terça-feira, 30 de dezembro de 2008
In The New Year
Ainda tô devendo listas sobre os melhores filmes do ano, mas logo após voltar da minha viagem (curtinha) pretendo atualizar esse blog aqui. As da melhores músicas e discos também, mas certamente vão ser prejudicadas porque tem muitas coisas que eu ainda quero ouvir (e só não fiz isso até agora porque meu mp3 quebrou - tem uma pilha acumulada aqui).
Enfim, até lá, fiquem aí com um clipezinho da melhor musica do ano, que ainda não decidi se é realmente esperançosa ou é um simplesmente um delírio bêbado. E Feliz Ano Novo pra vocês, é claro!
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
Dois Filmes de Jim Jarmusch
Dead Man (1995)
É um típico filme do Jim Jarmusch, com a diferença de vir transvertido de western, o que certamente só melhora a experiência de vê-lo. O ritmo lento e pausado que caracterizam a obra do cineasta se encaixa muito bem dentro desse gênero, mas os seus elementos são reconstruídos de modo que possam adentrar melhor no universo jarmuschiniano: o protagonista vivido por Johnny Depp, assim como o John Lurie de Estranhos no Paraíso ou o Bill Murray de Flores Partidas, se encontra completamente desorientado, uma pessoa ainda à procura de um lugar, perdidos em um ambiente desconhecido. Com o passar do tempo, Dead Man também ganha uma conotação mística, especialmente devido ao personagem do índio, cuja construção passa longe do convencional (é um homem solitário e que ajuda o protagonista a ganhar um maior conhecimento espiritual). É uma espécie de jornada existencial e também um trabalho bastante atemporal: não parece de modo algum ter sido feito em 1995, mas também passa longe de ser um faroeste dos anos 40/50. Deve estar perdido em um lugar qualquer, assim como todos os heróis de Jim Jarmusch.
Down By Law (1986)Down by Law confirma qual é o verdadeiro foco e principal obsessão do cinema de Jim Jarmusch: contar estórias sobre desajustados. Por isso mesmo se aproxima bem mais de um Estranhos no Paraíso (um belo filme, mas um tanto decepcionante - e acabou não ganhando foco nesse texto porque já o vi há bem mais tempo que esses outros dois) do que de um Dead Man, que, como disse acima, vem embalado de filme de faroeste. Por outro lado, são dois trabalhos que se aproximam bastante devido àquela atmosfera meio lírica (não sei se esta é a palvra correta, mas enfim...). Os personagens mais uma vez se encontram perdidos em uma América desolada, homens solitários buscando o "lugar certo"; são autênticos "rain dogs", "outsiders" por excêlencia (talvez por isso mesmo que a escolha do genial - tanto como músico quanto como ator - Tom Waits para viver um dos protagonistas é mais do que acertada).
Possui certas irregularidades no ritmo, mas nada de imperdoável: a primeira meia hora é toda muito boa (assim como a linda sequencia de abertura com Jockey Full of Bourbon, uma das minhas canções favoritas de Waits), mas o filme cai um pouco na parte seguinte, nas primeiras cenas na prisão, recuperando-se de vez com a entrada de Roberto Benigni, ator que geralmente acho insuportável, mas que aqui possui uma performance genial, memorável (pode não ser a alma de Down By Law, mas certamente é o coração). E é mais ou menos a partir da famosa cena do "We All Scream for Ice-Cream" (que devidamente recebeu um post só dela), quando a química entre os atores já parece consolidada e quando a relação entre filme-espectador já é completa, Down by Law se torna pra mim um daqueles filmes que te deixam totalmente absorvidos em todo aquele universo criado, uma sensação de bem-estar muito rara de se sentir (especialmente na vida real, é claro).
Para completar, temos ainda uma bela trilha sonora composta por John Lurie, também interpretando um dos papéis principais, fotografia lindona de Robby Muller, colaborador de Jarmusch em outros filmes como Estranhos no Paraíso, e um plano final que é realmente perfeito.
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
Cláudio Assis
Baixio das Bestas (2007)
É muito provavelmente o mais polêmico cineasta brasileiro em atividade, seja pelo forte conteúdo de seus filmes ou pelas suas declarações (algumas estúpidas, outras hilárias – talvez justamente por serem estúpidas)
Amarelo, sua estréia, funciona como uma alegoria, com alguns personagens que parecem saídos de algum sonho maluco (ou de Trópico de Câncer, do Henry Miller – especialmente naquela parte sensacional em que dois personagens chegam na “casa de loucos”), assumidamente caricatos. Retira o humor (por vezes doentio) do grotesco, criando um retrato realmente singular do brasileiro médio, com uma representação extremamente viva e pulsante do cotidiano. Talvez seja justamente essa irreverência que o distancie do Baixio das Bestas, que entra mais no território da denúncia barata. As caricaturas, agora, parecem ser levadas a sério, como se esta fosse o relato mais fiel da “realidade” (até personagens falsamente ambíguos, como o avô – que reclama da falta de moral do mundo ao mesmo tempo em que explora sua filha (e neta, diga-se de passagem) – acabam se revelando apenas extremamente rasos). Todo o discurso soa apenas reducionista, simplificado e limitado, especialmente ao retratar a classe média. O choque é fácil e toda a sua linguagem me parece mais infantil do que “revoltada”.
domingo, 14 de dezembro de 2008
Oscar 2010
Mas, em compensação, toda a corrida para o prêmio seria bem menos emocionante que a desse ano ou a do ano anterior...
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
Sobre as Indicações do Globo de Ouro
Pois é, hoje pela manhã foram anunciados os indicados ao Globo de Ouro, e, mesmo que o prêmio já não seja mais um grande termômetro para o Oscar, o completo fracasso de Milk aqui, que ficou apenas com uma indicação para o Sean Penn em Ator-Drama (aliás, os cinco concorrentes dessa categoria tem grandes chances de serem os mesmos do Oscar - talvez saindo Di Caprio para a entrada de Clint), pode de certo modo influenciar negativamente, apesar de que não se pode de modo algum descartá-lo. Talvez seja o filme de Van Sant o Na Natureza Selvagem desse ano, ao contrário do que disse no post abaixo, já que Slumdog Millionarie (que ficou mesmo entre os indicados de Filme-Drama e não os de Comédia/Musical, como eu pensava - o mesmo aconteceu com O Casamento de Rachel, o que muito provavelmente o prejudicou) confirma seu favoritismo (assim como Benjamin Button - com Revolutionary Road e Frost/Nixon demonstrando serem também fortes concorrentes). Gran Torino (indicado apenas em Canção), The Wrestler (que, suspeito, não entrará na categoria principal do Oscar) e Doubt também foram excluídos, sendo que esse último entrou em outras 5 categorias (emplacando inclusive duas atrizes coadjuvantes); nenhum deles, no entanto, pode ser deixado de lado. Outra surpresa foi a inclusão do novo filme do Stephen Daldry, The Reader, do qual eu nem sabia da existência, crescendo também para o Oscar.
