A primeira parte, cuja ação se concentra na viagem de trem feita pelos três irmãos e algumas paradas para visitar alguns centros importantes da Índia, deve ser a mais irregular da carreira de Anderson: aquelas suas velhas caracteristicas me pareceram até um pouco exibicionistas em certos momentos (e vocês não sabem como é difícil ter que admitir isso; logo eu, fanzaço do cara) e o humor não funcionava com a mesma eficácia (achei até forçado e fácil demais).
O que mais impressiona, no entanto, é como Viagem a Darjeeling consegue se recuperar em seus dois últimos atos: é a partir daquela cena da despedida entre o personagem de Jason Schuartzman e a comissária de bordo que o filme realmente ganha um coração. E depois disso, meus amigos, Wes Anderson nos presenteia com uma quantidade considerável de cenas realmente lindas, comoventes (posso citar também o acidente e o enterro do garotinho indiano; a conversa dos irmãos ao som da música do E
Toda quela discussão em relação à estética dos trabalhos de Anderson é sem dúvida alguma relevante, mas afirmar que são "todos iguais" (e firmar toda uma crítica negativa em torno disso não é o argumento mais convincente) me parece um pouco de má vontade também, já que as circustâncias sempre mudam: o cenário e a exploração deste em Viagem a Darjeeling são bastante singulares em sua filmografia (essa preocupação com os espaços externos, aliás, só aparece mesmo nesse e em A Vida Marinha, sendo que em Darjeeling, temos o deserto, e no outro, o oceano). Outro fator está no foco, sobre que ponto de vista a estória será contada: os dois filmes anteriores de Anderson (o já citado Steve Zissou e Os Excêntricos Tenenbauns), que também tem como peça central uma família desestruturada, são criados a partir da figura do pai, enquanto em Viagem a Darjeeling tal personagem sempre se mantém oculta, enigmática, representado apenas por um mudo Bill Murray, creditado apenas como "The Businessmen".
Agora o ponto de vista passa para os três irmãos que embarcam em uma "jornada espiritual" a ponto de conseguirem estabelecer uma maior proximidade; o problema, no entanto, é que pelo menos dois deles não estão exatamente interessados (Peter, vivido por Adrien Brody, ótimo; e Jack, interpretado por Schwartzman, outro que merece destaque), enquanto Francis (Owen Wilson - quanto à sua atuação, idem aos anteriores) segue no desejo de reencontrar a mãe. São figuras fragéis, inseguras, vivendo momentos decisivos em suas vidas e sem saber lidar com isso. Essa profundidade concedida aos protagonistas mostra que Anderson, mesmo com seus excessos estéticos (que só me incomodou mesmo na parte inicial - em toda a sua carreira, é bom deixar claro), nunca se esquece da área dramaturgica, fazendo com que cada personagem nos apresente uma faceta distinto, tornando Viagem a Darjeeling, mesmo com suas imperfeições, um trabalho extremamente acima da média.
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