terça-feira, 8 de abril de 2008

O Assassinato de Jesse James...

(The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford, 2007, Andrew Dominik)



Desde o início, "O assassinato de Jesse James..." (não, não vou colocar aquele título gigantesco todo) se propõe como uma investigação minuciosa dos motivos que levariam Robert Ford, vivido brilhantemente por Casey Affleck (e agora calo a minha boca, não gostava dele), a matar Jesse James, este interpretado por um Brad Pitt em grande forma. Para isto, Andrew Dominik, apenas em seu segundo filme e já demonstrando uma segurança enorme em relação à narrativa (e um senso estético muito grande também), resolve desconstruir o mito, mas sempre preservando o enigma que cerca a sua figura: aqui, Jesse James é um homem solitário, paranóico, que às vezes demonstra uma crueldade calculista, e em outros uma afetividade muito grande (especialmente, em relação à sua família, seus filhos). Robert Ford, ao se unir ao bando, parece ainda crer naquele personagem que era o maior herói de suas histórias preferidas, mas logo vem a decepção ao notar o descaso e a frieza com que Jesse James o trata: infelizmente, Ford parece ter chegado extamente na hora em que toda aquela aparente diversão em ser um fora-da-lei se transforma em fardo para os membros do grupo, e isto pode ser comparavado no semblante triste e cansado do personagem de Pitt. Essa descontrução de uma mitologia não é feita apenas neste ponto, já que Dominik dá apresenta uma outra visão ao gênero que já foi o maior representante do cinema de qualidade norte-americano (na época de John Ford e Howard Hawks), mas atualmente morto, o western: entrega uma encenação a única cena de ação em "O Assassinato de Jesse James..." ocorre por volta de seus vinte minutos iniciais, a do assalto ao trem (que deve ter as imagens mais bonitas que vi no cinema recente - todo aquele jogo de luzes e sombras, a construção da expectativa, perfeito), e depois o que vemos é um duelo mais centrado no lado psicológico, não apenas entre Ford e James, como também em relação aos outros membros do grupo (bom destacar também a ótima performance do sempre subestimado Sam Rockwell, que não eteve nenhuma atenção, infelizmente). Dominik realiza uma análise profunda das mudanças ocorridas naqueles personagens, e por isso acerta em cheio ao entregar ao trabalho um ritmo lento e contemplativo, com imagens muito fortes, acompanhadas às vezes por uma ótima trilha sonora composta pelo Nick Cave (que faz uma participação bem legal na parte final), mas sabendo aproveitar perfeitamente os silêncios (toda aquela sequencia que antecede a cena do assassinato é magistral). A narração em off é a única coisa que realmente me incomodou em determinados momentos, simplesmente porque não havia muita necessidade de existir, mas se encaixa muito bem dentro daquele epílogo. É um belíssimo trabalho, de qualquer modo.

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