sábado, 6 de junho de 2009

Império dos Sonhos

(Inland Empire, 2006, David Lynch)*


C'mon do the locomotion

O mundo dos sonhos e o imaginário sempre assuntos-chave na carreira de David Lynch, especialmente em sua fase pós-Twin Peaks. Em Inland Empire não é diferente, mas o que torna a experiência deste projeto ainda mais transgressora é o fato de que o próprio filme parece se estruturar como um sonho, delírio ou alucinação. Lynch renega a linguagem convencional, misturando tempos distintos, atores e personagens (reais ou ficcionais), de modo que a construção do filme pareça ser totalmente contínua, sem início, meio ou fim. Se tentarmos juntar as pontas, poderemos até encontrar em Inland Empire um filme sobre uma mulher atormentada por traumas ligados ao sexo masculino e ao ato sexual em si (vemos Dern contar alguns deles para um personagem misterioso, em uma espécie de monólogo). No entanto, o que torna quase impossível formular qualquer explicação acerca do que se passa é que a Laura Dern-atriz-bem-sucedida que vemos no início se ramifica em diversas outras, personagens saídos da memória, do futuro ou mesmo personagens ficcionais interpretados por ela anteriormente (ou futuramente, já que não temos a mínima noção de tempo ou espaço). Soma-se a tudo isto uma crítica a Hollywood já presente no filme anterior de Lynch (Cidade dos Sonhos, outra obra-prima), apresentando-nos a uma terra de ilusões, em que até a calçada da fama não é um lugar de brilho, e sim refúgio de prostitutas e mendigos.

Não sou um profundo conhecedor da história ou da linguagem cinematográfica, mas se já foi feito experimento maior com montagem, iluminação, trilha sonora ou câmera (Lynch filma pela primeira vez - e talvez última, pois realmente acho que Inland Empire é a conclusão perfeita para toda uma carreira - em digital, com uma qualidade de imagem mais baixa, o que causou um estranhamento de início, mas depois Lynch nos mostra quais são as vantagens do formato) em um longa-metragem, eu nunca vi, e gostaria que me dessem um exemplo. É o ápice da filmografia de um diretor, e o que vier a seguir é regressão, pura e completa regressão.

*Texto feito há uns 2 anos, quando vi o filme no cinema. Só fui descobrir que o tinha arquivado como rascunho no blog dia desses, e resolvi postar.

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