domingo, 23 de agosto de 2009

Velvet Goldmine

(1998, Todd Haynes)



Para completar a filmografia de Todd Haynes (entre os seus longa-metragens, já que infelizmente ainda não tive a oportunidade de ver o “The Karen Carpenter Story”), só me faltava esse terceiro filme, Velvet Goldmine, que pude assistir há algumas semanas, sendo, curiosamente, o seu trabalho que mais se aproxima da sua obra-prima, Não Estou Lá. Na verdade, me parece mais um rascunho precipitado do que ele iria fazer futuramente, mas ainda assim é uma obra excitante. Não são parecidos apenas por estarem ligados ao universo musical, mas por também brincarem com a estrutura narrativa e pela mistura entre gêneros. Velvet Goldmine é sem dúvida uma obra rica e complexa, mas é visível também que é um trabalho um tanto descontrolado, excessivo, daqueles casos em que o passo parece ser maior que a perna.

Entre os trunfos do projeto, destaco o belo painel que faz de uma determinada época (a Inglaterra que fervia ao som do glam rock no começo dos anos 70) e daquela efeverscência cultural do período. Um dos protagonistas, o cantor fictício Brian Slade, é inspirado em Ziggy Satrdust de David Bowie, mas parece incorporar elementos de outros artistas do rock (afinal, quantas vezes já ouvimos falar de músicos que teriam supostamente encenado sua própria morte? – temos Elvis e Jim Morrison, pra começo de conversa). Velvet Goldmine felizmente não nos oferece respostas concretas sobre o enigma de Slade; nunca conseguimos entende-lo por completo, é um fantasma que sempre parece nos escapar (se assemelha a Dylan nesse ponto). Não deixa de ser também um filme sobre a memória, sobre como víamos (ou vemos) nossos ídolos (a história de Slade nos é apresentada através de flashbacks, com depoimentos de pessoas que participaram de suas vida dados ao personagem de Christian Bale – uma estrutura de pseudo-documentário que se reflete de modo mais direto em Veneno e Não Estou Lá).

Outra menção musical interessante que o filme faz está na personagem de Ewan McGregor, Curt Wild, claramente inspirado em Iggy Pop (mas ele canta TV Eye, dos Stooges, em um show, então entregaram o ouro), mas me parece incorporar alguns traços da persona de Lou Reed também, como a terapia de eletro-choque que Curt sofre quando seus pais descobrem sobre a sua homossexualidade ou uma frase que é dita no inicio pelo seu personagem (algo como “Eu não entendo como todo mundo pode ser bissexual. Pra mim é impossível que alguém finja ser gay” – frase de autoria de Reed, mas não exatamente com essas palavras). Como vocês podem perceber, a estória do filme se baseia em três personagens (Slade, Wild e o jornalista vivido por Bale), e isso resulta na falta de foco, o que apenas dá mais irregularidade à obra, que no geral é mais uma colcha de retalhos, um amontoado de idéias. O que não deixa de ser interessante.

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