sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Mais ou menos Mal dos Trópicos



Finalmente tive a oportunidade de rever um dos filmes que mais me deixaram intrigados, dessa vez no cinema (com uma cópia muito vagabunda, mas não vou reclamar muito, pois só a iniciativa exibir um filme desses por aqui já é boa o suficiente para que eu fique de bico fechado), mas não do jeito que eu queria, por certas razões: a primeira foi o exaustivo caminho percorrido entre minha casa e o cinema, com um tráfego monstruoso, demorando no total uns 50 minutos para completar o percurso (e me fez perder uns 10 minutos de filme, o que me deixa realmente puto); no fim das contas, ainda tive que aturar o cheiro de cigarro da mulher ao lado e as pessoas mais mal-educadas que eu já vi numa sala de cinema (logo atrás de mim, conversando sem parar e rindo muito alto em determinados momentos - entre eles o do vídeo acima, o que me deixou arrasado).

No mais, ainda foi possível extrair alguma coisa, entre elas a sensação única que esse filme provoca em mim. O discurso que vou fazer pode parecer um clichê enorme ou simplesmente exagero, mas a experiência que esse filme te proporciona é sem igual. Você pode odiar ou amar (e tenho certeza que as reações ao filme vão se limitar a ficar nesses dois extremos), mas dificilmente vai se esquecer do que viu. Eu não sei se é um trabalho perfeitamente redondo, mas toda aquela segunda parte é de outro mundo, facilmente um dos momentos mais brilhantes do cinema nessa década (e putaquepariu, ainda tem aquela árvore iluminada por vagalumes)

Pretendo, então, rever mais uma vez o filme, em DivX, sim, mas sem pessoas incovenientes e cheiros de nicotina, no conforto de meu quarto.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Three Times

(Zui Hao de Shi Guang, 2005, Hou Hsiao-Shien)



Daqueles filmes que se expressam melhor através das imagens que de palavras (e os diálogos são realmente curtíssimos). Hou explora profundamente os olhares e gestos dos personagens, com uma câmera agindo perfeitamente como observadora. A história é dividida em três: a primeira, passada nos anos 60, é a mais leve e otimista, e também minha favorita, disparada (com momentos que aproximam demais o filme de ser uma obra-prima); a que segue, agora em 1911, segue uma linha mais a linha de um melodrama trágico, mas o que se nota mesmo é a ousadia com que Hou decide narra-la, se apropriendo de características do cinema mudo; a última parte, nos dias atuais, talvez seja a mais introspectiva e melancólica (a que menos gostei - ou seria a que eu tive mais dificuldade?); em comum está, obviamente, o tema (o amor), e a sua atemporalidade. O que também impressiona é como Hou consegue unir estas três tramas de modo muito enxuto, homogêneo, o que falta a muitos daqueles filminhos divididos em episódios.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Alguns Trailers

Pra não deixar esse blog jogado às moscas e pra desculpar a ausência de uma semana, coloco aqui alguns trailers de filmes interessantes dessa temporada, que certamente estão sendo aguardados ansiosamente por qualquer cinéfilo que se preze.

O primeiro é o de Milk, novo do Gus Van Sant, e que promete muito (e aquela ópera no começo, ein?), apesar de eu ter um pouco de medo em relação à alguns aspectos (mas, ok, confio no Gus, que já nos entregou belíssimos filmes mais comerciais). Em seguida temos Miracle at Sant'Anna, novo do Spike Lee, grande cineasta (especialmente quando fica de boca fechada - caso contrário, pelo menos temos o Clint pra calá-lo, né?), e foi o trailer que me deixou mais animado. O outro é The Curious Case of Benjamin Button, do David Fincher, que nos entregou ano passado um filmão, Zodíaco (top 10 de 2007 fácil, fácil), e que, espero, vai continuar em boa fase (o belo trailer promete isso, ao menos). Por fim, temos o novo Sam Mendes, Revolutionary Road, que conta com Kate Winslet (será que por esse ela finalmente ganha um Oscar?) e Leonardo DiCaprio contracenando pela primeira vez depois de Titanic. Não é bem um trailer, na verdade, e sim um teaser retirado da televisão, com uma qualidade meio ruim, mas vale a pena pra matar a curiosidade. Pro Mendes, é a chance de se redimir do horroroso Soldado Anônimo.


Milk


Miracle at Sant'Anna


The Curious Case of Benjamin Button


Revolutionary Road

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Hellboy II: O Exército Dourado

(Hellboy II: The Golden Army, 2008, Guillermo Del Toro)

Ron Perlman as Hellboy in Universal Pictures' Hellboy II: The Golden Army

Essa é a comprovação de que Guillermo Del Toro talvez seja o cineasta ideal para filmar histórias em quadrinhos. Ele demonstra a cada momento compreender demais esse universo fantástico, se identificar profundamente cada um daqueles freaks colocados em cena. Ao contrário de um Christopher Nolan, que entope um filme de gorduras para parecer importante ou “real”, Del Toro não se esquece do tom fantasioso de sua obra e sabe como poucos explorar tais terrenos. Hellboy II talvez tenha seus excessos, com seus grandiosos monstros e efeitos especiais, mas surpreende por ser sempre uma experiência leve, descompromissada (talvez devido ao humor presente, cheio de tiradas geniais).

