domingo, 3 de fevereiro de 2008

Juno

(2007, Jason Reitman)



O início do filme possui uma afetação e clichês indie o suficiente para me incomodar: texto "esperto", rápido, menções indiretas à histórias em quadrinhos, e uma música folk bem leve, bem "twee" tocando ao fundo da grande maioria das cenas (parece, como minha mãe acertadamente observou, um episódio de Gilmore Girls, o que não é necessariamente ruim - de qualquer modo, conheço apenas alguns episódios da série, então não entremos em uma discussão aprofundada do assunto). Fora isso, uma protagonista que parece virar auto-caricatura de tã cínica(zinha), de tanto ter respostas ácidas na ponta da língua. Isso, vale ressaltar, não passava de primeira impressão, e corretamente consegui com que tal visão não ficasse "impregnada" em minha mente, sempre disposto a observar o que aquele filme até então irregular tinha me reservado (resumindo a história: estava com boa vontade).

Com o tempo, Juno vai conquistando, e acaba por se revelar um retrato emocionado de uma adolescência interrompida com a chegada de uma grande responsabilidade, nos apresentando aos medos, angústias e questionamentos provocados pela gravidez indesejada. O texto Diablo Cody, realmente uma maravilha, vai aos poucos transformando sua protagonista de uma garota um tanto rude e sarcástica em uma personagem com momentos de pura fragilidade (a crise de choro no carro - na verdade, todos aqueles tipos que aparecem na tela parecem estar tão deslocados quanto a garota) e carisma, valendo destacar que a atuação espetacular de Ellen Page ajuda, e muito; o elenco todo, aliás, é afiadíssimo, e consegue dar um tom ainda mais natural a um texto que, sozinho, já conseguiria ser muito cristalino e inteligente (e que consegue criar diálogos maravilhosos sobre punk rock e horror gore sem nunca soar forçado). O carinho e paixão com que Cody e o diretor Jason Reitman (cuja indicação ao Oscar me parece um tanto exagerada, mas seria uma injustiça atribuir todas as qualidades do projeto à Cody) possuem para com suas personagens é algo raro de se ver, e tais sentimentos conseguem nos atingir profundamente.

No fim de tudo, Juno passa a ser adorável e doce demais (e com um terceiro ato todo muito emocionante, e uma cena final lindona) para não ser adorado.

Um comentário:

Thiago Ortman disse...

Puxa, eu estou começando a fazer uma crítica (espero que saia) sobre Juno nesse exato momento (de pura insonia), então resolvo ler suas impressões e elas acabam por ser resumidamente as mesmas que as minhas. Concordo plenamente que o filme tenha iniciado de maneira, digamos, banal... e ao que a protagonista vai ganhando maduridade a obra vai crescendo. Sem dúvida!