sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Hancock

(2008, Peter Berg)



Peter Berg, taí um nome que merece atenção. Ano passado nos entregou O Reino, bom filme, muito subestimado, mesmo que imperfeito, mas que já possuía o grande mérito de saber se utilizar com sucesso da câmera na mão, algo muito raro de acontecer, ainda mais depois que o estilo virou moda. Muito provável que a influência venha de Michael Mann, seu amigo próximo e produtor de seus filmes (e em Hancock faz uma ponta, como um executivo), mas creio que Berg não é um mero aprendiz do cineasta da obra-prima Miami Vice, prova disso é a série criada por ele, Friday Night Lights, que, pelo pouco que já vi, parece sim ter bastante qualidade: uma narrativa que parece seguir os padrões clássicos norte-americano, com conflitos humanos apresentados de modo muito sólido e seguro, mas com uma estética moderna (de novo a câmera na mão). E Hancock talvez seja até agora seu projeto mais ambicioso e excessivo, e bastante irregular também (quando chegar a fazer um filme todo redondo, terá grandes chances de ser um filmaço).

De qualquer modo, apesar de seus defeitos, apenas sua proposta extremamente ousada já seria suficiente parece ganhar maior destaque em relação aos demais blockbusters: Hancock quebra toda aquela mitologia feita ao redor de super-heróis, entregando-nos um protagonista odiado por todos, bêbado e vagabundo. Também não é baseado em nenhuma HQ, o que o aproxima de Jumper, mas o lado politicamente incorreto torna Hancock infinitamente superior ao filme de Doug Liman (que, apesar de ser fraquinho, não é nem de longe a bomba anunciada por alguns). Se fosse todo feito nos moldes da exelente primeira parte, quando se comporta de um modo mais anárquico, sem se prender a uma premissa básica, fornecendo uma sucessão de piadas estridentes, cenas de ação exageradíssimas e efeitos especiais inflados (o que, aqui, não chega a ser irritante – pelo contrário, é justamente esse exagero que torna Hancock delicioso), seria algo genial, mas é após sua primeira metade que o filme perde o rumo.

O problema é que Hancock, depois de uma certa reviravolta, parece querer ser levado a sério, mas é raso demais para apresentar uma estrutura dramática mais sólida, profunda. O filme que até então renegava a filosofia dos quadrinhos, parace adota-la, construindo a previsível figura do herói “humano”, frágil, solitário. Até vilão aparece! E, pior, do modo mais forçado possível.

Pra quem já prestou atenção nas características do cinema de Berg (na verdade, especialmente na sua já citada série), talvez não vá se surpreender com esse rumo mais “sério” que o filme toma. Até aquelas seqüências musicadas sentimentalistas (e não digo isso no sentido pejorativo) presentes em Friday Nights (e em O Reino, até onde me lembro, mas em menor número) aparecem em Hancock, só que de um modo forçado. O que o filme talvez represente é um cineasta ainda em formação, experimentando novos caminhos narrativos, ainda sem total segurança. Promete. Ou será que eu sou o único no mundo a se interessar pela sua carreira?

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