terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

No Direction Home: Bob Dylan

(2005, Martin Scorsese)



Muito difícil (ao menos para mim) escrever um texto de qualidade e que faça completa justiça a um filme tão completo como este "No Direction Home". É, como toda crítica que já li a respeito do trabalho decide frizar, o encontro de dois gênios, um vindo da música (Ele, O Maior de Todos, Bob Dylan) e outro do Cinema, talvez o maior culpado pelo monstro-cinéfilo que me tornei, Martin Scorsese (e dizer isso é um clichê absurdo e que até me deixa um pouco constrangido, mas fazer o quê se é a mais pura verdade?). O retrato que o cineasta realiza do cantor é profundo: nos apresenta desde à sua infância em uma cidade localizada meio que "no fim do mundo" até o momento em que aquele bom jovem cantor de folk, considerado um dos maiores porta-vozes de uma geração (rótulo que Dylan abominava, como fica bem claro no filme), se transforma em uma espécie de "roqueiro rebelde" (na verdade, é muito difícil tentar definir em pequenos termos como esse "roqueiro rebelde" um artista tão complexo e genial como Dylan), iniciando a que talvez seja a grande fase de sua carreira (simplesmente porque Highway 61 Revisited é o melhor disco do mundo e Bringing it All Back Home é fácil um dos quinze maiores). É sempre muito detalhista, e o material de raridades, sejam fotos ou videos, coletado é impressionante, de fazer qualquer fã de Dylan cair pra trás (e o melhor de tudo é que a excepcional edição em um DVD duplo - aliás, meu aniversário está chegando e aceito de presente - nos entrega ainda inúmeros extras e registros de shows igualmente relevante). Scorsese também consegue com uma enorme competência apresentar um retrato sempre diversificado da figura do músico, um estudo que nunca pretende desvendar o seu enigma e sim preservá-lo: temos aqui o Bob Dylan-mito, o Bob Dylan-canto-de-protesto, ou simplesmente o Bob Dylan-ser-humano, aquele que parece totatalmente assustado quando recebe uma proposta de uma grande gravadora, ou aquele cara meio solitário e introspectivo e cansado da "cena", da "fama"... enfim, o retrato é múltiplo, complexo, e o que mais impressiona é que ainda consegue traçar um paralelo extremamente convincente entre as transformações do nosso protagonista e as mudanças socio-politico-culturais ocorrentes na época (algo que O Gangster, por exemplo, adoraria ter feito com sua trama, mas infelizmente não tinha nenhum Marty por trás). Tudo isso reunido em uns 200 minutos que, acreditem ou não, passam voando (de qualquer modo, recomendo uma pausa para respirar, comer biscoito e tirar água do joelho entre as duas partes em que o documentário é dividido). E se iniciei este texto com um clichê, termino com outro: "No Direction Home" é obrigatório para qualquer um que tenha um mínimo de interesse na carreira Dele, Bob Dylan. Pra ficar na cabeceira.

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