sábado, 21 de junho de 2008

Um "pouco" sobre Fim dos Tempos



Não sei se vou conseguir formular um texto mais formal sobre, até porque ainda estou processando minhas idéias a respeito (a maioria do que será dito aqui, portanto, será besteira), mas adianto que isso aqui é o encontro perfeito entre Os Pássaros e Vampiros de Almas. Shyamalan mostra com Fim dos Tempos que não faz Cinema pra tentar converter críticos ou público (tendo em vista que em menos de 10 anos ele passou da maior promessa de Hollywood a um dos cineastas mais detratados do meio - mas com um grupo sólido de fãs, e vocês podem me incluir nesse), mas faz um trabalho extremamente coerente com os rumos que sua carreira tem tomado, um Cinema autoral mesmo, quer queira ou não.

É muito interessante observar também como Fim dos Tempos representa para Shyamalan um total desligamento daquele Shyamalan de início de carreira, com o seu Sexto Sentido. Não faz muito tempo que ele era meio que cobrado por "finais surpreendentes" (algo que acabou mais ou menos na época do A Vila, acho), mas aqui ter uma conclusão impactante não parece ser a principal atenção, até porque em certo ponto Fim dos Tempos se mostra até um tanto anti-climático, com as nossas expectativas sendo frustradas em alguns momentos (apesar de também inúmeros momentos de surpresa). O que me parece ser o foco de Shyamalan é, na verdade, compor esse painel completamente caótico sobre o mundo moderno (talvez o cineasta que melhor conseguiu traduzir esse estado crescente de desespero), visão que já estava presente de modo não tão direto em A Vila ou A Dama na Água, mas que aqui atinge seu máximo. Sempre por trás desse cinema voltado para a catástrofe e com comentário socio-políticos, há, é claro, a estória de uma família, dessa vez tendo um casal em crise como foco. É sobre paranóia e isolamento feito nos moldes das produções B clássicas (como o já citado Vampiros de Almas) com alguns pontos em que isso fica mais evidente, como a mais uma vez excelente trilha sonora do James Newton Howard (em A Vila, criou um clássico) e também no tom das atuações. Aliás, este aspecto tem sido um dos mais criticados, mas a única que realmente parece deslocada é mesmo a Zooey Deschanel, e creio que o problema não é só dela, mas também do próprio modo como sua personagem foi concebida (um erro que não tira de modo algum o brilho de Fim dos Tempos). Quanto ao Mark Wahlberg, é um ator que me surpreende cada vez mais, e, sim, está ótimo em cena.

Deve ser também o primeiro Shyamalan a ter não apenas a representação do horror psicológico, como também o físico. Há uma quantidade considerável de sangue e, meu Deus!, como ele filma bem aquelas cenas de ação! De longe, o seu trabalho mais seco, perturbador, angustiante. É algo que fica ainda mais evidente com a chegada do terceiro ato, que já me chegou a lembrar o também excelente Possuídos, do William Friedkin, talvez devido ao confinamento dos personagens na casa de uma velhinha. Tudo isso marca talvez uma nova fase para Shyamalan (cada vez mais se aproximando de ser um cineasta "maldito"), o fim de uma "era PG-13", com Fim dos Tempos representando um dos pontos mais altos e relevantes da curta carreira de nosso indiano favorito (quer dizer, o meu e de mais uns).

2 comentários:

Gabriel Carneiro disse...

Rodrigo, recebeu meu convite via testemonial do orkut?

Abs.

Anônimo disse...

Vi sim e já te respondi. :D