sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Onde os Fracos Não tem Vez

(No Country for Old Men, 2007, Ethan & Joel Coen)


A história passa basicamente por três personagens: um deles, interpretado por um inspirado Josh Brolin, é o homem comum e simples que existe em praticamente todos os filmes do Coen; é um ser que pode muito bem gerar identificação por parte da platéia, mas é bom ressaltar que não possui aquela doçura dos personagens de Fargo (pelo contrário, é ganancioso, mas esses seus defeitos o tornam ainda mais humano); como contraponto a ele, temos o de Javier Bardem, Anton, um assassino, a personificasção da violência, a "maldade em pessoa", como é dito em certo momento por algum personagem; a sua caracterização é peculiar, exagerada (algo que também é uma constante nos filmes da dupla), mas mais diabólico e aterrorizante do que qualquer outra figura presente na filmografia dos cineastas (temos também, é claro, que entregar os devidos créditos a Bardem, um ator genial em uma performance extraordinária). Entre esse conflito que é estabelecido entre os dois, está aquele que talvez seja a peça-chave da história: Ed Tom Bell, interpretado por Tommy Lee Jones (que, surpresa!, também tem uma atuação excelente). É o personagem que mais parece ter desgosto do caótico estado da América atual, e ao mesmo fica deslocado, sem entender no que ela se transformou, e de onde toda aquela violência que repentinamente assola a sua pacata cidade no Texas se iniciou.

A direção dos Coen também é magistral: sempre muito precisa, segura e madura, mas ao mesmo tempo discreta e com momentos de uma secura rara de se ver (além de terem escolhido a acertada opção de não produzir nenhuma trilha sonora, apenas com o silêncio e os sons ambiente, o que apenas contribui para que a violência que nos é apresentada seja ainda mais crua). Constroem um tom de crescente tensão, brincando com as expectativas do espectador, inicialmente criando uma narrativa clássica e com atmosfera de faroeste, mas qualquer idéia que podemos ter em relação à trama são desfeitas por uma terceira parte que parece pertencer a um trabalho do Monte Hellman: a estória sobre ganancia e uma maleta contendo quase 2 milhões de dólares parece evaporar; em seu lugar, entram umas elipses desconcertantes, que acabam por nos deixar tão perdidos e desnorteados como aqueles personagens que vivem em uma terra que não reconhecem mais.

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