O único momento de sossego e felicidade que os personagens dessa estória terão está naquela cena de abertura, o sexo entre Seymour Hoffman e Marisa Tomei, um paraíso que dura apenas alguns minutos. A partir do momento que a tela escurece e o título é anunciado, “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto” transforma-se em um estudo minucioso do processo de degradação psicológica de seus personagens, que acabam por se auto-destruir meio que inconscientemente. Não há nenhum elemento que suavize a trama (lembra O Sonho de Cassandra nesse sentido, mas o filme de Allen, apesar de muito bom, não consegue possuir nem um terço da tensão desse filme do Lumet) e até aquela cena final, que por um momento sugere uma reconciliação, acaba se encerrando de modo terrivelmente amargo. O texto de Kelly Masterson (seu primeiro para os cinemas) é absolutamente brilhante e felizmente caiu nas mãos de um cineasta de extrema maturidade, que sou entregar a devida densidade ao trabalho, tornando-o algo visceral, sufocante. De início, nos faz pensar que se trata de um “filme de roubo”, e, se depender daquela primeira cena do assalto, veríamos um grande exemplar do gênero, mas “Antes que o Diabo Saiba...” deseja ir mais além, transformando-se uma espécie de tragédia familiar Shakesperiana, no mínimo quase uma obra-prima.
É também gratificante ver um filme que constrói uma narrativa fragmentada não para ser cool ou moderninho, e sim porque certamente foi o melhor meio encontrado para que pudesse ser feito um panorama geral da situação, beneficiando o desenvolvimento dos personagens. Outro grande destaque são as atuações, com um elenco todo excepcional: Seymour Hoffman é um monstro, fenomenal, e Albert Finney e o sempre subestimado Ethan Hawke não ficam atrás, ambos muito bem. Sidney Lumet, felizmente, parece continuar em grande forma.
2 comentários:
Obra-prima, uma das encenações mais bem acabadas dos últimos tempos. Brilhante o cuidado do Lumet com certos aspectos que podem até passar despercebidos mas são cruciais para o desenvolvimento da narrativa, como a cena em que Ethan Hawke ouve a proposta do irmão no escritório: antes de aceitá-la, em pé, seu rosto é coberto pela sombra da sala; logo no momento seguinte, quando entra em acordo e senta na cadeira, a luz ilumina seu rosto e abre as possibilidades que o filme trata de explorar com muita propriedade. Tá no topo da minha lista de melhores do semestre.
Eu também fico fascinado com todo esse controle do filme que o Lumet apresenta. O filme cada vez cresce mais no meu conceito, acho op também.
Esse momento que você citou não está muito fresco em minha memória, mas é um filme que fala muito por esses pequenos detalhes mesmo. Pretendo revê-lo quando minha alugar (apesar de eu não recomendar muito, tenho pena, hehehe).
Postar um comentário