Agora, fiquei muito feliz em ver que não só o Robert Downey Jr. como também o Tom Cruise foram lembrados pelo Trovão Tropical, e a sua exclusão na categoria principal de Comédia-Musical e a entrada de Mamma Mia! me deixa um pouco perplexo. Aliás, nessa categoria me surpreendeu também a ausência de Wall-E, com In Bruges também concorrendo (assim como Collin Farrel e Brendan Glesson em Melhor Ator, a categoria mais louca desse ano), sendo que o favorito me parece ser mesmo o filme de Mike Leigh, Happy Go-Lucky, que possivelmente levará também para casa o prêmio de Melhor Atriz para Sally Hawkins.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Globo de Ouro 2008
Ao que tudo indica, a corrida para o Oscar desse ano será tão emocionante e divertida de se acompanhar como a do ano passado. Já começam a ser divulgados os prêmios que são os principais termômetros pra a premiação, como o National Board of Review, e nesta quinta saem os indicados para o Globo de Ouro. Pensei em fazer uma lista de apostas para todas as categorias, mas é um prêmio tão abrangente que realmente fica difícil prever os indicados em cada umas das categorias.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Filmes de Novembro
Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992, Paul Verhoeven) - * * * *
Snow Angels (2007, David Gordon Green) - * * *1/2
Amarelo Manga (2002, Cláudio Assis) - * * *1/2
Prazeres Desconhecidos (Ren Xiao Yao, 2002, Jia Zhang-Ke) - * * *1/2
Uma Garota Dividida em Dois (La Fille Coupée en Deux, 2007, Claude Chabrol) - * * *1/2
Quantum of Solace (2008, Marc Forster) - * *
007 Contra o Satânico Dr No (Dr. No, 1962, Terence Young) - * * *
Vicky Cristina Barcelona (2008, Woody Allen) - * * *1/2
Arca Russa (Russkiy Kovcheg, 2002, Aleksandr Sokurov) – * *1/2
À Meia Noite Levarei sua Alma (1964, José Mojica Marins) – * * * *
Guerra Conjugal (1975, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *1/2
Os Inconfidentes (1972, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *
Beijo na Boca, Não (Pas Sur la Bouche, 2003, Alain Resnais) – * * *
Elogio ao Amor (Éloge de L'amour, 2001, Jean-Luc Godard) – * * * *1/2
Ei, Meu Irmão e Nossa Namorada (Dan in Real Life,2007, Peter Hedges) – * * *1/2
O Conformista (Il Conformista, 1970, Bernardo Bertolucci) - * * * *
sábado, 29 de novembro de 2008
Para Fábio Assunção
Eu assubo nos aro, vou brincar no vento leste
A aranha tece puxando o fio da teia
A ciência da abeia, da aranha e a minha
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, viu?
Muita gente desconhece
Muita gente desconhece, olará, tá?
Muita gente desconhece
A lua é clara, o sol tem rastro vermelho
É o lago um grande espelho onde os dois vão se mirar
Rosa amarela quando murcha perde o cheiro
O amor é bandoleiro, pode inté custar dinheiro
É fulô que não tem cheiro e todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, viu?
Todo mundo quer cheirar
Todo mundo quer cheirar, olará, tá?
Todo mundo quer cheirar
Na Asa do Vento, de Caetano Veloso (escrita por João do Vale e Luiz Vieira). Dedicada também a Maradona e a todos os políticos desse nosso Brasil.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
La Belle Personne
Se comparado aos seus dois trabalhos anteriores,
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Dois Filmes de Albert Lamorisse
O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953)
AVISO: Alguns spoilers no parágrafo sobre O Balão Vermelho.
Desconhecia completamente o nome de Albert Lamorisse antes de que começasse a ser exibido pelo Brasil as cópias de dois famosos médias-metragens, ambos premiados em Cannes e que funcionam muito bem como sessão dupla (o modo como tem sido exibidos, aliás), especialmente devido a proximidade entre seus temas, com ambos tecendo um retrato muito delicado do universo infantil.
sábado, 15 de novembro de 2008
Novo Mundo
Respiro já era um belo filme, mas, mesmo que Emanuele Crialese já demonstransse ser um talento promissor, não espearia que seu filme seguinte fosse tão maravilhoso como esse Novo Mundo. Há uma evidente compaixão e afeto por todos aqueles personagens ao mesmo tempo confusos e fascinados por todas as aparentes oportunidades que o tal mundo novo permite. É um projeto bastante pessoal e sempre muito delicado, feito sob as perspectivas dos imigrantes. A maturidade do cineasta é algo que realmente surpreende, não apenas no lado dramaturgico como também do técnico: poderia cair muito bem no mero exibicionismo, como ocorre com diversos trabalhos de estrutura parecida (tipo Flanders, do Bruno Dumont), mais lentos e conteplativos, mas o que Criasele demonstra é ao mesmo tempo virtuosismo e segurança, nos apresentando imagens puras, cristalinas. Dois belos exemplos de seu talento nessa área: o plano em que mostra a partida do navio, um dos momentos mais embláticos do filme, quando os viajantes rompem de vez (ao menos fisicamente) os laços com suas raízes; a outra é aquela espécie de visão geral do "hospital", ao som de "I'm Feeling Good", uma parte muito curta, mas que chama bastante a atenção. Interessante também notar que Novo Mundo se distancia muito do melodrama convencional, especialmente em umas passagens surreais, como as do legumes gigantes ou o banho de leite (algo que me lembrou, aliás, de Em Busca da Vida, do Jia Zhang-Ke, outro grande filme). Cena final também é de uma beleza
extraordinária.
sábado, 8 de novembro de 2008
A Promessa
Jean Pierre & Luc Dardenne parecem fazer cinema com um principal (único?) objetivo: a de nos apresentar pequenas estórias sobre pessoas comuns vivendo situações extremas, fazendo um estudo detalhista e objetivo sobre seus personagens, e sempre com uma câmera que faz questão de estar próxima a eles, de não perder um gesto ou um olhar. Alguns, no entanto, podem afirmar que a dupla se repete, que se entrega a fórmulas; sim, talvez eles estejam certos, já que as semelhanças existentes entre "A Promessa", "A Criança" e "O Filho" (os que vi deles; falta apenas Rosetta - e não gostei desse último da primeira vez que o vi, e obviamente tenho que revê-lo) estão longe de ser poucas: além de atenderem à "regra" que citei no início, todos estes três nos apresentam conflitos que se relacionam a pai e filho: em "A Criança", o pai adolescente precisa amadurecer para cuidar do filho recém-nascido; em "O Filho", um pai se confrontava com o assassino de seu filho. Mas o que torna cada filme especial é como e sobre qual prisma eles decidem explorar a situação.
