quinta-feira, 10 de julho de 2008

Um Beijo Roubado

(My Blueberry Nights, 2007, Wong-Kar Wai)



Talvez realmente seja o Kar Wai mais acessível e simples, mas também é o mais frioe mecânica de seus filmes. Se distancia de obras como Felizes Juntos por não possuir aquela excitação em contar uma estória de amor, faltando mais calor, paixão, espontaneidade. No entanto, também não éum trabalho próximo de Amor à Flor da Pele, sem dúvida o mais maduro e contido filme de Kar Wai, simplesmente porque “Um Beijo Roubado” apresenta, sim, aquelas características que fizeram o cineasta famoso, mas o grande problema aqui é que aqueles excessos visuais (dos quais não desgosto – longe disso, aliás, sou fã do homem) estão presentes de um modo um tanto forçado, meio que o Kar Wai querendo mostrar para os EUA que é um diretor com marca própria, e por isso mesmo tais elementos não soam mais como uma opção estética, mas sim uma obrigação (talvez para disfarçar uma possível acomodação), daqueles casos em que o autor vira refém do próprio estilo.

Se há algo de positivo em “Um Beijo Roubado” é o fato de que o filme não se deixa enquadrar no gênero dos romances bobinhos hollywoodianos (mas que, é bom ressaltar, são feitos em todo o mundo, não?), não se tornando um trabalho convencional ou antiquado (“É um filme diferente, né?”, observou meu pai, ao fim da sessão). O problema é que justamente a trama principal não parece funcionar muito bem, sendo ofuscada por as estórias secundárias, algumas delas bem mais interessantes, como aquela envolvendo o policial bêbado, vivido brilhantemente por David Strathairn, possuidora de uma estrutura dramática até mais sólida (a de Natalie Portman, por outro lado, não chega a me envolver tanto). Mas, de qualquer modo, só a existência de tais subtramas já entregam ao filme um ritmo mais irregular, sem muito foco.

Foi uma das poucas derrapadas de Kar Wai na sua carreira, espero que isso não se repita com frequencia.

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