Tive o prazer de ler o livro nessas minhas últimas férias, e, assim como a maioria das pessoas, fiquei realmente fascinado. Saramago tem um estilo singular de contar uma estória, irrepreensível tecnicamente, com um humor que é ao mesmo tempo mordaz e sutil, especialmente no modo como ele decide encaixar toda a crítica social e política. É tão bom que eu cheguei a pensar que é um material infilmável, principalmente porque poucos cineastas teriam tanta precisão e segurança na hora de narrar uma trama tão densas e complexas como essa. Infelizmente, acho que ainda não era a hora do Fernando Meirelles.
Mas o maior problema, no entanto, é outro: há muita simplificação. Pode ser impressão minha, mas as coisas aqui não acontecem um pouco rápido demais? Ensaio Sobre a Cegueira, o filme, passa muito longe de ser aquele estudo profundo e extremamente detalhado do ser humano que se faz presente na obra de Saramago, justamente devido a essa superficialidade. Prova disso é a pouca exploração de personagens interessantíssimos e muito importantes para a obra, como o velho da venda preta ou a mulher dos óculos escuros (além de que não se aprofunda na questão do governo ou do exército, tão bem retratada no livro - aqui só é observada de longe).
Eu não diria que foi uma decepção, já que minhas expectativas não eram lá tão altas, mas surpreende pelo fato de ser algo tão esquecível.
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