Em "A Promessa" (e agora paro com as comparações e falarei mais sobre o filme em questão, prometo), filho (Jérémie Renier, protagonista de "A Criança") e pai (Olivier Gourmet, de O Filho) trabalham com o negócio de imigrantes ilegais, até que um dos "empregados" morre acidentalmente, e é nessa hora que o filme "explode" (essa introdução seguida de algo que mudará a vida dos personagens é bem típica deles também). O que sempre é explorado, desde o início, é a cumplicidade existente entre o pai e o filho; a todo momento os Irmãos Dardenne se interessam por construir um panorama geral desta relação (o trabalho em conjunto, as brigas, mas também os momentos de amizade, etc.) e, após o tal acontecimento, nos mostra a decomposição dessa cumplicidade, devido especialmente ao choque de interesses. E é aí que "A Promessa" se aproxima muito do principal tema de "A Criança" (foi mal, voltei às comparações): o amadurecimento. O personagem do filho, para tentar cumprir a promessa feita ao empregado pouco antes deste morrer, precisa assumir responsabilidades e contrariar ordens do pai para cumprir esse objetivo (e até abre mão das brincadeiras com seu kart). Essa trajetória é contada sempre de modo cru e sufocante pelos irmãos, sem se utilizar de nenhum tipo de trilha sonora, e extraindo atuações bastante naturais de todo o elenco, provando que às vezes uma câmera na mão e uma idéia na cabeça pode ser suficiente. E o modo como decidem finalizar esta pequena grande estória traz uma mensagem implícita: a de que, mesmo que tenham parado de acompanhar a vida daqueles personagens, a vida deles continua.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Filmes de Outubro
Os Anjos Exterminadores (Les Anges Exterminateurs, 2006, Jean-Claude Brisseau) - ****
Cleópatra (2008, Julio Bressane) - ***1/2
c. O Balão Vermelho (Le Ballon Rouge, 1956, Albert Lamorisse) - ****
c. O Cavalo Branco (Crin Blanc: Le Cheval Sauvage, 1953, Albert Lamorisse) - ***
c. A Propósito de Nice (À Propos de Nice (1930, Jean Vigo) - ****
c. Taris ou a Natação (Taris, Roi de L'eau, 1931, Jean Vigo) - ***1/2
c. Zero em Comportamento (Zéro de Conduite: Jeunes Diables au Collège, 1933, Jean Vigo) - ****
Stroszeck (1977, Werner Herzog) - ****
Canções de Amor (Les Chansons D'Amour, 2007, Christophe Honoré) - ****
O Segredo do Grão (La Graine et le Mulet, 2007, Abdel Kechiche) - ***
Rebecca (1940, Alfred Hitchcock) - ***1/2
As Luzes de um Verão (Mua he Chieu Thang Dung, 2000, Anh Hung Tran) – ***1/2
Rebobine, Por Favor (Be Kind Rewind, 2008, Michel Gondry) – **1/2
Baixio das Bestas (2007, Cláudio Assis) - **
sábado, 25 de outubro de 2008
Rebobine, Por Favor
No total é um filme extremamente irregular e até inócuo, mas é meio difícil não se divertir. É um trabalho de uma piada só que parece ir se esgotando com o tempo, além de que às vezes parece que é mero veículo para Gondry exercitar suas obssessões, que em momentos parece mais com tiques do que qualquer outra coisa. Não há exatamente uma base sólida (como acontecia com Brilho Eterno, por exemplo), e talvez isso o torne limitado. No entanto, há certos pontos que faz com que eu me esqueça (peo menos por um tempo) dessas fragilidades.
Uma delas talvez seja uma certa semelhança com o Trovão Tropical. Não apenas porque satiriza determinados cinemas de gênero (se bem que o brilhante filme do Stiller é bem mais abrangente nesse sentido), mas porque em determinados momentos "Rebobine, Por Favor" parece se encaixar no perfil dos buddy movies de um Judd Apatow ou do Frat Pack. Não duvido que o filme foi feito quase todo a partir de improvisos, com um elenco perfeito extremamente livre (cenas como aquela em que o Jack Black vestido de Robocop dá autógrafos na locadora são bons exemplos disso). Outro grande mérito é uma certa nostalgia que impregna no filme, que às vezes acaba funcionando como uma versão do cinema feito nos anos 80, captando também as transformações ocorridas na indústria cinematográfica atual (na verdade, dialoga mais mesmo com a decadência das videolocadoras - a do filme meio que se recusa a se modernizar, tendo em seu acervo apenas fitas VHS). Acaba funcionando também porque é sempre legal ver Black interpretando a si mesmo e porque Mos Def não está tão irritante quanto em 16 Quadras.
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Canções de Amor
Assim como Em Paris, Canções de Amor faz uma espécie de retorno ao cinema da nouvelle vague francesa, e talvez por isso o filme possa ser considerado como mera reciclagem, um tipo de cinema superficial e forçado. De fato, são grandes essas armadilhas que Canções de Amor pode cair, mas sorte que estamos diante de um projeto de um cineasta que parece ter um talento único de conduzir uma narrativa, fazendo com que a experiência flua naturalmente, com uma liberdade muito grande. É um filme que não se prende a um gênero (no caso, o musical), assim como o seu retrato do amor é universal (felizmente, porque aí podemos ter Clotilde Hesme - mulher mais bonita do mundo? - e Ludivine Sagnier - infelizmente muito vestida - dividindo uma mesma cama e trocando carícias - espero mesmo que nenhuma feminista leia esse blog). O melhor de tudo é que Honoré faz tudo parecer muito despretensioso, sem fazer alarde com nada, um cinema sincero, completamente apaixonado (novamente, temos aqui mais uma vez o filme evidentemente por um cinéfilo).
