(American Beauty, 1999, Sam Mendes)
(Revolutionary Road, 2008, idem)
Por alguma razão eu adorava Beleza Americana, mas revendo nos dias de hoje eu só percebo como ele é simplista em toda a sua crítica "ferina" ao american way of life (ainda mais vendo-o semanas depois do excelente Longe do Paraíso). Pra começar, o personagem de Spacey parece existir apenas para jogar um monte de frases feitas que são colocadas ali apenas para que o filme reforce o tempo todo seu ponto de vista (percorre sempre o caminho mais fácil para apresentar ao espectador sua mensagem, chega quase a ser didático). Não consigo entender esse "novo eu" que o próprio protagonista define, já que o filme simplesmente não demonstra nenhuma transformação que tenha ocorrido com ele, desde o início funcionando apenas como uma ferramenta utilizada para desmascarar a hispocrisia dos subúrbios (e os outros personagens parecem receber o mesmo tratamento superficial). O pior é que personagens como o do Chris Cooper não são satíricos, o filme realmente parece acreditar que caricaturas como aquela existem na vida real (e a reviravolta envolvendo ele me soa muito a "Crash"); são seres de plástico, muito longe de representar a tal "realidade" que o filme insiste em querer mostrar. O engraçado é que a tagline ("Look Closer...") parece ser até um aviso pro Sam Mendes, que tem uma direção bastante inexpressiva e passiva.
Já com Foi Apenas um Sonho... nada muda muito. É realmente frustrante ver um cineasta que não consegue aprender com os erros e faz um filme com temática semelhante repetindo praticamente todos os defeitos que eu apresentei logo acima. Há as mesmas frases de efeito que parecem ser ditas para que a cada minuto (literalmente) o filme possa ressaltar toda a insatisfação dos personagens em relação a sua vida pessoal, à hipocresia da vida nos subúrbios e todo aquele blá blá blá (novamente opta pelo caminho mais fácil - e, consequentemente, mais preguiçoso - para nos apresentar essas frustrações dos protagonistas, de modo que esse Apenas um Sonho também me soe muito superficial, sem naturalidade, tudo muito encenadinho, quase teatral). Eu não quero que o Mendes seja um novo Cassavetes (quer dizer, eu bem que queria, mas também não vou cobrar uma coisa dessas, né?), mas é infelizmente um cineasta bem comportado demais e com a mão pesada, então é um filme que infelizmente não ganha toda a intensidade que merecia. Na verdade, há um único momento, uma briga decisiva lá pelo terceiro ato, em que os personagens realmente parecem vivos, mas isso também é culpa da grande entrega da Winslet e do Di Caprio ao seus papéis, que conseguem elevar um pouco o filme (o Michael Shannon rouba a cena quando aparece, mas fica a sensação de que é um personagem que podia ter rendido mais - apesar dos tiques). Nesse ponto, é um filme que se localiza um degrau acima do Beleza Americana, mas ainda assim os pontos fracos pesam bem mais.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Opa, revi uns filmes do Mendes (tô querendo rever o Beleza Americana) e resolvi dar uma passada aqui. Então, como disse, não vejo Beleza Americana há muito tempo, mas sua explicação sobre me satisfaz e condiz com o que a minha memória remete sobre o filme, não há realidade, aquele olhar fake e levemente cômico do mundo que o Spacey vive simplesmente não vai a frente.
Bom, quanto ao Foi Apenas um Sonho, que reconheço as semelhanças com o Beleza... porém, a adaptação me pareceu mais adequada dessa vez, é fato que role um vazio ali, por exemplo, a não caracterização psicologica dos protagonistas, em especial da Kate (que apesar disso tá espetacular) é sofrível. Mas acho que o fato do filme recorrer à uma quebra de valores, demarcada pela "vanguarda" dos Wheeler - que na verdade só existe no personagem da Kate - em confroto com a época que o filme é apresentado é algo que funciona bem mais do que a falsa sociedade do beleza americana. Os outros pontos altos do filme você já citou: A briga no final, o Michael Shannon, e adicionaria a introdução de bom gosto, que vai dos planos da cidade ao dialogo entre os dois. Tá longe de ser uma belo filme, mas está alguns degraus acima daquele que ganhou Oscar em 99. Embora ainda não saiba exatamente que nota eu quero, pus 61, mas talvez baixe um pouquinho.
Fala, Ortman! Cara, eu também tenho essa impressão que o filme faz um pequeno progresso em relação ao Beleza, especialmente nesses pontos que você citou (e a briga no final faz a diferença e eleva um pouco o filme pra mim: é um momento vivo que não existe em momento nenhum no Beleza, e curiosamente é a única vez que o Mendes decide tirar a câmera do tripé e se aproximar dos personagens, hehe). O comecinho eu também não chego a achar ruim, o problema pra mim tá todo no miolo, que eu acho muito fraco mesmo.
Esse Mendes é um tabaco...
Tenho uma lembrança positiva de Beleza Americana, lembro até de ter alugado o VHS do filme e levado para uns amigos na escola, há uns 5 anos. Nunca mais revi, mas a cena do Spacey fumando um baseado nos fundos com o vizinho e rindo da mulher é ótima. Aliás, acho que gosto muito mais da atuação do cara do que do filme em si. De qualquer maneira, prefiro preservar minha memória e não rever - nem Beleza e nem qualquer outro filme do Mendes.
Sir Bombadin passou por aqui, que honra! :O Um tabacão mesmo, haha...
Samuel, eu idolatrava o filme e só não tinha revisto antes justamente pra não estragar a memória que eu tinha dele, mas chegou em um ponto em que a revisão é inevitável (aliás, algo que tem acontecido com muitos filmes recentementes - fiz até um texto sobre isso, mas não encontro em canto nenhum!). O Kevin Spacey eu acho que tá bem, sim, mas do personagem eu não gosto (na verdadem, eu acho que não tem nada que eu goste no filme e foi um baque muito grande perceber isso).
tb acho beleza americana simplista e cheio de cliches, mas acho muito bem amarrado e dirigido.
Salvatore, eu acho a direção do Mendes bem sem sal (apesar de não chegar a ser criminosa ou coisa assim), mas o que acaba pesando mais contra o filme pra mim é justamente esse simplismo.
Postar um comentário