mesmo não sendo muito acima da média, acho que vale a pena ser visto.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Anna



Uma pequena obra-prima dirigida pelo Alejandro Gonzalez Iñarritu, o melhor segmento do irregular (mas bem interessante) Cada um com seu Cinema (texto em breve). Só de ouvir aquela música do O Desprezo nos cinemas, meu amigo...

sábado, 15 de março de 2008

Senhores do Crime

(Eastern Promises, 2007, David Cronenberg)



Visualmente é um dos filmes menos radicais do Cronenberg, mas tematicamente é possível encontrar diversos temas que são extremamente característico do cineasta, especialmente com seu trabalho anterior, o fantástico Marcas da Violência (ou seja, considerar Senhores do Crime como um filme mais "no piloto automático" é algo bastante equivocado, ao meu ver): o protagonista de ambas as histórias, interpretado brilhantemente por Viggo Mortensen, parecem se esconder através de uma máscara para conseguir ser aceito em seu ambiente. Em "Marcas...", Ed Stall havia conseguido atingir o sonho americano, até que seu passado volta para atormentá-lo; em "Senhores do Crime", Nikolai é motorista de uma família da máfia russa e contratado para realizar sempre aquele trabalho mais sujo, sempre às sombras, sem ser notado, quase um outsider, tendo que reprimir sua natureza. Quanto ao seu passado, nada se conhece, mas está expressado pelas inúmeras tatuagens de seu corpo. A Londres retratada por Cronenberg é sombria, obscura, e os personagens meio que se perdem nela; o modo como ele conduz a narrativa é seguro, preciso, e, se é não é um filme cheio de grandes momentos, Cronenberg nos entrega dois de uma força imensa: um deles comprova a secura com que o cineasta filma cenas de ação, esta passada numa sauna (um das grandes sequencias do ano, desde já); o outro é o belo plano final, que encerra o trabalho com um gosto amargo. Um filme menor, mas ainda assim, muito bonito.

terça-feira, 11 de março de 2008

Sangue Negro

(There Will be Blood, 2007, Paul Thomas Anderson)



Certamente o trabalho mais difícil do Paul Thomas Anderson, e com pontos muito diferentes de seus trabalhos anteriores, mas ainda assim continua a nos apresentar com habilidade alguns elementos já característicos em sua obra, seja dramaturgicamente (a relação entre pai e filho), ou tecnicamente, já que o trabalho com a câmera continua impecável, mérito também do diretor de fotografia, Robert Elswit, parceiro habitual de Anderson. Por outro lado, digamos que, se Embriagado de Amor (que não troco por nada no mundo, dificilmente PTA o superará) nos fornece algo como uma injeção de felicidade, Sangue Negro possui um efeito muito mais perturbador e impactante.

Outras duas coisas que contribuem imensamente para o êxito do filme: a primeira delas é a excepcional trilha sonora do Johnny Greenwood, guitarrista da maior banda da atualidade, Radiohead; impressionante como Anderson consegue criar uma sintonia tão perfeita entre imagem e música, e a brilhante primeira parte pode comprovar isto, quando observamos um ainda humilde garimpeiro prosperar (aliás, não me lembro de diálogos neste momento). O outro fator é, obviamente, a performance monstruosa, fora do normal, de Daniel Day-Lewis (você dificilmente vai encontrar atuação melhor que essa durante esta década). A densidade e complexidade do homem que interpreta, só poderia se tornar realmente crível com um ator de grande porte como ele. Anderson nos faz acompanhar as lentas e profundas transformações que ocorrem no seu psicológico e personalidade, que vai se isolando cada vez mais à medida que ocorrem uma série de decepções pessoais e familiares (outro tema muito presente nos demais trabalhos do cineasta): primeiro com seu filho, que não consegue cumprir as expectativas do pai, e depois com seu irmão. Essa construção do personagem (que, nas primeiras cenas, parece até um pouco afetuoso, para depois atingir a completa insanidade) é realmente fascinante, mas o que distancia o filme de ser uma obra-prima (pois tinha muitas chances de ser uma) são alguns pequenos excessos, uma certa irregularidade no ritmo, e uma cena final de impacto inquestionável, mas tenho dúvidas se era realmente necessária uma conclusão daquelas; preferiria que terminasse naquele sensacional diálogo entre Plainview e seu filho (“a bastard from a basket!”), que me parece bem mais importante do que o conflito com o pastor (interpretado por um Paul Dano surpreendente – a cena da pregação me deu arrepios), tentando não deixar de fora, é claro, aquela parte dos milkshakes (caso contrário, o que mais eu iria escrever na cadeira do colégio?). São coisas que atrapalham o resultado final, mas é tudo tão intenso que não consigo considera-lo menos que um grande filme.

sábado, 8 de março de 2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

Filmes de Fevereiro



TOTAL: 16 filmes


Juno
(idem, 2007, Jason Reitman) - ****
Batman (idem, 1989, Tim Burton) - ***
No Direction Home: Bob Dylan (idem, 2005, Martin Scorsese) - ****1/2

A Vida de Brian (Life of Brian, 1979, Terry Jones) - ***
Jail Bait (1954, Ed Wood) - *1/2
A Noiva do Monstro (Bride of the Monster, 1955, Ed Wood) - ***
Sweeney Todd (idem, 2007, Tim Burton) - ****
Veneno (Poison, 1991, Todd Haynes) - ***1/2
Cloverfield (idem, 2008, Matt Reeves) - ***1/2
Onde os Fracos Não tem Vez (No Country for Old Men, 2007, Joel & Ethan Coen) - ****1/2
A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça (Sleepy Hollow, 1999, Tim Burton) - ***
Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy, 1994, Joel Coen) - ***
Sangue Negro (There Will Be Blood, 2007, Paul Thomas Anderson) - ****
Senhores do Crime (Eastern Promises, 2007, David Cronenberg) - ***1/2
O Tesouro de Sierra Madre (The Treasure of the Sierra Madre) - ****1/2
Eleição 2 (Hak se Wui yi wo Wai Kwai, 2006, Johnnie To) - ***1/2

segunda-feira, 3 de março de 2008

Rainn on Film

Uma série de "entrevistas" e "testes de elenco" feitas pelo Rainn Wilson (o Dwight, melhor personagem da genial versão norte-americana de The Office) com os indicados ao Independent Spirit (foi apresentador da cerimônia que ocorreu dia desses). Abaixo seguem três delas, todas hilárias:

Com o Todd Haynes, de I'm Not There



Teste para Juno



Com o... errrr... "Julian Schnabel", de O Escafrando e a Borborleta