Dessa vez, temos uma história dividida em três partes: na primeira, "A Partida", temos um trabalho deliciosamente leve, agradável de se assistir, mas tal sensação é quebrada depois de uma reviravolta inesperada na trama. A partir daí as partes que se seguem ("A Ausência" e "O Recomeço") ganham um tom mais melancólico, às vezes até bastante amargo, comprovando que Honoré sabe balancear perfeitamente temas mais densos com outros muitas vezes cômicos. É algo já presente em "Em Paris", mas aqui a narrativa é mais redonda e enxuta. E as canções também são tão boas que nem o mala do Louis Garrel consegue estragar.
Quer baixar a trilha? Clica aqui, bicho.
sábado, 11 de outubro de 2008
A Vida é Dura
É um tanto decepcionante em sua primeira meia hora (talvez porque qualquer coisa que tenha o nome do Judd Apatow envolvido já me faz criar altas expectativas – e aqui ele não só produz como roteiriza), com uma idéia muito interessante sendo abordada de modo previsível e até mesmo limitada. Tal irregularidade desaparece (ao menos em parte) justamente em sua segunda parte, quando decide expandir seus territórios: o alvo da sátira não passa a ser apenas os clichês das cine biografias (Ray e Johnny e June são os mais focalizados), como também às tendências do mundo musical em cada época. Então alguns momentos fracos de seu início podem muito bem serem compensados por uma tiração de sarro genial com o Bob Dylan, ou então pela viagem em LSD do protagonista com os Beatles, além da menção indireta a Brian Wilson e seu Pet Sounds. É bom também deixar claro que Walk Hard (foi mal, mas o título em português não me desse bem) poderia não ser nem metade do que é caso não tivesse um grande ator como o John C. Reilly, que parece ter ganho o devido reconhecimento que merece há tanto tempo.
É um filme com problemas, mas ainda assim merece entrar na lista dos bons lançamentos que infelizmente foram lançados diretamente nas locadoras.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Filmes de Setembro
O Nevoeiro (The Mist, 2007, Frank Darabont) - * * * *
Zoolander (2001, Ben Stiller) - * * *1/2
Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008, Fernando Meirelles) - * *1/2
Trovão Tropical (Tropic Thunder, 2008, Ben Stiller) – * * * *1/2 (ou seriam * * * *?)
Mamma Mia (2008, Phyllida Lloyd) – *
Hellboy 2: O Exército Dourado (Hellboy 2: The Golden Army, 2008, Guillermo Del Toro) – * * *1/2
O Amor Não tem Regras (Leatherheads, 2008, George Clooney) - * * *
Três Vezes Amor (Definitely Maybe, 2008, Adam Brooks) - * *1/2
Linha de Passe (2008, Walter Salles e Daniela Thomas) - * * *1/2
Clube dos Cafajestes (Animal House, 1978, John Landis) - * * * *
/Mal dos Trópicos/ (Sud Pralad, 2004, Apichatpong Weerasethakul) - N/A
Irmãos Cara-de-Pau (The Blues Brothers, 1980, John Landis) - * * * *
A Vida é Dura (Walk Hard: The Dewey Cox Story, 2007, Jake Kasdan) - * * *
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
Em Paris
A primeira impressão que o filme passa é a de que foi feito sob encomenda para virar mais um “queridinho cult”, idolatrado pelas meninas francesinhas que usam all star, oclinhos de borda grossa, e camisas que orgulhosamente estampam a cara da Amélie Poulain. A introdução aqui é feita por meio de um Louis Garrel falando diretamente com o espectador (ou melhor, para a câmera), em um tom meio blasé que me soa muito forçado. Parecia que o que viria a seguir é um trabalho um tanto calculado, uma colcha de retalhos que não convence.
É uma impressão apressada que se desfaz especialmente a partir do momento em que o filme passa a focar mais o relacionamento dos dois irmão (um deles interpretado pelo já citado Garrel, que pra mim não fede nem cheira, e o outro, pelo Romain Duris, excelente, talvez a melhor interpretação de sua carreira – e olha que eu tenho uma implicância meio besta com ele). Nesse ponto, acho que é um dos trabalhos mais honestos e carinhosos ao retratar o amor fraternal (aliás, todo o filme faz um retrato de uma família que me soa extremamente verdadeiro). Honoré parece sentir um prazer imenso ao filmar essas pequenas coisas, banalidades mesmo (90% das cenas com o Garrel fazem esse estilo, mas são bobagens deliciosas de se ver), mas também possui sensibilidade e talento suficiente para trabalhar com temas maiores, mais dolorosos (te faz rir e chorar ao mesmo tempo, por exemplo).
Talvez seja realmente um pastiche em alguns momentos, mas ao mesmo tempo tem tanta leveza e densidade (aquele monólogo feito pelo Duris para uma das namoradas do Garrel é sensacional) que muitos outros filmes por aí. Honoré é evidentemente influenciado por toda essa turma da nouvelle vague francesa (François Truffaut e Eric Rohmer me vieram à cabeça em muitos momentos), mas não é algo que pesa contra o filme. É cinema feito por um cinéfilo, e creio que por isso que Em Paris consiga estabelecer uma relação tão boa com o espectador minimamente interessado por cinema.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
Mais ou menos Mal dos Trópicos
Finalmente tive a oportunidade de rever um dos filmes que mais me deixaram intrigados, dessa vez no cinema (com uma cópia muito vagabunda, mas não vou reclamar muito, pois só a iniciativa exibir um filme desses por aqui já é boa o suficiente para que eu fique de bico fechado), mas não do jeito que eu queria, por certas razões: a primeira foi o exaustivo caminho percorrido entre minha casa e o cinema, com um tráfego monstruoso, demorando no total uns 50 minutos para completar o percurso (e me fez perder uns 10 minutos de filme, o que me deixa realmente puto); no fim das contas, ainda tive que aturar o cheiro de cigarro da mulher ao lado e as pessoas mais mal-educadas que eu já vi numa sala de cinema (logo atrás de mim, conversando sem parar e rindo muito alto em determinados momentos - entre eles o do vídeo acima, o que me deixou arrasado).
