terça-feira, 11 de março de 2008

Sangue Negro

(There Will be Blood, 2007, Paul Thomas Anderson)



Certamente o trabalho mais difícil do Paul Thomas Anderson, e com pontos muito diferentes de seus trabalhos anteriores, mas ainda assim continua a nos apresentar com habilidade alguns elementos já característicos em sua obra, seja dramaturgicamente (a relação entre pai e filho), ou tecnicamente, já que o trabalho com a câmera continua impecável, mérito também do diretor de fotografia, Robert Elswit, parceiro habitual de Anderson. Por outro lado, digamos que, se Embriagado de Amor (que não troco por nada no mundo, dificilmente PTA o superará) nos fornece algo como uma injeção de felicidade, Sangue Negro possui um efeito muito mais perturbador e impactante.

Outras duas coisas que contribuem imensamente para o êxito do filme: a primeira delas é a excepcional trilha sonora do Johnny Greenwood, guitarrista da maior banda da atualidade, Radiohead; impressionante como Anderson consegue criar uma sintonia tão perfeita entre imagem e música, e a brilhante primeira parte pode comprovar isto, quando observamos um ainda humilde garimpeiro prosperar (aliás, não me lembro de diálogos neste momento). O outro fator é, obviamente, a performance monstruosa, fora do normal, de Daniel Day-Lewis (você dificilmente vai encontrar atuação melhor que essa durante esta década). A densidade e complexidade do homem que interpreta, só poderia se tornar realmente crível com um ator de grande porte como ele. Anderson nos faz acompanhar as lentas e profundas transformações que ocorrem no seu psicológico e personalidade, que vai se isolando cada vez mais à medida que ocorrem uma série de decepções pessoais e familiares (outro tema muito presente nos demais trabalhos do cineasta): primeiro com seu filho, que não consegue cumprir as expectativas do pai, e depois com seu irmão. Essa construção do personagem (que, nas primeiras cenas, parece até um pouco afetuoso, para depois atingir a completa insanidade) é realmente fascinante, mas o que distancia o filme de ser uma obra-prima (pois tinha muitas chances de ser uma) são alguns pequenos excessos, uma certa irregularidade no ritmo, e uma cena final de impacto inquestionável, mas tenho dúvidas se era realmente necessária uma conclusão daquelas; preferiria que terminasse naquele sensacional diálogo entre Plainview e seu filho (“a bastard from a basket!”), que me parece bem mais importante do que o conflito com o pastor (interpretado por um Paul Dano surpreendente – a cena da pregação me deu arrepios), tentando não deixar de fora, é claro, aquela parte dos milkshakes (caso contrário, o que mais eu iria escrever na cadeira do colégio?). São coisas que atrapalham o resultado final, mas é tudo tão intenso que não consigo considera-lo menos que um grande filme.

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