quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Zabriskie Point

(1970, Michelangelo Antonioni)



Sempre tive uma certa dificuldade em digerir os filmes de Antonioni, mas há algo em seus trabalhos que me deixam fascinado, o que já foi o suficiente para que eu o colocasse em posição privilegiada no meu ranking de diretores favoritos (entre os italianos, só perde mesmo pro Leone). Foi com ele que comecei a conhecer o Cinema Europeu clássico (e, aliás, não sigam meu exemplo: se iniciem com Fellini), ao assistir A Aventura com uns 12 anos de idade, filme longuíssimo, dificílimo, mas que me deixou boquiaberto (não me pergutem o por quê, é o Cinema...). O mesmo aconteceu com obras como A Noite e Profissão: Repórter, e volta a ocorrer com este Zabriskie Point.

Dentro da filmografia do homem, esse é o que certamente mais se assemelha a Blow Up, especialmente pelo fato de serem falados na lingua inglesa (a não ser que você tenha do e-mule uma versão dublada em italiano, como aconteceu comigo) e por focalizarem a contracultura da época. Em relação a este tema, Zabriskie Point se aprofunda mais, ao relatar o embate entre jovens revolucionários e policiais, mas no meio disso tudo estão presentes os assuntos que mais obcecam Antonioni: a incomunicabilidade, o tédio e a alienação no mundo moderno. Mas, se em trabalhos como O Eclipse a atenção era voltada para o universo dos adultos, o foco agora é a juventude. A América retratada por Antonioni é aquela vivendo um período de profunda transformação, e o modo com que constroi os espaços representa bem isto: de um lado temos a cidade grande, ambiente tenso e sufocante, e do outro, servindo como um perfeito contraponto, temos a infinitude do deserto, o único lugar onde os dois protagonistas conseguem exercer plenamente seus desejos de liberdade e sexo, encontrando um meio de se isolar dos conflitos existentes no mundo externo.

Não espere, no entanto, críticas ou mensagens revoltadinhas anti-sistema (sim, isso foi uma indireta para Clube da Luta), até porque a conclusão que Antonioni entrega à estória é até bastante amarga e desiludida, apesar de que aquela extraordinária e emblemática sequencia de encerramento contem uma mensagem puramente subversiva (é como se tudo o que compõe o sonho americano estivesse sendo explodido naquele exato momento, ao som de Pink Floyd), tornando Zabriskie Point um dos mais subestimados e melhores filmes do mestre italiano.

2 comentários:

samuel disse...

É o meu preferido do homem.

Anônimo disse...

Meus favoritos do Antonioni sempre mudam, mas hoje acho que ficaria com O Eclipse e Blow Up. Zabriskie tá entre os melhores também, o final talvez seja o meu predileto.