No mais, ainda foi possível extrair alguma coisa, entre elas a sensação única que esse filme provoca em mim. O discurso que vou fazer pode parecer um clichê enorme ou simplesmente exagero, mas a experiência que esse filme te proporciona é sem igual. Você pode odiar ou amar (e tenho certeza que as reações ao filme vão se limitar a ficar nesses dois extremos), mas dificilmente vai se esquecer do que viu. Eu não sei se é um trabalho perfeitamente redondo, mas toda aquela segunda parte é de outro mundo, facilmente um dos momentos mais brilhantes do cinema nessa década (e putaquepariu, ainda tem aquela árvore iluminada por vagalumes)
Pretendo, então, rever mais uma vez o filme, em DivX, sim, mas sem pessoas incovenientes e cheiros de nicotina, no conforto de meu quarto.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Three Times
Daqueles filmes que se expressam melhor através das imagens que de palavras (e os diálogos são realmente curtíssimos). Hou explora profundamente os olhares e gestos dos personagens, com uma câmera agindo perfeitamente como observadora. A história é dividida em três: a primeira, passada nos anos 60, é a mais leve e otimista, e também minha favorita, disparada (com momentos que aproximam demais o filme de ser uma obra-prima); a que segue, agora em 1911, segue uma linha mais a linha de um melodrama trágico, mas o que se nota mesmo é a ousadia com que Hou decide narra-la, se apropriendo de características do cinema mudo; a última parte, nos dias atuais, talvez seja a mais introspectiva e melancólica (a que menos gostei - ou seria a que eu tive mais dificuldade?); em comum está, obviamente, o tema (o amor), e a sua atemporalidade. O que também impressiona é como Hou consegue unir estas três tramas de modo muito enxuto, homogêneo, o que falta a muitos daqueles filminhos divididos em episódios.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Alguns Trailers
O primeiro é o de Milk, novo do Gus Van Sant, e que promete muito (e aquela ópera no começo, ein?), apesar de eu ter um pouco de medo em relação à alguns aspectos (mas, ok, confio no Gus, que já nos entregou belíssimos filmes mais comerciais). Em seguida temos Miracle at Sant'Anna, novo do Spike Lee, grande cineasta (especialmente quando fica de boca fechada - caso contrário, pelo menos temos o Clint pra calá-lo, né?), e foi o trailer que me deixou mais animado. O outro é The Curious Case of Benjamin Button, do David Fincher, que nos entregou ano passado um filmão, Zodíaco (top 10 de 2007 fácil, fácil), e que, espero, vai continuar em boa fase (o belo trailer promete isso, ao menos). Por fim, temos o novo Sam Mendes, Revolutionary Road, que conta com Kate Winslet (será que por esse ela finalmente ganha um Oscar?) e Leonardo DiCaprio contracenando pela primeira vez depois de Titanic. Não é bem um trailer, na verdade, e sim um teaser retirado da televisão, com uma qualidade meio ruim, mas vale a pena pra matar a curiosidade. Pro Mendes, é a chance de se redimir do horroroso Soldado Anônimo.
Milk
Miracle at Sant'Anna
The Curious Case of Benjamin Button
Revolutionary Road
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Hellboy II: O Exército Dourado
Essa é a comprovação de que Guillermo Del Toro talvez seja o cineasta ideal para filmar histórias
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
A Comédia da Década?
"Check it out. Dustin Hoffman, 'Rain Man,' look retarded, act retarded, not retarded. Count toothpicks to your cards. Autistic, sure. Not retarded. You know Tom Hanks, 'Forrest Gump.' Slow, yes. Retarded, maybe. Braces on his legs. But he charmed the pants off Nixon and won a ping-pong competition. That ain't retarded. Peter Sellers, "Being There." Infantile, yes. Retarded, no. You went full retard, man. Never go full retard. You don't buy that? Ask Sean Penn, 2001, "I Am Sam." Remember? Went full retard, went home empty handed... "
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
Ensaio Sobre a Cegueira
Tive o prazer de ler o livro nessas minhas últimas férias, e, assim como a maioria das pessoas, fiquei realmente fascinado. Saramago tem um estilo singular de contar uma estória, irrepreensível tecnicamente, com um humor que é ao mesmo tempo mordaz e sutil, especialmente no modo como ele decide encaixar toda a crítica social e política. É tão bom que eu cheguei a pensar que é um material infilmável, principalmente porque poucos cineastas teriam tanta precisão e segurança na hora de narrar uma trama tão densas e complexas como essa. Infelizmente, acho que ainda não era a hora do Fernando Meirelles.
Mas o maior problema, no entanto, é outro: há muita simplificação. Pode ser impressão minha, mas as coisas aqui não acontecem um pouco rápido demais? Ensaio Sobre a Cegueira, o filme, passa muito longe de ser aquele estudo profundo e extremamente detalhado do ser humano que se faz presente na obra de Saramago, justamente devido a essa superficialidade. Prova disso é a pouca exploração de personagens interessantíssimos e muito importantes para a obra, como o velho da venda preta ou a mulher dos óculos escuros (além de que não se aprofunda na questão do governo ou do exército, tão bem retratada no livro - aqui só é observada de longe).
Eu não diria que foi uma decepção, já que minhas expectativas não eram lá tão altas, mas surpreende pelo fato de ser algo tão esquecível.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
Filmes de Agosto
TOTAL: 12 filmes
Assassinos por Natureza (Natural Born Killers, 1994, Oliver Stone) – *
Salvador (1986, Oliver Stone) - * * *1/2
Paixão
Bens Confiscados (2004, Carlos Reichenbach) - * * * *
Trocando as Bolas (Trading Places, 1983, John Landis) – * * * *
Encontrando Forrester (Finding Forrester, 2000, Gus Van Sant) – * * *1/2
Era uma Vez... (2008, Breno Silveira) – * *1/2
/Gerry/ (2002, Gus Van Sant) - * *1/2
The Devil and Daniel Johnston (2005, Jeff Feuerzeig) – * * * *
Falsa Loura (2007, Carlos Reichenbach) - * * *1/2
O Show deve Continuar (All That Jazz , 1979, Bob Fosse) - * * * *1/2
sábado, 6 de setembro de 2008
Sobre o Festival de Veneza
A seleção desse ano estava bem fraca e eu estranhei bastante a pouca cobertura que o festival teve na imprensa (mas talvez eu que não tenha procurado direito), mas isso não diminui a surpresa de ver o novo filme do Aronofsky ganhando, na premiação que ocorreu ainda hoje, dia 6. Eu sou possivelmente o detrator #1 dele, mas confesso que esse The Wrestler me despertou desde o início muita curiosidade, especialmente por ter o excelente Mickey Rourke (foto acima - excêntrico, não?) como protagonista e pela trama que parece se distanciar da filosofia barata do A Fonte da Vida, que é um horror (Réquiem eu acho ainda pior, aliás).
