domingo, 23 de março de 2008

Cada um com o seu Cinema

(Chacun son Cinema, 2007, vários diretores)



Possui aqueles velhos problemas de filmes divididos em episódios, como o fato dos diretores se apresentarem presos à uma curta duração (todos têm no máximo três minutos), dificultando o desenvolvimento do projeto; ou então a irregularidade, seja no ritmo ou nas qualidades dos segmentos. A verdade é que o trabalho me cansou um pouco, especialmente devido à grande quantidade de curtas que realmente não me despertaram nada e que são bem esquecíveis (Raymond Depardon - que abre o filme, mas não diz a que veio; Raoul Ruiz; Tsai Ming-Liang; os fofinhos do Zhang Yimou e do Chen Keige; etc.), mas também não devemos deixar de reconhecer a beleza de certos trabalhos: a maravilha do Hou-Hsien Hsien; a pequena obra-prima do Iñarritu (acho que o que de melhor ele já fez, para minha surpresa, mas pode ser culpa da trilha do O Desprezo, do Godard - e eu gosto dos dois primeiros dele), o hilário do Roman Polanski, um muito bonito dos Irmãos Dardenne, que se aproxima do curta do Iñarritu por depositar uma força muito grande na força de expressão de sua personagem, assim como ocorre em um outro episódio muito bonito, o de Abbas Kiarostami; o nostálgico segmento do Claude Lelouch. Alguns recorrem ao impacto, o choque, mais audaciosos: o de Lars Von Trier, cheio de um humor negro que me agradou (revela aquele desejo que fica meio que inconsciente na mente de alguns cinéfilo); o do David Cronenberg, fortíssimo e muito bom (o mais pessimista, com certeza); aquele dirigido pelo Amos Gitai, que esteticamente é bem interessante, mas me deixou dividido; o instigante "Absurda", de David Lynch; e, por fim, o genial curta do Roman Polanski, fazendo companhia ao Iñarritu e Hsien no top 3. A grande bomba é o da Jane Campion (o que raios é aquilo?), e outro que achei bem fraco foi o do Yousseff Chahine, puro egocentrismo. As maiores decepções ficaram por conta do Gus Van Sant e do Olivier Assayas (a câmera na mão é excessiva e incomodou - é melhor utilizada nos outros trabalhos que vi do diretor), um pouco bobos. Um que causou certa polêmica entre os comentários que já li foi o curioso segmento do Ken Loach, que foge demais da proposta do projeto, mas é curioso justamente por ser um tanto anti-climático. No geral é mais ou menos aquilo que se esperava de projeto do tipo, e, mesmo não sendo muito acima da média, acho que vale a pena ser visto.

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