segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Trilogia do Silêncio de Bergman

Através de um Espelho (Såsom i en Spegel, 1961)
Luz de Inverno (Nattvardsgästerna, 1962)
O Silêncio (Tystnaden, 1963)

Lembro que nem na época da morte de Bergman eu fiquei tão interessado em conhecer a obra do sueco quanto agora (talvez porque eu já estivesse sob o impacto da morte do Antonioni, de quem eu era muito mais fã - e ainda sou, na verdade, embora precise rever a maioria de seus trabalhos). Com essas minhas férias e resolvi tirar o atraso e descobri algumas jóias do cineasta, como A Fonte da Donzela, além da trilogia do silêncio, que falo sobre agora.



Através de um Espelho foi o que a iniciou, ganhando o segundo Oscar de Bergman (e consecutivo!) e talvez seja o que mais me envolveu. Em comparação com os outros dois, é sem dúvida o seu trabalho mais típico, ainda pertencente à fase de filmes como Morangos Silvestres. Das musas do diretor, a que mais agrada aos meus olhos agrada é Herriet Anderssen (ainda vejo Monika e o Desejo, ah!), que aqui vive a protagonista. É uma obra que evidentemente descende muito do teatro (assim como outros filmes de Bergman), especialmente devido ao número limitado de cenários (ainda que contenha vários planos abertos - toda a ação se passa em uma praia) e personagens (quatro, no total). Melhor assim, pois Bergman pode se aprofundar à vontade no retrato intimista e sempre muito intenso de uma família, nos apresentando à sua lenta desintegração (ao mesmo tempo em ocorre a perda da sanidade da personagem de Anderssen, Karin - mesmo nome da mãe de Bergman; alguma ligação, será?).



O filme que seguiu "Através de um Espelho" foi feito logo no ano seguinte, "Luz de Inverno", com Bergman abertamente inspirado no filme "O Diário de um Pároco de Aldeia", de Robert Bresson. A trilogia do silêncio me parece ter uma importância muito grande na carreira de Bergman, não apenas devido à qualidade, mas também como divisor de águas. Luz de Inverno já se distancia um pouco do modelo dos longas feitos nos anos 50 pelo diretor; não por conter uma carga experimental forte como Persona (até então o melhor que já vi dele), mas por possuir um andamento e atmosfera que se distanciam de seus outros trabalhos. Eu não diria que Luz de Inverno é um filme bressoniano, já que ainda características fortes da autoralidade de Bergman, mas é uma obra com um ritmo mais austero, quase solene, dialogando com perfeição com o medo e a paranóia da época (expresso no personagem de Max Von Sydow, sempre excelente), decorrente da Guerra Fria. Aborda também o tema da perda da fé, sentimento dessa vez expresso no protagonista, um pastor (interpretado por Gunnar Björnstrand, que contracena com Von Sydow em Através de um Espelho), acentuado pela perda de sua esposa, mas também em personagens secundários, como a de Ingrid Thulin, com quem o personagem de Gunnar teve um caso amoroso. Interessante observar a contradição entre a cena inicial, com uma platéia aparentemente interessada no ritual religioso (só depois dessa longa cena que conhecer a fundo seus reais sentimentos), com a final, com uma missa quase vazia.



Pra encerrar temos "O Silêncio", talvez o trabalho mais radical da trilogia, cujo tema é levado às últimas consequencias, talvez iniciando a fase de Persona, com um maior rigor e virtuosismo estético. É um filme de imagens. Quase não há diálogo. A fotografia de Sven Nykvist sempre é maravilhosa, mas mais discreta, enquanto aqui ele ganha ainda mais expressividade, uma função quase central (sequencia inicial, no metrô, tem uma força impressionante). É também, de longe, o filme de Bergman com maior carga erótica (o tema do sexo é bem evidente, com as duas protagonistas evidentemente frustradas nessa questão) e com um ou outro arroubo surrealista (cena com os anões, por exemplo). Talvez seja o ponto alto da trilogia.

2 comentários:

samuel disse...

Coincidência, pois vi Blow Up anteontem, estou com uma nova cópia de Zabriskie Point (dessa vez com áudio original em inglês e a imagem cristalina da Criterion) no gatilho para revisão e o download da trilogia do Bergman em vias de fato de aportar por aqui.

Aliás, onde vc conseguiu o the Yards?

Rodrigo disse...

O Yards do Gray eu baixei mesmo, mas não lembro onde (e-mule ou torrent), já faz um tempo (tanto que nem tenho ele no pc mais, so no cd mesmo).