Para ler mais, clica aqui, bicho.
sexta-feira, 5 de setembro de 2008
Viagem a Darjeeling
A primeira parte, cuja ação se concentra na viagem de trem feita pelos três irmãos e algumas paradas para visitar alguns centros importantes da Índia, deve ser a mais irregular da carreira de Anderson: aquelas suas velhas caracteristicas me pareceram até um pouco exibicionistas em certos momentos (e vocês não sabem como é difícil ter que admitir isso; logo eu, fanzaço do cara) e o humor não funcionava com a mesma eficácia (achei até forçado e fácil demais).
O que mais impressiona, no entanto, é como Viagem a Darjeeling consegue se recuperar em seus dois últimos atos: é a partir daquela cena da despedida entre o personagem de Jason Schuartzman e a comissária de bordo que o filme realmente ganha um coração. E depois disso, meus amigos, Wes Anderson nos presenteia com uma quantidade considerável de cenas realmente lindas, comoventes (posso citar também o acidente e o enterro do garotinho indiano; a conversa dos irmãos ao som da música do E
Toda quela discussão em relação à estética dos trabalhos de Anderson é sem dúvida alguma relevante, mas afirmar que são "todos iguais" (e firmar toda uma crítica negativa em torno disso não é o argumento mais convincente) me parece um pouco de má vontade também, já que as circustâncias sempre mudam: o cenário e a exploração deste em Viagem a Darjeeling são bastante singulares em sua filmografia (essa preocupação com os espaços externos, aliás, só aparece mesmo nesse e em A Vida Marinha, sendo que em Darjeeling, temos o deserto, e no outro, o oceano). Outro fator está no foco, sobre que ponto de vista a estória será contada: os dois filmes anteriores de Anderson (o já citado Steve Zissou e Os Excêntricos Tenenbauns), que também tem como peça central uma família desestruturada, são criados a partir da figura do pai, enquanto em Viagem a Darjeeling tal personagem sempre se mantém oculta, enigmática, representado apenas por um mudo Bill Murray, creditado apenas como "The Businessmen".
Agora o ponto de vista passa para os três irmãos que embarcam em uma "jornada espiritual" a ponto de conseguirem estabelecer uma maior proximidade; o problema, no entanto, é que pelo menos dois deles não estão exatamente interessados (Peter, vivido por Adrien Brody, ótimo; e Jack, interpretado por Schwartzman, outro que merece destaque), enquanto Francis (Owen Wilson - quanto à sua atuação, idem aos anteriores) segue no desejo de reencontrar a mãe. São figuras fragéis, inseguras, vivendo momentos decisivos em suas vidas e sem saber lidar com isso. Essa profundidade concedida aos protagonistas mostra que Anderson, mesmo com seus excessos estéticos (que só me incomodou mesmo na parte inicial - em toda a sua carreira, é bom deixar claro), nunca se esquece da área dramaturgica, fazendo com que cada personagem nos apresente uma faceta distinto, tornando Viagem a Darjeeling, mesmo com suas imperfeições, um trabalho extremamente acima da média.
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
A Via Láctea
Eu poderia ter ficado muito irritado com aquele discurso repetitivo sobre o caos das cidades grandes caso esse filme de Lina Chamie não soubesse trabalhar muito bem com as paisagens de São Paulo, criando uma interação essencial entre personagem e o espaço. Também poderia ter achado pedante e pseudo-poético caso o filme não apresentasse uma paixão tão grande em experimentar cada possibilidade do Cinema, da montagem, que acaba por tornar A Via Láctea em um trabalho que pulsa, vivo, espontâneo (com isso, qualquer possibilidade de estar vendo uma egotrip foi descartada). Feito como se passasse na memória de um homem arruinado pela paranóia e obcecado com o seu relacionamento amoroso prestes a se acabar, com a confusão urbana somente dificultando seu já fraco estado mental. Vemos flashbacks, situações repetidas, às vezes com mudança de pontos de vista, uma trilha que entra e sai de repente (evocando Godard, de um modo que pode até parecer um pouco forçado), criando um anti-clímax em diversos momentos (a canção tema dos Looney Tunes, por exemplo), com uma estrutura que atinge seu máximo num belíssimo terceiro ato, quando tudo o que poderia parecer deslocado se encaixando muito bem. Tem também uma interpretação muito boa do Marco Ricca, e uma talentosa Alice Braga, mais bonita que nunca.
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Gerry
Já fazia um bom tempo que queria revê-lo, mas só fui realmente pôr esse plano em prática no último sábado. Acho que eu deveria amá-lo, pois é um tipo de cinema que na maioria das vezes me gera interesse e porque eu sou um babão do Gus Vant Sant, mas eu infelizmente não consigo enxergá-lo como algo mais que um exercício de estilo que prepara terreno para as obras-primas que viriam depois da carreira de Van Sant. Traz uma força visual que não se encontra em todo o filme, com uma fotografia espetacular do Harris Savides; aquele plano sequencia em que os dois andam feito zumbis em um deserto cada vez mais branco, enquanto o dia nasce, continua me deixando boquiaberto, mas o problema é que no miolo o filme me parece já muito esgotado. É filme de uma idéia só, levada tão ao máximo que tem momentos em que me soa só como exibicionionismo, pedantismo. É a prova de que Van Sant é um dos maiores diretores em atividade, mas que consegue fazer grandes filmes com grandes idéias quando possui uma dramaturgia mais sólida.
sábado, 16 de agosto de 2008
Cloverfield
Certamente vai ter muita gente detestando, ou no mínimo se incomodando, mas o efeito que Cloverfield causou em mim foi enorme. O formato que o filme apresenta (é todo feito a partir da ótica da câmera de um dos personagens, ou seja, a aparência é de vídeo amador - não em relação aos efeitos especiais, claro, já que não é todo dia que você pode ver a cabeça da estátua da liberdade voando) dá um tom extremamente visceral, torna a experiência clautrofóbica e sufocante, e até reiventa o que se entende por blockbuster: não é só mais um filme catástrofe com um único intuito de entregar uma diversão esquecível, segura, mas pede um maior envolvimento do espectador; na verdade, é um registro tão pessoal que fica até meio impossível não se deixar levar pela atmosfera apocalíptica apresentada pelo trabalho. Pode também ser visto como um retrato da paranóia, do pânico e do medo que se instalou na população nova-iorquina do pós-11 de setembro (e o caos que é instalado no filme pode muito bem ser uma metáfora à decadência de uma cidade). É bom também de observar que, mesmo possuindo inúmeras qualidades técnicas, Cloverfield não se foca apenas no lado estético, como também demonstra bastante preocupação com os conflitos pessoais dos personagens, e nas relações que foram esfaceladas devido ao ataque do monstro. É um filmaço.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Zabriskie Point
Sempre tive uma certa dificuldade em digerir os filmes de Antonioni, mas há algo em seus trabalhos que me deixam fascinado, o que já foi o suficiente para que eu o colocasse em posição privilegiada no meu ranking de diretores favoritos (entre os italianos, só perde mesmo pro Leone). Foi com ele que comecei a conhecer o Cinema Europeu clássico (e, aliás, não sigam meu exemplo: se iniciem com Fellini), ao assistir A Aventura com uns 12 anos de idade, filme longuíssimo, dificílimo, mas que me deixou boquiaberto (não me pergutem o por quê, é o Cinema...). O mesmo aconteceu com obras como A Noite e Profissão: Repórter, e volta a ocorrer com este Zabriskie Point.
