quinta-feira, 17 de julho de 2008

O Escafandro e a Borboleta

(Le Scaphandre et la Papillon, 2007, Julian Schnabel)



Taí, um filme que me deixou dividido. A idéia inicial de nos mostrar apenas o que o personagem pode ver nos faz certamente reconhecer a sua agonia e o desespero, nos transportando para o seu subconsciente e memórias. O problema, no entanto, há momentos em que tais técnicas, de tão repetidas, acabam por me soar como exibicionismo, afetação mesmo. Mas foi provavelmente o melhor meio que Schnabel encontrou para narrar a estória e quem sou eu pra dizer como um diretor deve narrar o que tem em mãos?

Me parece também um avanço em relação a Antes do Anoitecer, especialmente no que está relacionado à estética: no seu trabalhor anterior, de 2000, Schnabel parecia filmar tudo de um modo um tanto descontrolado e excessivo, o que acabou prejudicando a narrativa do longa. Já em "O Escafandro e a Borboleta", ele parece ganhar o veículo perfeito para experimentar, e, se às vezes ele não parece saber diferenciar o ego e a câmera, tais excessos visuais acabam por trabalhar em favor do filme.

No entanto, o que mais me incomoda aqui não é o aspecto estético (que, como já disse, vai da afetação pura a momentos de beleza incrível) e sim a carga dramática aqui contida. Schnabel infelizmente parece não conseguir entregar a devida consistência ao melodrama, de modo que o sentimentalismo contido aqui passe a me parecer muito gratuito, a mão parece ter pesado. Além disso, há aquela espécie de filosofia "Aproveite as coisas simples da vida" que não ajuda muito. O problema, é bom destacar, talvez seja comigo e acho que nunca escrevi um comentário para o blog tão subjetivo como esse (encare minhas palavras como sendo a de um cara ainda muito confuso com o que viu, tentando formar ainda idéias mais concretas a respeito).

Agora, se há um ponto em que não possuo nenhuma ressalva está no que se refere ao elenco. Mathieu Almaric (cuja interpretação por Reis e Rainha seria a melhor da década se um cara chamado Daniel "Plainview" Day-Lewis não tivesse chegado pra roubar o posto) é tão bom que sabe entregar uma densidade e emoção mesmo estando quase sempre com a mesma expressão. Não fica atrás Max Von Sydow, excepcional, protagonizando um dos melhores momentos do longa (a conversa com o filho), uma performance emocionada mesmo. A parte feminina do elenco também merece muito destaque, com atrizes que eram desconhecidas ao menos para mim, como Marie-Josée Croze, como a terapeuta do protagonista.

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