quarta-feira, 20 de maio de 2009

Os Imperdoáveis

(Unforgiven, 1992, Clint Eastwood)



Os Imperdoáveis é considerado como uma ressucitação do faroeste, mas acredito que esteja mais para epitáfio. O filme foi feito em 1992, mas, 40 anos antes, Will Munny, um "conhecido ladrão e assassino, homem de temperamento cruel e intempestivo" (o personagem de Eastwood que talvez mais se aproxime do recente Walt Kowalski, de Gran Torino - Dirty Harry? Juro que nem pensei nele) seria o pefeito vilão de um trabalho clássico do gênero. No entanto, o filme já nos apresenta a um Will Munny corroído pela culpa, já na velhice, sem nenhuma perpectiva, talvez o destino de todos os grandes personagens dos faroestes. O seu parceiro, interpretado por Morgan Freeman, conserva algumas de suas antigas habilidades, mas, como podemos notar quando ele se recusa a continuar acompanhando os seus dois amigos, matar um homem parece ser a última coisa em que pode imaginar. O tempo passou, aqueles heróis não são mais os mesmos, e o que torna Os Imperdoáveis uma obra tão amarga é justamente o fato de ter uma consciência muito forte disso, de modo que, por mais que seja um trabalho obviamente clássico, que nos remete diretamente a John Ford ou Howard Hawks, não tem nenhum desejo de realizar um "revival". Um personagem que talvez ainda possuisse alguma capacidade de se tornar um herói do gênero é Scofield Kid, mas, logo após matar seu primeiro homem, percebe que aquela vida simplesmente não é pra ele. Não há nenhuma visão romântizada da violência em Os Imperdoáveis, com a morte nos mostrada nua e crua, sendo a sua inevitabilidade o grande tema do trabalho (além de perda e culpa, que estão presentes em quase todos os trabalhos de Eastwood).

Já no terceiro ato, Will Munny, que no início mal conseguia montar em seu cavalo, volta a ser um assassino de sangue frio, aquele que antes matava tudo que andava ou rastejava, mas, agora, não por maldade, e sim por uma questão de fraternidade, pra defender a honra de seu amigo (algo que está presente de modo muito forte em Hawks e Ford). Não é, de modo algum, uma redenção; talvez o protagonista nem quisesse "ressucitar" daquele jeito, se lembrando do homem impiedoso que era no passado. Portanto, será que também seria necessário ressucitar o faroeste? Será que para esse gênero, assim como acontece com quase todos os personagens de Os Imperdoáveis, a morte não seria algo iminente e inevitável? Já próximo dos créditos finais, somos avisados, de um modo muito vago, do possível destino do personagem: "disseram que foi para San Francisco e que lá prosperou como dono de armazém". Disseram. Assim como acontece com o próprio Western, o seu fim permanece um enigma.

PS: Me desculpem pela ausência de uma semana. Vou tentar atualizar mais, talvez com algumas notícias de Cannes.

2 comentários:

samuel disse...

Bacana o texto. Daqui uns 20, 30 anos, não duvido nada que o Clint seja alçado ao panteão dos maiores diretores norte-americanos, lado a lado com o Ford e o Hawks, por exemplo. Algumas pessoas já o consideram digno da posição, mas o tempo vai elevar ainda mais a condição do cara, principalmente depois que ele morrer.

E o Kowalski, assim como alguns outros aspectos do Gran Torino, vêm de Honkytonk Man, filmão que o Clint fez no começo dos anos 80.

Rodrigo disse...

Valeu, Samuel. Eu concordo sobre o Clint e acho que sou uns dos que já o elevam a essa posição, hehe, e com o tempo eu espero que certos filmes subestimados dele ganhem maior reconhecimento (tipo A Troca - que pelo menos ja tem uns fãs - ou Crime Verdadeiro). Na verdade, vejo bastante possibilidade dele se tornar um Manoel de Oliveira, chegar ao centenário em plena forma, hehehe.

Honkytonky eu infelizmente não vi ainda, mas tenho vontade demais, só leio elogios. Eu acho que o Kowalski é uma bela colcha de retalhos dos personagens que o Clint fez no passado, mas a última coisa que passou pela minha cabeça foi o Dirty Harry.