Dentro da filmografia do homem, esse é o que certamente mais se assemelha a Blow Up, especialmente pelo fato de serem falados na lingua inglesa (a não ser que você tenha do e-mule uma versão dublada em italiano, como aconteceu comigo) e por focalizarem a contracultura da época. Em relação a este tema, Zabriskie Point se aprofunda mais, ao relatar o embate entre jovens revolucionários e policiais, mas no meio disso tudo estão presentes os assuntos que mais obcecam Antonioni: a incomunicabilidade, o tédio e a alienação no mundo moderno. Mas, se em trabalhos como O Eclipse a atenção era voltada para o universo dos adultos, o foco agora é a juventude. A América retratada por Antonioni é aquela vivendo um período de profunda transformação, e o modo com que constroi os espaços representa bem isto: de um lado temos a cidade grande, ambiente tenso e sufocante, e do outro, servindo como um perfeito contraponto, temos a infinitude do deserto, o único lugar onde os dois protagonistas conseguem exercer plenamente seus desejos de liberdade e sexo, encontrando um meio de se isolar dos conflitos existentes no mundo externo.
Não espere, no entanto, críticas ou mensagens revoltadinhas anti-sistema (sim, isso foi uma indireta para Clube da Luta), até porque a conclusão que Antonioni entrega à estória é até bastante amarga e desiludida, apesar de que aquela extraordinária e emblemática sequencia de encerramento contem uma mensagem puramente subversiva (é como se tudo o que compõe o sonho americano estivesse sendo explodido naquele exato momento, ao som de Pink Floyd), tornando Zabriskie Point um dos mais subestimados e melhores filmes do mestre italiano.
domingo, 10 de agosto de 2008
Shangri-La
E Ray Davies continua completamente lúcido. Gênio. Mestre. Cantando a melhor música do Arthur. De chorar.
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto
O único momento de sossego e felicidade que os personagens dessa estória terão está naquela cena de abertura, o sexo entre Seymour Hoffman e Marisa Tomei, um paraíso que dura apenas alguns minutos. A partir do momento que a tela escurece e o título é anunciado, “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto” transforma-se em um estudo minucioso do processo de degradação psicológica de seus personagens, que acabam por se auto-destruir meio que inconscientemente. Não há nenhum elemento que suavize a trama (lembra O Sonho de Cassandra nesse sentido, mas o filme de Allen, apesar de muito bom, não consegue possuir nem um terço da tensão desse filme do Lumet) e até aquela cena final, que por um momento sugere uma reconciliação, acaba se encerrando de modo terrivelmente amargo. O texto de Kelly Masterson (seu primeiro para os cinemas) é absolutamente brilhante e felizmente caiu nas mãos de um cineasta de extrema maturidade, que sou entregar a devida densidade ao trabalho, tornando-o algo visceral, sufocante. De início, nos faz pensar que se trata de um “filme de roubo”, e, se depender daquela primeira cena do assalto, veríamos um grande exemplar do gênero, mas “Antes que o Diabo Saiba...” deseja ir mais além, transformando-se uma espécie de tragédia familiar Shakesperiana, no mínimo quase uma obra-prima.
É também gratificante ver um filme que constrói uma narrativa fragmentada não para ser cool ou moderninho, e sim porque certamente foi o melhor meio encontrado para que pudesse ser feito um panorama geral da situação, beneficiando o desenvolvimento dos personagens. Outro grande destaque são as atuações, com um elenco todo excepcional: Seymour Hoffman é um monstro, fenomenal, e Albert Finney e o sempre subestimado Ethan Hawke não ficam atrás, ambos muito bem. Sidney Lumet, felizmente, parece continuar em grande forma.
domingo, 3 de agosto de 2008
Filmes de Julho
TOTAL: 31 filmes + 1 curta
Wall-E (Andrew Stanton, 2008) - * * * *
Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights, 2007, Wong Kar-Wai) - * *1/2
Kung Fu Panda (2008, Mark Osborne e John Stevenson) - * * *
12 Homens e uma Sentença (12 Angry Men, 1957, Sidney Lumet) - * * *1/2
Hancock (2008, Peter Berg) - * * *
Diário de uma Babá (The Nanny Diaries, 2007, Shari Spring Berman and Robert Pulcini) - * * *
Faca na Água (Nóz w Wodzie, 1962, Roman Polanski) - * * *1/2
Noites de Lua Cheia (Les Nuits de la Pleine Lune, 1984, Eric Rohmer) - * * *1/2
O Escafandro e a Borboleta (Le Scaphandre et le Papillon, 2007, Julian Schnabel) – * * *
Sonata de Outono (Höstsonaten, 1978, Ingmar Bergman) - * *1/2
O Padre e a Moça (1965, Joaquim Pedro de Andrade) - * * * *
O Poeta do Castelo (1959, Joaquim Pedro de Andrade) – * * *1/2 [CURTA]
Ritual dos Sádicos/O Despertar da Besta (1970, José Mojica Marins) – * * * * *
Filme de Amor (2003, Julio Bressane) – * * *1/2
4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (4 Luni, 3 Saptamâni si 2 Zile, 2007, Cristian Mungiu) – * *1/2
Jogo de Cena (2007, Eduardo Coutinho) – * * * *
Amantes Constantes (Les Amants Réguliers, 2005, Philippe Garrel) – * * * * *
O Garoto Selvagem (L'Enfant Sauvage, 1970, François Truffaut) - * * *1/2
Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008, Christopher Nolan) – * * *
Juventude (Sommarlek, 1951, Ingmar Bergman) – * * *1/2
O Caçador de Pipas (The Kite Runner, 2007, Marc Forster) – *1/2
Maratona do Amor (Run Fatboy Run, 2007, David Schwimmer - a.k.a. Ross) – * *
/Batman Begins/ (2005, Christopher Nolan) - * *1/2
/
Em
Dragão Vermelho (Manhunter, 1986, Michael Mann) – * * * *
Gêmeos (Dead Ringers, 1988, David Cronenberg) – * * * *1/2
Brazil (1985, Terry Gilliam) – * * * *
O Castelo Animado (Hauru no Ugoku Shiro, 2004, Hayao Miyazaki) - * * *1/2
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Hancock
Peter Berg, taí um nome que merece atenção. Ano passado nos entregou O Reino, bom filme, muito subestimado, mesmo que imperfeito, mas que já possuía o grande mérito de saber se utilizar com sucesso da câmera na mão, algo muito raro de acontecer, ainda mais depois que o estilo virou moda. Muito provável que a influência venha de Michael Mann, seu amigo próximo e produtor de seus filmes (e em Hancock faz uma ponta, como um executivo), mas creio que Berg não é um mero aprendiz do cineasta da obra-prima Miami Vice, prova disso é a série criada por ele, Friday Night Lights, que, pelo pouco que já vi, parece sim ter bastante qualidade: uma narrativa que parece seguir os padrões clássicos norte-americano, com conflitos humanos apresentados de modo muito sólido e seguro, mas com uma estética moderna (de novo a câmera na mão). E Hancock talvez seja até agora seu projeto mais ambicioso e excessivo, e bastante irregular também (quando chegar a fazer um filme todo redondo, terá grandes chances de ser um filmaço).