Os heróis aqui ganham uma faceta mais sentimental, às vezes melancólica (a cena em que o protagonista e seu parceiro, Abe, afogam as mágoas interpretando uma canção é uma das melhores do ano), sendo um dos blockbusters recentes que melhor exploram aqueles “pequenos momentos” (talvez até mais que Iron Man – que também é muito bom), os conflitos pessoais existentes entre seus personagens. São seres humanizados, mas o desespero deles está justamente no fato de não conseguirem se encaixar, de viverem eternamente marginalizados. São características que ganham credibilidade pelo simples fato de seu criador possuir um carinho gigantesco por cada uma daquelas criaturas. E talvez por pertencer a um tipo de Cinema que é ao mesmo tempo comercial e autoral, algo cada vez mais difícil de ocorrer, que Hellboy II seja o melhor filme de super-heróis da temporada.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A Comédia da Década?



"Check it out. Dustin Hoffman, 'Rain Man,' look retarded, act retarded, not retarded. Count toothpicks to your cards. Autistic, sure. Not retarded. You know Tom Hanks, 'Forrest Gump.' Slow, yes. Retarded, maybe. Braces on his legs. But he charmed the pants off Nixon and won a ping-pong competition. That ain't retarded. Peter Sellers, "Being There." Infantile, yes. Retarded, no. You went full retard, man. Never go full retard. You don't buy that? Ask Sean Penn, 2001, "I Am Sam." Remember? Went full retard, went home empty handed... "

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira

(Blindness, 2008, Fernando Meirelles)

Julianne Moore in Miramax Films' Blindness

Tive o prazer de ler o livro nessas minhas últimas férias, e, assim como a maioria das pessoas, fiquei realmente fascinado. Saramago tem um estilo singular de contar uma estória, irrepreensível tecnicamente, com um humor que é ao mesmo tempo mordaz e sutil, especialmente no modo como ele decide encaixar toda a crítica social e política. É tão bom que eu cheguei a pensar que é um material infilmável, principalmente porque poucos cineastas teriam tanta precisão e segurança na hora de narrar uma trama tão densas e complexas como essa. Infelizmente, acho que ainda não era a hora do Fernando Meirelles.

Não me levem a mal: eu gosto dele. Só porque eu acho Cidade de Deus hiper-mega-super-estimado não significa que eu vá considerá-lo mal cineasta (e é bom ressaltar que lembro de ter gostado bastante do Jardineiro Fiel - apesar de tê-lo visto há muito tempo; uma revisão se faz necessária). Há, porém, o problema de que é muito difícil (ao menos para mim) tentar analisar um filme como esse sem estabelecer nenhuma comparação com a obra original. No geral, é uma adaptação correta (mas que também não se arrisca), fiel (pelo menos nos fatos), e talvez um tanto óbvia, especialmente em relação a sua estética (mas em pelo menos duas cenas aquele branco todo que invade a tela é muito bem utilizada, ambas protagonizadas pelo primeiro cego: o momento em que ele encontra sua esposa na quarentena e o momento em que volta a enxergar). O que me incomoda, na verdade, é que, se no livro do Saramago todos esses problemas do mundo moderno eram abordados com aquela sutileza e humor únicos já citados no início desse texto, no filme ganha um tom denunciativo que está presente em um, por exemplo, Babel, ou qualquer outro filme do gênero. As cenas de violência, no livro, chocam justamente pelo modo "indireto" com que Saramago as descreve, enquanto aqui Meirelles entra no caminho do choque fácil.

Mas o maior problema, no entanto, é outro: há muita simplificação. Pode ser impressão minha, mas as coisas aqui não acontecem um pouco rápido demais? Ensaio Sobre a Cegueira, o filme, passa muito longe de ser aquele estudo profundo e extremamente detalhado do ser humano que se faz presente na obra de Saramago, justamente devido a essa superficialidade. Prova disso é a pouca exploração de personagens interessantíssimos e muito importantes para a obra, como o velho da venda preta ou a mulher dos óculos escuros (além de que não se aprofunda na questão do governo ou do exército, tão bem retratada no livro - aqui só é observada de longe).

Eu não diria que foi uma decepção, já que minhas expectativas não eram lá tão altas, mas surpreende pelo fato de ser algo tão esquecível.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Filmes de Agosto

Mês mais fraco do ano em termos de filmes, algo que geralmente ocorre na minha volta às aulas, devido provavelmente ao "choque das rotinas" (e porque dessa vez eu tenho que estudar mais - cof cof -, o que diminui a disposição). Enfim...



