Dead Man (1995)
É um típico filme do Jim Jarmusch, com a diferença de vir transvertido de western, o que certamente só melhora a experiência de vê-lo. O ritmo lento e pausado que caracterizam a obra do cineasta se encaixa muito bem dentro desse gênero, mas os seus elementos são reconstruídos de modo que possam adentrar melhor no universo jarmuschiniano: o protagonista vivido por Johnny Depp, assim como o John Lurie de Estranhos no Paraíso ou o Bill Murray de Flores Partidas, se encontra completamente desorientado, uma pessoa ainda à procura de um lugar, perdidos em um ambiente desconhecido. Com o passar do tempo, Dead Man também ganha uma conotação mística, especialmente devido ao personagem do índio, cuja construção passa longe do convencional (é um homem solitário e que ajuda o protagonista a ganhar um maior conhecimento espiritual). É uma espécie de jornada existencial e também um trabalho bastante atemporal: não parece de modo algum ter sido feito em 1995, mas também passa longe de ser um faroeste dos anos 40/50. Deve estar perdido em um lugar qualquer, assim como todos os heróis de Jim Jarmusch.
Down By Law (1986)Down by Law confirma qual é o verdadeiro foco e principal obsessão do cinema de Jim Jarmusch: contar estórias sobre desajustados. Por isso mesmo se aproxima bem mais de um Estranhos no Paraíso (um belo filme, mas um tanto decepcionante - e acabou não ganhando foco nesse texto porque já o vi há bem mais tempo que esses outros dois) do que de um Dead Man, que, como disse acima, vem embalado de filme de faroeste. Por outro lado, são dois trabalhos que se aproximam bastante devido àquela atmosfera meio lírica (não sei se esta é a palvra correta, mas enfim...). Os personagens mais uma vez se encontram perdidos em uma América desolada, homens solitários buscando o "lugar certo"; são autênticos "rain dogs", "outsiders" por excêlencia (talvez por isso mesmo que a escolha do genial - tanto como músico quanto como ator - Tom Waits para viver um dos protagonistas é mais do que acertada).
Possui certas irregularidades no ritmo, mas nada de imperdoável: a primeira meia hora é toda muito boa (assim como a linda sequencia de abertura com Jockey Full of Bourbon, uma das minhas canções favoritas de Waits), mas o filme cai um pouco na parte seguinte, nas primeiras cenas na prisão, recuperando-se de vez com a entrada de Roberto Benigni, ator que geralmente acho insuportável, mas que aqui possui uma performance genial, memorável (pode não ser a alma de Down By Law, mas certamente é o coração). E é mais ou menos a partir da famosa cena do "We All Scream for Ice-Cream" (que devidamente recebeu um post só dela), quando a química entre os atores já parece consolidada e quando a relação entre filme-espectador já é completa, Down by Law se torna pra mim um daqueles filmes que te deixam totalmente absorvidos em todo aquele universo criado, uma sensação de bem-estar muito rara de se sentir (especialmente na vida real, é claro).
Para completar, temos ainda uma bela trilha sonora composta por John Lurie, também interpretando um dos papéis principais, fotografia lindona de Robby Muller, colaborador de Jarmusch em outros filmes como Estranhos no Paraíso, e um plano final que é realmente perfeito.
Um comentário:
bem bacana o seu blog. vi down by law ontem e tenho que concordar com o seu post. todos os atores são ótimos, a fotografia é maravilhosa. tenho um blog sobre cinema tb, entre outras coisas, se quiser dar uma olhada. vou voltar aqui mais vezes!
Postar um comentário