O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956)
O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953)
AVISO: Alguns spoilers no parágrafo sobre O Balão Vermelho.
Desconhecia completamente o nome de Albert Lamorisse antes de que começasse a ser exibido pelo Brasil as cópias de dois famosos médias-metragens, ambos premiados em Cannes e que funcionam muito bem como sessão dupla (o modo como tem sido exibidos, aliás), especialmente devido a proximidade entre seus temas, com ambos tecendo um retrato muito delicado do universo infantil.
Em O Balão Vermelho, palma de ouro em 1957 (e que serviu de inspiração para o novo filme do Hou Hsiao-Hsien, A Viagem do Balão Vermelho), acompanhamos a rotina de um garoto com o objeto-título, incitando a inveja de seus colegas de classe e a ira de certos adultos. Impressionante como Lamourisse consegue retirar tanto lirismo e poesia do cotidiano, dando ao balão quase vida própria. A herança direta do cinema mudo aqui é bem evidente, visto que é um trabalho que guarda toda a sua força no poder visual, sendo nesse sentido ainda assim muito sóbrio, simples, sem firulas ou exageros. No modo como trabalha o humor, lembra demais o cinema do Jacques Tati, com um lado cômico baseado em tiradas clássicas, chaplinianas. Além disso, tem pelo menos umas três cenas brilhantes, que muito filme com o triplo da duração não consegue produzir: o encontro com o garoto do balão azul; a “morte” do balão vermelho; e o final, com a viagem de todos os balões da cidade, um momento que parece retirado do imaginário infantil.
Já O Cavalo Branco, ganhador do Grande Prêmio do Júri de Cannes em 53, não conseguiu me envolver ou me emocionar tanto quanto o do balão, talvez por se esgotar mais rapidamente e por não possuir tantos grandes momentos como o seu sucessor. Resta, de qualquer modo, um trabalho de interesse, criando uma espécie de elogio à liberdade, algo que tanto os dois personagens principais pretendem alcançar (algo que também é representado pela cena final do “Balão Vermelho”). Aqui, vemos um cavalo que, sempre que é caçado pelos homens da região, acaba conseguindo fugir, despertando a atenção e o fascínio de um garoto, que consegue domá-lo e que vira seu companheiro. Novamente, há a força estética (um cenário quase que completamente branco), também com poucos diálogos, mas dessa vez há uma narração em off, que dá um tom fabuláico à obra, mas que também me parece desnecessária. Se beneficia por também se encerrar de uma maneira linda.
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