quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Em Paris

(Dans Paris, 2006, Christophe Honoré)


A primeira impressão que o filme passa é a de que foi feito sob encomenda para virar mais um “queridinho cult”, idolatrado pelas meninas francesinhas que usam all star, oclinhos de borda grossa, e camisas que orgulhosamente estampam a cara da Amélie Poulain. A introdução aqui é feita por meio de um Louis Garrel falando diretamente com o espectador (ou melhor, para a câmera), em um tom meio blasé que me soa muito forçado. Parecia que o que viria a seguir é um trabalho um tanto calculado, uma colcha de retalhos que não convence.

É uma impressão apressada que se desfaz especialmente a partir do momento em que o filme passa a focar mais o relacionamento dos dois irmão (um deles interpretado pelo já citado Garrel, que pra mim não fede nem cheira, e o outro, pelo Romain Duris, excelente, talvez a melhor interpretação de sua carreira – e olha que eu tenho uma implicância meio besta com ele). Nesse ponto, acho que é um dos trabalhos mais honestos e carinhosos ao retratar o amor fraternal (aliás, todo o filme faz um retrato de uma família que me soa extremamente verdadeiro). Honoré parece sentir um prazer imenso ao filmar essas pequenas coisas, banalidades mesmo (90% das cenas com o Garrel fazem esse estilo, mas são bobagens deliciosas de se ver), mas também possui sensibilidade e talento suficiente para trabalhar com temas maiores, mais dolorosos (te faz rir e chorar ao mesmo tempo, por exemplo).

Talvez seja realmente um pastiche em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tem tanta leveza e densidade (aquele monólogo feito pelo Duris para uma das namoradas do Garrel é sensacional) que muitos outros filmes por aí. Honoré é evidentemente influenciado por toda essa turma da nouvelle vague francesa (François Truffaut e Eric Rohmer me vieram à cabeça em muitos momentos), mas não é algo que pesa contra o filme. É cinema feito por um cinéfilo, e creio que por isso que Em Paris consiga estabelecer uma relação tão boa com o espectador minimamente interessado por cinema.

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