De qualquer modo, apesar de seus defeitos, apenas sua proposta extremamente ousada já seria suficiente parece ganhar maior destaque em relação aos demais blockbusters: Hancock quebra toda aquela mitologia feita ao redor de super-heróis, entregando-nos um protagonista odiado por todos, bêbado e vagabundo. Também não é baseado
O problema é que Hancock, depois de uma certa reviravolta, parece querer ser levado a sério, mas é raso demais para apresentar uma estrutura dramática mais sólida, profunda. O filme que até então renegava a filosofia dos quadrinhos, parace adota-la, construindo a previsível figura do herói “humano”, frágil, solitário. Até vilão aparece! E, pior, do modo mais forçado possível.
Pra quem já prestou atenção nas características do cinema de Berg (na verdade, especialmente na sua já citada série), talvez não vá se surpreender com esse rumo mais “sério” que o filme toma. Até aquelas seqüências musicadas sentimentalistas (e não digo isso no sentido pejorativo) presentes
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Melhores e Piores do semestre
MELHORES
01. Não Estou Lá, de Todd Haynes
02. Onde os Fracos Não tem Vez, de Joel e Ethan Coen
03. Antes que o Diabo Saiba que Você está Morto, de Sidney Lumet
04. Luz Silenciosa, de Carlos Reygadas
05. Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson
06. Fim dos Tempos, de M. Night Shyamalan
07. Paranoid Park, de Gus Van Sant
08. Wall-E, de Andrew Stanton
09. Sweeney Todd, de Tim Burton
10. Cloverfield, de Matt Reeves
PIORES
01. Sex and the City, de Michael Patrick King
02. 10.000 a.c., de Roland Emmerich
03. O Caçador de Pipas, de Marc Forster
04. Elizabeth: A Era de Ouro, de Shekar Kapur
05. 2 Dias em Paris, de Julie Delpy
E infelizmente eu me esqueci de Vantage Point! Entraria no lugar de 2 Dias em Paris, apesar do filme da Delpy merecer (que porre, ein?).
sábado, 26 de julho de 2008
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Batman - O Cavaleiro das Trevas
Pertenço ao grupo dos que ficaram no meio termo, logo em um filme que praticamente despertou só opiniões extremas. Já vi alguns que não gostaram, mas certamente o grupo dos que amaram, que consideram a melhor adaptação de uma HQ de todos os tempos, que ficam fazendo campanha para que Ledger ganhe o Oscar, são muito mais numerosos (é só ver o top do IMDB). Sinceramente, escrevo sobre esse novo filme do Batman apenas para não deixar passar em branco, porque já tô um pouco cansando da ovação e das discussões em torno. Respeito a opinião dos que gostam (ei, mas eu gostei! Só não tanto...), mas algumas reações me parecem até surreais, de um exagero enorme.
O que achei mais curioso é fato de ser um filme dos coadjuvantes. Christian Bale é/está péssimo, sem o menor carisma (e toda a complexidade do protagonista parece não funcionar tanto devido justamente a isso, ao meu ver), enquanto Heath Ledger, merecedor de todos os elogios, brilhante mesmo e Aaron Eckhart, ator que gosto muito, em bela performance, se mostram muito mais interessantes (assim como seus personagens - a transformação em que esse segundo passa me parece muito crível, sim). O conflito em si existente entre tais personagens é sem dúvida intenso, especialmente em seu terceiro ato, que acho todo bem bom (as cenas do navio, principalmente). Mas só isso não é o suficiente para tanto ôba-ôba em torno, até porque existem coisas que realmente me incomodo.
Uma delas são os diálogos. Alguns embates verbais funcionam, mas a maioria é feita de didatismos e frases feitas que poderiam estar no blockbuster mais vagabundo (não fica muito atrás daquela hilária versão supostamente escrita pelo Michael Bay), mas, não sei, talvez seja culpa daquela voz grossa que o Bale faz quando está disfarçado, que acaba virando auto-paródia. Outro ponto é que Christopher Nolan continua sendo pra mim só um cineasta muito medíocre. Realmente não entendo o hype que gira em torno de sua figura (ok, em relação a Amnésia eu até compreendo, um filme com uma proposta inovadora - e acho fraco justamente porque acho que não passa disso mesmo -, mas não com seus trabalhos posteriores). Muitos o elogiam por ser sóbrio, mas pra mim parece apenas insosso, sem expressão. Cita Michael Mann e Francis Coppola (?!?!), mas tecnicamente esse O Cavaleiro das Trevas só me soa no máximo ordinário. Me parece também muito equivocado essa auto-importância contida aqui, é totalmente inflado, megalomaniaco mesmo.
E pra encerrar, mais uma ênfase em Heath Ledger e Aaron Eckhart, bens o suficiente para colocar o filme em um outro patamar (apesar de ter outras coisas interessantes, como já disse). Ah, e outra ênfase em Ledger.