TOTAL: 12 filmes

Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994, Oliver Stone) – *
Salvador (1986, Oliver Stone) - * * *1/2
Paixão em Hong Kong (Boarding Gate, 2007, Olivier Assayas) - * * *1/2
Bens Confiscados (2004, Carlos Reichenbach) - * * * *
Trocando as Bolas (Trading Places, 1983, John Landis) – * * * *
Encontrando Forrester (Finding Forrester, 2000, Gus Van Sant) – * * *1/2
Era uma Vez... (2008, Breno Silveira) – * *1/2
/Gerry/ (2002, Gus Van Sant) - * *1/2
A Via Láctea (2007, Lina Chamie) - * * *1/2
The Devil and Daniel Johnston (2005, Jeff Feuerzeig) – * * * *
Falsa Loura (2007, Carlos Reichenbach) - * * *1/2
O Show deve Continuar (All That Jazz , 1979, Bob Fosse) - * * * *1/2

sábado, 6 de setembro de 2008

Sobre o Festival de Veneza



A seleção desse ano estava bem fraca e eu estranhei bastante a pouca cobertura que o festival teve na imprensa (mas talvez eu que não tenha procurado direito), mas isso não diminui a surpresa de ver o novo filme do Aronofsky ganhando, na premiação que ocorreu ainda hoje, dia 6. Eu sou possivelmente o detrator #1 dele, mas confesso que esse The Wrestler me despertou desde o início muita curiosidade, especialmente por ter o excelente Mickey Rourke (foto acima - excêntrico, não?) como protagonista e pela trama que parece se distanciar da filosofia barata do A Fonte da Vida, que é um horror (Réquiem eu acho ainda pior, aliás).

Para ler mais, clica aqui, bicho.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Viagem a Darjeeling

(The Darjeeling Express, 2007, Wes Anderson)


A primeira parte, cuja ação se concentra na viagem de trem feita pelos três irmãos e algumas paradas para visitar alguns centros importantes da Índia, deve ser a mais irregular da carreira de Anderson: aquelas suas velhas caracteristicas me pareceram até um pouco exibicionistas em certos momentos (e vocês não sabem como é difícil ter que admitir isso; logo eu, fanzaço do cara) e o humor não funcionava com a mesma eficácia (achei até forçado e fácil demais).

O que mais impressiona, no entanto, é como Viagem a Darjeeling consegue se recuperar em seus dois últimos atos: é a partir daquela cena da despedida entre o personagem de Jason Schuartzman e a comissária de bordo que o filme realmente ganha um coração. E depois disso, meus amigos, Wes Anderson nos presenteia com uma quantidade considerável de cenas realmente lindas, comoventes (posso citar também o acidente e o enterro do garotinho indiano; a conversa dos irmãos ao som da música do E la Nave Va; e outras duas ja na parte final: os três e a mãe ouvindo a uma canção dos Rolling Stones e aquela "cerimônia da pluma" - se não as duas melhores, os dois momentos mais reveladores).

Toda quela discussão em relação à estética dos trabalhos de Anderson é sem dúvida alguma relevante, mas afirmar que são "todos iguais" (e firmar toda uma crítica negativa em torno disso não é o argumento mais convincente) me parece um pouco de má vontade também, já que as circustâncias sempre mudam: o cenário e a exploração deste em Viagem a Darjeeling são bastante singulares em sua filmografia (essa preocupação com os espaços externos, aliás, só aparece mesmo nesse e em A Vida Marinha, sendo que em Darjeeling, temos o deserto, e no outro, o oceano). Outro fator está no foco, sobre que ponto de vista a estória será contada: os dois filmes anteriores de Anderson (o já citado Steve Zissou e Os Excêntricos Tenenbauns), que também tem como peça central uma família desestruturada, são criados a partir da figura do pai, enquanto em Viagem a Darjeeling tal personagem sempre se mantém oculta, enigmática, representado apenas por um mudo Bill Murray, creditado apenas como "The Businessmen".

Agora o ponto de vista passa para os três irmãos que embarcam em uma "jornada espiritual" a ponto de conseguirem estabelecer uma maior proximidade; o problema, no entanto, é que pelo menos dois deles não estão exatamente interessados (Peter, vivido por Adrien Brody, ótimo; e Jack, interpretado por Schwartzman, outro que merece destaque), enquanto Francis (Owen Wilson - quanto à sua atuação, idem aos anteriores) segue no desejo de reencontrar a mãe. São figuras fragéis, inseguras, vivendo momentos decisivos em suas vidas e sem saber lidar com isso. Essa profundidade concedida aos protagonistas mostra que Anderson, mesmo com seus excessos estéticos (que só me incomodou mesmo na parte inicial - em toda a sua carreira, é bom deixar claro), nunca se esquece da área dramaturgica, fazendo com que cada personagem nos apresente uma faceta distinto, tornando Viagem a Darjeeling, mesmo com suas imperfeições, um trabalho extremamente acima da média.